Fantasy & Co

O Fantasy & Co. tem nova casa

No Fantasy & Co. estamos sempre a tentar melhorar para oferecer aos nossos leitores momentos de leitura inesquecíveis. Assim, de forma a presentear os nossos leitores com uma experiência de leitura mais agradável, o Fantady & Co. mudou de casa, ganhou novas funcionalidades e uma nova cara.

Para continuarem a seguir os contos dos vários autores, basta visitarem o blogue no seu novo endereço:

http://fantasyandco.wordpress.com/

O monstro e a musa (3/10) - Pedro Cipriano


– Como é que ele se atreve a falar assim contigo? Eu exijo que o castigues imediatamente! – exaltou-se um homem oponente de cabelo grisalho, também ele sentado à esquerda de Artur. 


– Tem calma Aristides, precisamos dele vivo e inteiro. O senhor Ramos tem uma língua muito pouco domesticada, especialmente tendo em conta a sua situação precária. Agradecia que evitasse comentários jocosos enquanto estiver reunido com o concílio que rege este castro. Não se esqueça que temos os restantes membros da sua expedição como reféns. 

– Não sei porque é que me está a perguntar isso. Só sei que a era nuclear terminou com o grande cataclismo. 

– Já irá saber os meus motivos mas, primeiro, gostaria que nos falasse das razões desse cataclismo. 

– O petróleo era um recurso finito e, quando começou a escassear, várias nações entraram em guerra pela posse das últimas reservas. O conflito agravou-se, transformando-se numa guerra mundial. Os conflitos mundiais duraram oito anos, em que vários milhões de pessoas pereceram. Não foram usadas armas nucleares, pois todos sabiam que isso poderia causar a extinção da espécie humana. Todavia, a aliança euro-asiática foi colocada numa posição delicada nos últimos estádios do conflito e decidiu usar o seu arsenal nuclear – relatou Walter. 

De seguida, levantando-se abriu os braços com as palmas da mão viradas para o chão 

– A morte desceu dos céus e o mundo antigo desapareceu, para sempre – citando a frase que era ensinada a todas as crianças 

– Óptimo, eu não teria feito melhor. Deixe-me dizer-lhe que tem excelentes dotes de orador. Agora, se não se importar, podia falar-nos um pouco do que aconteceu depois do grande cataclismo? 

– A maioria da população mundial morreu nesse dia. Nações inteiras foram apagadas do mapa. Os diversos líderes sobreviventes reuniram-se e decidiram destruir toda a tecnologia da era nuclear, de modo a evitar que algo semelhante pudesse voltar a acontecer. 

– O Homem não deve possuir nem criar meios para se auto-destruir – citou Artur, afastando algo imaginário com a mão esquerda. 

– Vejo que está bastante informado sobre o assunto... 

– Poupe-nos o comentário. Já que insiste, vou directo ao assunto. Eu pretendo que recrie uma tecnologia da era nuclear. 

Walter levantou-se impetuosamente e aproximou-se de Artur. Por um momento, perdera todo o medo, pois sentia que estava a servir um propósito maior. 

– Bem, acho que me pode matar já. Não há nada que me convença a desenvolver tecnologia proibida e tenho a certeza que todos os outros sobreviventes são da mesma opinião. Mais facilmente abdicaremos das nossas vidas do que participaremos em tal loucura – gritou, apontando o dedo a Artur. 

– Peço que se acalme – ordenou o líder, pedido, com um gesto, aos outros membros do concílio que fizessem o mesmo. – Diga-me, quais são as sete tecnologias proibidas. Sabe-as de cor? 

– Claro que sei, é a primeira coisa que nos ensinam quando entramos na Academia Imperial das Ciências – constatou Walter, admirado com a aparente calma de Artur. 

– Diga-as, em voz alta. 

– É proibido manipular núcleos atómicos, assim como realizar fissuração e fusão nuclear. É proibido desenvolver propulsão a jacto ou qualquer outro projéctil ou veículo, tripulado ou não, que exceda a velocidade do som. É proibido construir máquinas que efectuem cálculos complexos mais rápido que a mente humana. É proibido acelerar e colidir qualquer partícula atómica e sub-atómica. É proibida a criação de compostos químicos que sejam altamente inflamáveis, corrosivos, explosivos ou tóxicos, sendo a única excepção a pólvora preta. É proibido manipular cadeias de DNA e a criação e manutenção de organismos altamente infecciosos ou letais para a espécie humana e ecossistemas em geral. São proibidas experiências psicológicas com o objectivo de ler ou manipular a mente humana. Qualquer pessoa, independentemente do estatuto, que viole ou tente alguma destas regras receberá a pena capital e todos os registos do seu trabalho devem ser imediatamente destruídos. Estas são as regras para evitar que a espécie humana se auto-destrua. 

– Excelente dicção e não lhe encontrei nenhuma falha – congratulou Artur, batendo palmas. – Contudo, julgou-me mal, eu sei perfeitamente os limites. Somente sou bárbaro na vossa designação e não tenho ilusões megalómanas de poder. O que eu pretendo não irá violar nenhuma dessas regras. 

– O que é que você pretende, então? – inquiriu Walter, confuso com mais uma reviravolta. 

A face de Artur abriu-se num sorriso, enquanto se levantava e fazia sinal ao concílio para o imitar. 

– Eu vou deixar que você próprio descubra. Isto é, vou-lhe mostrar o problema e você irá sugerir uma solução – anunciou o líder, apontando para a saída. 

– O que o leva a crer que eu irei trabalhar para si? – hesitou Walter, mantendo a sua posição. 

– Já tivemos a conversa das alavancas uma vez, não julgo que seja necessário repeti-la. Acho que o próprio problema poderá ser um estímulo importante. Agora siga-me, tenho a certeza que a curiosidade o está a afectar mais do que queria. 

Saíram do palácio e enveredaram pela rua principal. Apesar de ser hora de ponta, a multidão abria alas para os deixar passar. O inventor viu que a cidade possuía várias fontes com água corrente, apesar se encontrar num ponto alto. Ao observar o pavimento, descobriu pequenas fissuras nas extremidades da via, o que provavelmente corresponderia a esgotos. 

A conversa enigmática despertara-lhe um grande interesse. Questionava-se sobre o que é que uma cidade-estado tão avançada poderia ainda precisar. Por mais que se esforçasse, só lhe ocorria matérias de índole bélica. 

Apenas meia dúzia de soldados acompanhava a comitiva. Walter perscrutava cada face e cada beco, na esperança de poder escapar. – Caro Walter, se me permite que o trate assim, não acho que uma tentativa de fuga seja uma coisa sensata de se fazer. Para além de ser pouco provável que tenha sucesso, os outros prisioneiros sofrerão as represálias. Pense neste passeio como um presente – sugeriu-lhe Artur, entrecruzando os dedos numa atitude de auto-confiança.



Parte 2:
Parte 1:


Biscoitos da Vida Eterna - Carina Portugal


– para bruxas que querem ser imortais e gordinhas –


Ingredientes:

Meia dúzia de aventureiros;
200 g de mel de urtiga;
1 chávena de extracto de mandrágora;
4 a 5 ovos de fénix;
1kg de farinha de trigo bolorenta;
1 colher de chá de fungos pulverizados;
1 colher de chá de pó de unhas-de-donzela;
1 chávena de sangue de unicórnio;
Raspa das escamas de um dragão.


Obtenção dos Ingredientes:

Sente-se à porta da sua bonita e acolhedora casa a fazer tricô, enquanto aguarda as presas. Quando algum jovem bem encorpado passar por si, meta conversa, num tom de avozinha, e certifique-se de que é um aventureiro experimentado. Depois de obtida a confirmação, lance-lhe um feitiço de controlo mental. Faça isto com vários, já que alguns podem morrer pelo caminho e convém ter sempre de reserva.

Quando ele estiver sob efeito do feitiço, ordene-lhe que vá roubar mel às colmeias da Bruxa Aurélia, enquanto ela estiver muito distraída a ver “As Tardes da Bruxa Jullie” – ela é famosa pela sua gigantesca plantação de urtigas. Se ele não voltar dentro de um dia, envie outro aventureiro, e assim sucessivamente (o mesmo se aplica com a obtenção de outros ingredientes).

Quando ele voltar, ordene-lhe para tirar da dispensa aquela farinha podre que está lá há séculos e diga-lhe para ir ao quintal arrancar duas mandrágoras e meia dúzia de cogumelos, que o seu reumático não é propício a esse género de tarefa. Ele que pulverize os cogumelos e que esmague as mandrágoras num almofariz, até não mexerem sequer uma raiz, e que as deixe a repousar durante uma semana.

Enquanto isso, envie-o até ao topo da montanha cujo pico toca o céu. Aí, ele encontrará o ninho de uma fénix. Que roube o único ovo existente. Se não houver ovo, ele que vá até ao próximo pico, e assim sucessivamente, até arranjar os cinco.

Para a demora não ser grande, envie um segundo aventureiro para o bosque, em busca de um unicórnio. Ele que o capture, de preferência sem o matar, e recolha uma chávena do seu sangue, ao bater das 12 horas de uma noite de lua cheia.

Quando o vendedor ambulante passar junto da sua casa, compre-lhe um frasco de pó de unhas-de-donzela. É mais prático do que enviar um aventureiro para ir arrancar unhas, até porque, para um homem, a definição de “donzela” pode ser vasta…

Por fim, o ingrediente mais difícil de obter. Envie um dos seus aventureiros em busca de um dragão. Se achar que o seu homem não é suficientemente bom, envie vários – enquanto alguns viram churrasco, e outros são empalados pelos espinhos, um deles há-de conseguir trazer uma escama.

Preparação:

Numa taça grande, junte os ovos de fénix com o mel de urtiga e o sangue de unicórnio e bata bem. Se não tiver força, peça a um aventureiro para bater por si.

Depois, junte o extracto de mandrágora, o pó de unhas-de-donzela e a raspa de escama de dragão, e de seguida adicione os fungos pulverizados e vá juntando a farinha bolorenta aos poucos até ficar consistente para moldar.

Faça pequenas bolas, e pincele com gema de ovo, para posteriormente colocar num tabuleiro untado de azeite e levar ao forno bem quente até os biscoitos ficarem dourados.

Tire-os do forno e deixe-os arrefecer longe do alcance do seu gato. Quando comer o primeiro biscoito, irá começar logo a sentir efeitos de rejuvenescimento. Se os aventureiros ainda estiverem por aí, aproveite e brinque um pouco com eles.

Notas Finais:

– Antes de enviar o aventureiro, verifique se não tem os ingredientes na dispensa.

– Ter cuidado para não desperdiçar muitos aventureiros, porque estes estão em vias de extinção e são uma espécie protegida.