tag:blogger.com,1999:blog-56014102842504021592024-03-13T18:39:07.174+00:00Fantasy & CoPedro Pereirahttp://www.blogger.com/profile/16237610875767630532noreply@blogger.comBlogger112125tag:blogger.com,1999:blog-5601410284250402159.post-25307644027556807822013-03-10T21:30:00.000+00:002013-03-10T21:34:13.492+00:00O Fantasy & Co. tem nova casa<span style="background-color: black; color: white;">No Fantasy & Co. estamos sempre a tentar melhorar para oferecer aos nossos leitores momentos de leitura inesquecíveis. Assim, de forma a presentear os nossos leitores com uma experiência de leitura mais agradável, o Fantady & Co. mudou de casa, ganhou novas funcionalidades e uma nova cara. </span><br />
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span>
<span style="background-color: black; color: white;">Para continuarem a seguir os contos dos vários autores, basta visitarem o blogue no seu novo endereço: </span><br />
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span>
<a href="http://fantasyandco.wordpress.com/"><span style="background-color: black; color: white;">http://fantasyandco.wordpress.com/</span></a>Pedro Pereirahttp://www.blogger.com/profile/16237610875767630532noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5601410284250402159.post-31982871230281839452013-03-07T21:30:00.003+00:002013-03-07T21:32:13.797+00:00O monstro e a musa (3/10) - Pedro Cipriano<br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– Como é que ele se atreve a falar assim contigo? Eu exijo que o castigues imediatamente! – exaltou-se um homem oponente de cabelo grisalho, também ele sentado à esquerda de Artur. </span></div>
<span style="background-color: black; color: white;"></span><br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<span style="background-color: black; color: white;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;">– Tem calma Aristides, precisamos dele vivo e inteiro. O senhor Ramos tem uma língua muito pouco domesticada, especialmente tendo em conta a sua situação precária. Agradecia que evitasse comentários jocosos enquanto estiver reunido com o concílio que rege este castro. Não se esqueça que temos os restantes membros da sua expedição como reféns. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;">– Não sei porque é que me está a perguntar isso. Só sei que a era nuclear terminou com o grande cataclismo. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;">– Já irá saber os meus motivos mas, primeiro, gostaria que nos falasse das razões desse cataclismo. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;">– O petróleo era um recurso finito e, quando começou a escassear, várias nações entraram em guerra pela posse das últimas reservas. O conflito agravou-se, transformando-se numa guerra mundial. Os conflitos mundiais duraram oito anos, em que vários milhões de pessoas pereceram. Não foram usadas armas nucleares, pois todos sabiam que isso poderia causar a extinção da espécie humana. Todavia, a aliança euro-asiática foi colocada numa posição delicada nos últimos estádios do conflito e decidiu usar o seu arsenal nuclear – relatou Walter. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;">De seguida, levantando-se abriu os braços com as palmas da mão viradas para o chão </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;">– A morte desceu dos céus e o mundo antigo desapareceu, para sempre – citando a frase que era ensinada a todas as crianças </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;">– Óptimo, eu não teria feito melhor. Deixe-me dizer-lhe que tem excelentes dotes de orador. Agora, se não se importar, podia falar-nos um pouco do que aconteceu depois do grande cataclismo? </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;">– A maioria da população mundial morreu nesse dia. Nações inteiras foram apagadas do mapa. Os diversos líderes sobreviventes reuniram-se e decidiram destruir toda a tecnologia da era nuclear, de modo a evitar que algo semelhante pudesse voltar a acontecer. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;">– O Homem não deve possuir nem criar meios para se auto-destruir – citou Artur, afastando algo imaginário com a mão esquerda. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;">– Vejo que está bastante informado sobre o assunto... </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;">– Poupe-nos o comentário. Já que insiste, vou directo ao assunto. Eu pretendo que recrie uma tecnologia da era nuclear. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;">Walter levantou-se impetuosamente e aproximou-se de Artur. Por um momento, perdera todo o medo, pois sentia que estava a servir um propósito maior. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;">– Bem, acho que me pode matar já. Não há nada que me convença a desenvolver tecnologia proibida e tenho a certeza que todos os outros sobreviventes são da mesma opinião. Mais facilmente abdicaremos das nossas vidas do que participaremos em tal loucura – gritou, apontando o dedo a Artur. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;">– Peço que se acalme – ordenou o líder, pedido, com um gesto, aos outros membros do concílio que fizessem o mesmo. – Diga-me, quais são as sete tecnologias proibidas. Sabe-as de cor? </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;">– Claro que sei, é a primeira coisa que nos ensinam quando entramos na Academia Imperial das Ciências – constatou Walter, admirado com a aparente calma de Artur. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;">– Diga-as, em voz alta. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;">– É proibido manipular núcleos atómicos, assim como realizar fissuração e fusão nuclear. É proibido desenvolver propulsão a jacto ou qualquer outro projéctil ou veículo, tripulado ou não, que exceda a velocidade do som. É proibido construir máquinas que efectuem cálculos complexos mais rápido que a mente humana. É proibido acelerar e colidir qualquer partícula atómica e sub-atómica. É proibida a criação de compostos químicos que sejam altamente inflamáveis, corrosivos, explosivos ou tóxicos, sendo a única excepção a pólvora preta. É proibido manipular cadeias de DNA e a criação e manutenção de organismos altamente infecciosos ou letais para a espécie humana e ecossistemas em geral. São proibidas experiências psicológicas com o objectivo de ler ou manipular a mente humana. Qualquer pessoa, independentemente do estatuto, que viole ou tente alguma destas regras receberá a pena capital e todos os registos do seu trabalho devem ser imediatamente destruídos. Estas são as regras para evitar que a espécie humana se auto-destrua. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;">– Excelente dicção e não lhe encontrei nenhuma falha – congratulou Artur, batendo palmas. – Contudo, julgou-me mal, eu sei perfeitamente os limites. Somente sou bárbaro na vossa designação e não tenho ilusões megalómanas de poder. O que eu pretendo não irá violar nenhuma dessas regras. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;">– O que é que você pretende, então? – inquiriu Walter, confuso com mais uma reviravolta. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;">A face de Artur abriu-se num sorriso, enquanto se levantava e fazia sinal ao concílio para o imitar. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;">– Eu vou deixar que você próprio descubra. Isto é, vou-lhe mostrar o problema e você irá sugerir uma solução – anunciou o líder, apontando para a saída. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;">– O que o leva a crer que eu irei trabalhar para si? – hesitou Walter, mantendo a sua posição. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;">– Já tivemos a conversa das alavancas uma vez, não julgo que seja necessário repeti-la. Acho que o próprio problema poderá ser um estímulo importante. Agora siga-me, tenho a certeza que a curiosidade o está a afectar mais do que queria. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;">Saíram do palácio e enveredaram pela rua principal. Apesar de ser hora de ponta, a multidão abria alas para os deixar passar. O inventor viu que a cidade possuía várias fontes com água corrente, apesar se encontrar num ponto alto. Ao observar o pavimento, descobriu pequenas fissuras nas extremidades da via, o que provavelmente corresponderia a esgotos. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;">A conversa enigmática despertara-lhe um grande interesse. Questionava-se sobre o que é que uma cidade-estado tão avançada poderia ainda precisar. Por mais que se esforçasse, só lhe ocorria matérias de índole bélica. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;">Apenas meia dúzia de soldados acompanhava a comitiva. Walter perscrutava cada face e cada beco, na esperança de poder escapar. – Caro Walter, se me permite que o trate assim, não acho que uma tentativa de fuga seja uma coisa sensata de se fazer. Para além de ser pouco provável que tenha sucesso, os outros prisioneiros sofrerão as represálias. Pense neste passeio como um presente – sugeriu-lhe Artur, entrecruzando os dedos numa atitude de auto-confiança.</span></div>
</span><br />
<div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-AFtteLkYV3A/UTkG1ATty2I/AAAAAAAAA0A/1qlWAIqWYLA/s1600/imagem-parte3.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><span style="background-color: black; color: white;"><img border="0" height="318" src="http://3.bp.blogspot.com/-AFtteLkYV3A/UTkG1ATty2I/AAAAAAAAA0A/1qlWAIqWYLA/s400/imagem-parte3.JPG" width="400" /></span></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<span style="background-color: black; color: white;">Parte 2:</span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<span style="background-color: black; color: white;"><a href="http://fantasy-and-co.blogspot.pt/2013/03/o-monstro-e-musa-210-pedro-cipriano.html">http://fantasy-and-co.blogspot.pt/2013/03/o-monstro-e-musa-210-pedro-cipriano.html</a>
</span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<span style="background-color: black; color: white;">Parte 1:</span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<span style="background-color: black; color: white;"><a href="http://fantasy-and-co.blogspot.pt/2013/02/o-monstro-e-musa-110-pedro-cipriano.html">http://fantasy-and-co.blogspot.pt/2013/02/o-monstro-e-musa-110-pedro-cipriano.html</a>
</span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div>
<br /></div>
<iframe src="//www.facebook.com/plugins/like.php?href=http%3A%2F%2Ffantasy-and-co.blogspot.pt%2F2013%2F03%2Fo-monstro-e-musa-310-pedro-cipriano.html&send=false&layout=standard&width=450&show_faces=true&font&colorscheme=dark&action=like&height=80" scrolling="no" frameborder="0" style="border:none; overflow:hidden; width:450px; height:80px;" allowTransparency="true"></iframe>Pedro Pereirahttp://www.blogger.com/profile/16237610875767630532noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5601410284250402159.post-7658852131286663552013-03-05T21:30:00.001+00:002013-03-05T22:19:42.442+00:00Biscoitos da Vida Eterna - Carina Portugal<br />
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<i><span style="background-color: black; color: white;">– para bruxas que querem ser imortais e gordinhas –<o:p></o:p></span></i></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="background-color: black; color: white;">Ingredientes:<o:p></o:p></span></u></b></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 36.0pt;">
<span style="background-color: black; color: white;"><i>– </i>Meia dúzia de aventureiros;<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 36.0pt;">
<span style="background-color: black; color: white;"><i>– </i>200 g de mel de urtiga;<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 36.0pt;">
<span style="background-color: black; color: white;"><i>– </i>1 chávena de extracto de mandrágora;<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 36.0pt;">
<span style="background-color: black; color: white;"><i>– </i>4 a 5 ovos de fénix;<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 36.0pt;">
<span style="background-color: black; color: white;"><i>– </i>1kg de farinha de trigo bolorenta;<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 36.0pt;">
<span style="background-color: black; color: white;"><i>– </i>1 colher de chá de fungos pulverizados;<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 36.0pt;">
<span style="background-color: black; color: white;"><i>– </i>1 colher de chá de pó de unhas-de-donzela;<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 36.0pt;">
<span style="background-color: black; color: white;"><i>– </i>1 chávena de sangue de unicórnio;<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 36.0pt;">
<span style="background-color: black; color: white;"><i>– </i>Raspa das escamas de um dragão.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<b><u><span style="background-color: black; color: white;">Obtenção dos
Ingredientes:<o:p></o:p></span></u></b></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Sente-se à porta da sua bonita e
acolhedora casa a fazer tricô, enquanto aguarda as presas. Quando algum jovem
bem encorpado passar por si, meta conversa, num tom de avozinha, e
certifique-se de que é um aventureiro experimentado. Depois de obtida a
confirmação, lance-lhe um feitiço de controlo mental. Faça isto com vários, já
que alguns podem morrer pelo caminho e convém ter sempre de reserva.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Quando ele estiver sob efeito do
feitiço, ordene-lhe que vá roubar mel às colmeias da Bruxa Aurélia, enquanto
ela estiver muito distraída a ver “As Tardes da Bruxa Jullie” – ela é famosa pela
sua gigantesca plantação de urtigas. Se ele não voltar dentro de um dia, envie
outro aventureiro, e assim sucessivamente (o mesmo se aplica com a obtenção de
outros ingredientes).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Quando ele voltar, ordene-lhe
para tirar da dispensa aquela farinha podre que está lá há séculos e diga-lhe
para ir ao quintal arrancar duas mandrágoras e meia dúzia de cogumelos, que o
seu reumático não é propício a esse género de tarefa. Ele que pulverize os
cogumelos e que esmague as mandrágoras num almofariz, até não mexerem sequer
uma raiz, e que as deixe a repousar durante uma semana.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Enquanto isso, envie-o até ao
topo da montanha cujo pico toca o céu. Aí, ele encontrará o ninho de uma fénix.
Que roube o único ovo existente. Se não houver ovo, ele que vá até ao próximo pico,
e assim sucessivamente, até arranjar os cinco.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Para a demora não ser grande,
envie um segundo aventureiro para o bosque, em busca de um unicórnio. Ele que o
capture, de preferência sem o matar, e recolha uma chávena do seu sangue, ao
bater das 12 horas de uma noite de lua cheia.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Quando o vendedor ambulante
passar junto da sua casa, compre-lhe um frasco de pó de unhas-de-donzela. É
mais prático do que enviar um aventureiro para ir arrancar unhas, até porque,
para um homem, a definição de “donzela” pode ser vasta…<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Por fim, o ingrediente mais
difícil de obter. Envie um dos seus aventureiros em busca de um dragão. Se
achar que o seu homem não é suficientemente bom, envie vários – enquanto alguns
viram churrasco, e outros são empalados pelos espinhos, um deles há-de
conseguir trazer uma escama.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b><u><span style="background-color: black; color: white;">Preparação:<o:p></o:p></span></u></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Numa taça grande, junte os ovos de
fénix com o mel de urtiga e o sangue de unicórnio e bata bem. Se não tiver
força, peça a um aventureiro para bater por si.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Depois, junte o extracto de
mandrágora, o pó de unhas-de-donzela e a raspa de escama de dragão, e de
seguida adicione os fungos pulverizados e vá juntando a farinha bolorenta aos
poucos até ficar consistente para moldar.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Faça pequenas bolas, e pincele
com gema de ovo, para posteriormente colocar num tabuleiro untado de azeite e
levar ao forno bem quente até os biscoitos ficarem dourados.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Tire-os do forno e deixe-os
arrefecer longe do alcance do seu gato. Quando comer o primeiro biscoito, irá
começar logo a sentir efeitos de rejuvenescimento. Se os aventureiros ainda
estiverem por aí, aproveite e brinque um pouco com eles.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b><u><span style="background-color: black; color: white;">Notas Finais:<o:p></o:p></span></u></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<i><span style="background-color: black; color: white;">– Antes de enviar o aventureiro, verifique se não tem os ingredientes
na dispensa.<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<i><span style="background-color: black; color: white;">– Ter cuidado para não desperdiçar muitos aventureiros, porque estes
estão em vias de extinção e são uma espécie protegida.</span><o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<iframe src="//www.facebook.com/plugins/like.php?href=http%3A%2F%2Ffantasy-and-co.blogspot.pt%2F2013%2F03%2Fbiscoitos-da-vida-eterna-carina-portugal.html&send=false&layout=standard&width=450&show_faces=true&font&colorscheme=dark&action=like&height=80" scrolling="no" frameborder="0" style="border:none; overflow:hidden; width:450px; height:80px;" allowTransparency="true"></iframe>Pedro Pereirahttp://www.blogger.com/profile/16237610875767630532noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5601410284250402159.post-82852924201485575862013-03-03T21:30:00.000+00:002013-03-07T21:35:35.366+00:00O monstro e a musa (2/10) - Pedro Cipriano<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Walter foi separado dos restantes prisioneiros e forçado a caminhar até ao pôr-do-sol. Dormiu ao relento e, na manhã seguinte, prosseguiram viagem depois de lhe terem dado uma magra refeição. A marcha forçada por caminhos agrestes e inclinados estava a consumir-lhe as forças. Os bois e cavalos tinham ainda mais dificuldades, pois viam-se obrigados a carregar as pesadas peças de artilharia capturadas. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Pelos seus cálculos, estavam a penetrar cada vez mais nos territórios selvagens. Aquela faixa montanhosa ibérica separava a Pan-Germânia da Confederação, outrora chamada de Trás-os-Montes. Nunca conseguira compreender o porquê da Confederação insistir em manter aquele enclave na península ibérica quando tinha uma boa porção da América do Sul e ricos territórios em África. Os historiadores falavam de um passado comum que acontecera há quase um milénio atrás. Para além disso, até aqueles rebeldes falavam uma língua derivada do antigo português. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">O dia teria ocorrido sem incidentes, se não fosse dois dos prisioneiros terem tentado a fuga. Foram prontamente apanhados e executados sumariamente, como exemplo para os restantes. Ainda o sangue dos dois homens não tinha coagulado, já a marcha continuava. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Andaram o resto do dia e metade do seguinte, terminando a sua jornada numa cidadela, a qual se situava no topo de um planalto. Os portões abriram-se à sua chegada e os guerreiros foram recebidos com aclamações da pequena multidão. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Walter ficou maravilhado enquanto o conduziam através da cidade, a qual não era em nada primitiva. As ruas eram paralelas, estavam impecavelmente pavimentadas e encontravam-se a abarrotar com máquinas a vapor. Os edifícios eram construídos em rocha trabalhada e estavam em bom estado de conservação. Inúmeros teleféricos transportavam tanto pessoas como carga. Era admirável como uma cidade tão sofisticada poderia existir àquela altitude e aparentemente isolada de tudo o resto. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Foi levado para uma construção imponente, que deduziu ser o palácio do governador. Obrigaram-no a subir por uma estreita escada de serviço. Sem qualquer explicação, fecharam-no à chave num quarto dos andares superiores. A divisão era espaçosa e bastante melhor do que esperava. Continha uma cama, uma escrivaninha, uma cadeira, uma estante vazia e um guarda-fatos. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Sentou-se na cama e, sem dar conta, deixou-se estender nela. Adormeceu por via do cansaço, pouco depois. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Acordaram-no inesperadamente, várias horas depois, quando lhe trouxeram comida. O prato continha um pedaço de pão, um bife e alguns vegetais cozidos a vapor. Estava esfomeado, de modo que não levantou objecções quanto à qualidade do prato. Para sua surpresa, fora muito bem confeccionado. Enquanto comia, pôde admirar o pôr-do-sol, já que a varanda estava virada para Oeste. Quando terminou a refeição, levantou-se a custo, pois os músculos estavam extremamente doridos. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Estava no terceiro andar do suposto palácio e o balcão proporcionava-lhe uma vista privilegiada da cidadela. A cidade possuía uma torre de relógio no centro, em frente do que Walter supôs ser a praça principal. As colunas de fumo vindas das extremidades dos teleféricos a vapor mostravam-lhe qual era a fonte de energia de toda a cidade. Avaliou o movimento e deduziu que viveriam ali entre duas a três dezenas de milhares de almas. As muralhas eram espessas e as torres de vigia estavam guarnecidas com diversas peças de artilharia, tanto contra balões como contra outra artilharia. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Voltou para dentro, sentando-se na cama, desanimado. Era pouco provável que a Confederação luso-brasileira arriscasse atacar aquela cidade para o resgatar. O que acontecera nos últimos dias abalara profundamente as suas convicções. Não era só o cativeiro, chocava-o mais saber que os povos bárbaros eram tão civilizados como o resto da Confederação. Foi quase em completo desespero que adormeceu. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Na manhã seguinte foi acordado, pois iria ter uma audição com o governador. Fizeram-no trocar as suas roupas esfarrapadas por um uniforme novo. Deram-lhe um pedaço de pão e um copo de água. Foi então conduzido pelos corredores até ao piso térreo. Pela primeira vez, reparou que o interior do edifício também fora construído em pedra e trabalhado com inúmeros ornamentos. Os tectos continham numerosos frescos. O que mais o desconcertava era que aquelas construções pertenciam à era pós-nuclear. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">O salão principal era extremamente espaçoso e a sua abóbada tinha várias centenas de metros quadrados, fazendo lembrar uma antiga catedral. Esperava ver um trono e um líder sentado nele, coroado como os antigos reis, contudo não foi isso que encontrou. O comandante estava no centro da sala, acompanhado por um punhado de homens que supôs serem ministros. Em ambos os lados, mais afastados, estavam alguns soldados. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– Meu caro, espero que tenha gostado da estadia que lhe proporcionei – cumprimentou o comandante, sem quaisquer traços de ironia. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– Quem é o senhor? – devolveu-lhe Walter, pensando que estavam a brincar com ele. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– Peço imensa desculpa, não me tinha apresentado. Deve pensar que não passo de um selvagem, não é isso que chamam às gentes deste território? Eu sou Artur Olivais e sou o líder deste castro – e virando-se para os restantes – e este é o famoso doutor Walter Ramos, o inventor que veio do além-mar. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Walter continuava confuso, questionava-se como é que um líder poderia comandar pessoalmente ataques à Confederação. Era preciso uma grande dose de imprudência para o tentar e sangue-frio para o conseguir. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Artur levantou a mão e fez um gesto. Imediatamente várias cadeiras foram dispostas, formando uma meia-lua em frente de Walter. Sentiu um movimento por trás de si e, ao olhar, descobriu que um dos criados acabara de colocar uma cadeira perto de si. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– Sentemos-nos. Acredito que temos muito que conversar – pediu Artur. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– Eu exijo saber se este tal inventor pode resolver o nosso problema. Relembro que a sua captura foi custosa em material e homens e que ainda pode acalentar outras consequências mais graves – protestou um homem magricela à direita. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– Silêncio Xavier, observa primeiro, fala depois – comandou Artur, dispensando o ministro com um gesto. – Caro doutor Ramos, presumo que deve estar familiarizado com o que desencadeou o fim da era nuclear. Gostava que nos falasse um pouco sobre isso. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– Se é de história que quer ouvir falar, pois bem, enganou-se na especialidade. Deveria ter raptado um historiador, não um inventor – replicou Walter, lançado um sorriso trocista a Artur.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-JkQ1ShrV0Og/UTOx_pbVaCI/AAAAAAAAAzw/dcRfy7uImjw/s1600/imagem-parte2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><span style="background-color: black; color: white;"><img border="0" height="400" src="http://3.bp.blogspot.com/-JkQ1ShrV0Og/UTOx_pbVaCI/AAAAAAAAAzw/dcRfy7uImjw/s400/imagem-parte2.jpg" width="300" /></span></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<span style="background-color: black; color: white;">Parte 3:</span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://fantasy-and-co.blogspot.pt/2013/03/o-monstro-e-musa-310-pedro-cipriano.html">http://fantasy-and-co.blogspot.pt/2013/03/o-monstro-e-musa-310-pedro-cipriano.html</a>
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<span style="background-color: black; color: white;">Parte 1:</span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<span style="background-color: black; color: white;"><a href="http://fantasy-and-co.blogspot.pt/2013/02/o-monstro-e-musa-110-pedro-cipriano.html">http://fantasy-and-co.blogspot.pt/2013/02/o-monstro-e-musa-110-pedro-cipriano.html</a>
</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<iframe allowtransparency="true" frameborder="0" scrolling="no" src="//www.facebook.com/plugins/like.php?href=http%3A%2F%2Ffantasy-and-co.blogspot.pt%2F2013%2F03%2Fo-monstro-e-musa-210-pedro-cipriano.html&send=false&layout=standard&width=450&show_faces=true&font&colorscheme=dark&action=like&height=80" style="border: none; height: 80px; overflow: hidden; width: 450px;"></iframe>Pedro Pereirahttp://www.blogger.com/profile/16237610875767630532noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5601410284250402159.post-75370824565547401162013-02-28T21:30:00.000+00:002013-02-28T21:33:06.482+00:00A Floresta da Morte (4/4) - Pedro Pereira<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">O lobo fechou os dentes em torno da garganta de um dos mercenários, arrancando-lhe a traqueia numa cena que mais parecia retirada de um filme de terror. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Boris e os restantes capangas dispararam sobre o animal. O lobo saltou em direção a Boris e abocanhou o cano da arma, partindo-a em duas. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Boris recuou atabalhoadamente e sacou da faca de mato. O lobo voltou a investir, mas o mercenário desviou-se com um movimento rápido, espetando a lâmina no flanco do animal. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Ivan verificou por duas vezes se os seus olhos não o enganavam. Do flanco da criatura escorria sangue azul. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Ferido, o lobo recuou e curvou-se sobre si mesmo. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Boris celebrava já o golpe desferido quando o físico do animal começou a mudar. Aos poucos, o pelo que lhe cobria o corpo começou a ganhar uma tonalidade verde e a transformar-se em vegetação. O focinho da criatura encolheu e adquiriu um aspeto quase humano, revelando um rosto de pele azulada e longas barbas compostas por lianas. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">A criatura ergueu-se na sua forma humana. Devia ter uns dois metros de altura e parecia irritada. Com a mão direita, arrancou a faca de mato do dorso e atirou-a para o chão, lançando um grunhido aterrador. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– Um Leshy! – exclamou Dimitri, que juntamente com Boris e os restantes mercenários se colocou em fuga. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">A tentativa de fuga não passou disso mesmo, de uma tentativa. Como que por magia, a vegetação e as árvores pareceram ganhar vida, rodeando os humanos em fuga. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Imobilizado pelo medo, Ivan assistiu impotente aos seus companheiros a serem esventrados por ramos de árvores. Os gritos de dor preenchiam o natural silêncio da floresta. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Quando os gritos cessaram, a criatura avançou para Ivan. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– Eu avisei-te para deixares a floresta em paz, humano – declarou o Leshy com uma voz profunda. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– O quê?! </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Diante dos olhos de Ivan, a criatura voltou a mudar de forma, desta vez para uma mais familiar. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– Você?! </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– Sim, eu – respondeu Petrovitch. – Eu avisei-te e tu não me deste ouvidos. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– Quem é você?! </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">O Leshy voltou a assumir a sua verdadeira forma. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– Eu sou Yaren, o senhor da floresta. Com um único golpe, O Leshy arrancou a cabeça de Ivan, fazendo-a rebolar pelo chão manchando-o de vermelho. A sua floresta estava a salvo, pelo menos pro agora…</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-wfNZpVTyJGU/US_L6bw9VZI/AAAAAAAAAzU/HZDPg3TorwA/s1600/4.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><span style="background-color: black; color: white;"><img border="0" height="400" src="http://3.bp.blogspot.com/-wfNZpVTyJGU/US_L6bw9VZI/AAAAAAAAAzU/HZDPg3TorwA/s400/4.jpg" width="308" /></span></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<span style="background-color: black; color: white;">Parte 3:</span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<span style="background-color: black; color: white;"><a href="http://fantasy-and-co.blogspot.pt/2013/02/a-floresta-da-morte-34-pedro-pereira.html">http://fantasy-and-co.blogspot.pt/2013/02/a-floresta-da-morte-34-pedro-pereira.html</a>
</span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<span style="background-color: black; color: white;">Parte 2:</span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<span style="background-color: black; color: white;"><a href="http://fantasy-and-co.blogspot.pt/2013/02/a-floresta-da-morte-24-pedro-pereira.html">http://fantasy-and-co.blogspot.pt/2013/02/a-floresta-da-morte-24-pedro-pereira.html</a>
</span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<span style="background-color: black; color: white;">Parte 1:</span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<span style="background-color: black; color: white;"><a href="http://fantasy-and-co.blogspot.pt/2013/02/a-floresta-da-morte-14-pedro-pereira.html">http://fantasy-and-co.blogspot.pt/2013/02/a-floresta-da-morte-14-pedro-pereira.html</a>
</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<iframe src="//www.facebook.com/plugins/like.php?href=http%3A%2F%2Ffantasy-and-co.blogspot.pt%2F2013%2F02%2Fa-floresta-da-morte-44-pedro-pereira.html&send=false&layout=standard&width=450&show_faces=true&font&colorscheme=dark&action=like&height=80" scrolling="no" frameborder="0" style="border:none; overflow:hidden; width:450px; height:80px;" allowTransparency="true"></iframe>Pedro Pereirahttp://www.blogger.com/profile/16237610875767630532noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5601410284250402159.post-56685624567970715892013-02-26T21:30:00.000+00:002013-02-28T21:45:22.920+00:00A Floresta da Morte (3/4) - Pedro Pereira<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Os trabalhadores regressaram na manhã seguinte, mas negavam-se a trabalhar enquanto o gigantesco lobo andasse em liberdade na floresta. Ninguém se queria arriscar a ser a próxima vítima. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Perante as reivindicações dos trabalhadores, Dimitri convencera Ivan de que não tinha outro remédio senão chamar um grupo de caçadores furtivos. Tratava-se de um grupo de ex-militares, os compinchas de copos de Dimitri, que tal como o colega, eram encorpados e de cabelo cortado à escovinha. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– Tens a certeza de que isto é boa ideia? – questionou Ivan ao lançar um novo olhar aos quatro indivíduos. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– Não te preocupes, eles tratam do serviço – assegurou Dimitri. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– Disso eu não duvido… Pensei que tinhas falado em caçadores, não em mercenários. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Um dos homens começou a distribuir armas de fogo de grande calibre pelos companheiros. De certeza que não podiam ser legais. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– Era uma urgência e tu querias os melhores. Aqui os tens. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– Vocês os dois, então prontos ou quê?! – chamou um dos homens. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– Mais que prontos, Boris – respondeu Dimitri. – Fica perto de mim. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Apesar de a ideia não lhe agradar, Ivan acabou por concordar. Para os trabalhos recomeçarem tinha de se ver livre do lobo, e aqueles tipos pareciam ser a solução mais rápida. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="background-color: black; color: white;">*** </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Ivan perdeu por completo a noção do tempo e da distância que já haviam percorrido no interior da floresta. Munido de uma faca de mato, Boris liderava o grupo e abria caminho por entre a vegetação enquanto seguia o rasto do lobo. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– Raios! – protestou Boris. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– O que se passa? – questionou Ivan. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– O rasto do lobo desaparece aqui… </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">O grupo estava junto a uma enorme árvore, numa zona com pouca vegetação. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– Desaparece como?! Estamos numa zona praticamente sem vegetação e você disse que o rasto estava fresco! </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– Eu sei o que disse! </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– Boris, isto não tem lógica nenhuma – concordou Dimitri. – Ele teve de ir para algum lado. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Uma estranha sensação na parte de trás da nuca fez Ivan olhar para cima. O seu coração gelou. Lá estavam aqueles aterradores olhos amarelos. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Num abrir e fechar de olhos, o enorme lobo saltou do topo da árvore e lançou-se sobre o grupo. O predador acabara de virar presa…</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-ZYkRM1-7PuQ/US0liO3RATI/AAAAAAAAAy4/BbPyGYiOd00/s1600/3.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><span style="background-color: black; color: white;"><img border="0" height="400" src="http://2.bp.blogspot.com/-ZYkRM1-7PuQ/US0liO3RATI/AAAAAAAAAy4/BbPyGYiOd00/s400/3.jpg" width="381" /></span></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<span style="background-color: black; color: white;">Parte 4:</span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://fantasy-and-co.blogspot.pt/2013/02/a-floresta-da-morte-44-pedro-pereira.html">http://fantasy-and-co.blogspot.pt/2013/02/a-floresta-da-morte-44-pedro-pereira.html</a>
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<span style="background-color: black; color: white;">Parte 2:</span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<span style="background-color: black; color: white;"><a href="http://fantasy-and-co.blogspot.pt/2013/02/a-floresta-da-morte-24-pedro-pereira.html">http://fantasy-and-co.blogspot.pt/2013/02/a-floresta-da-morte-24-pedro-pereira.html</a>
</span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<span style="background-color: black; color: white;">Parte 1:</span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<span style="background-color: black; color: white;"><a href="http://fantasy-and-co.blogspot.pt/2013/02/a-floresta-da-morte-14-pedro-pereira.html">http://fantasy-and-co.blogspot.pt/2013/02/a-floresta-da-morte-14-pedro-pereira.html</a>
</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<iframe allowtransparency="true" frameborder="0" scrolling="no" src="//www.facebook.com/plugins/like.php?href=http%3A%2F%2Ffantasy-and-co.blogspot.pt%2F2013%2F02%2Fa-floresta-da-morte-34-pedro-pereira.html&send=false&layout=standard&width=450&show_faces=true&font&colorscheme=dark&action=like&height=80" style="border: none; height: 80px; overflow: hidden; width: 450px;"></iframe>Pedro Pereirahttp://www.blogger.com/profile/16237610875767630532noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5601410284250402159.post-53043607470550237362013-02-23T21:30:00.000+00:002013-02-23T22:16:04.799+00:00O Primeiro Voo - Liliana Novais<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;"><span style="color: white;">O coração de Aluminir batia acelerado. Aquele seria o seu primeiro voo sem a companhia dos pais. A ideia da independência excitava-a e amedrontava-a de igual modo. Aquele era o maior acontecimento da sua vida, pelo menos até aquele momento. O sangue corria-lhe quente pelas veias e os primeiros raios de sol da manhã faziam as escamas prateadas brilharem. Estendeu as asas e com apenas um impulso elevou-se no ar com a ajuda das correntes ascendentes. </span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;"><span style="color: white;"><br /></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;"><span style="color: white;">Pela primeira vez na curta vida sentia-se completamente livre e queria apenas explorar os seus limites. Elevou-se cada vez mais, subindo acima dos cumes das montanhas Farlan, a enorme cordilheira norte de Ahelanae. Subiu bem acima dos pássaros, deixando de os ver. A sua respiração tornou-se pesada e difícil, como se tivesse um peso a contrair-lhe os pulmões. Nem mesmo assim desistiu, prosseguiu com a subida. A visão começou a ficar turva e o ar que entrava nos seus pulmões não era suficiente.Perdeu os sentidos. Aluminir caía descontroladamente, aproximando-se cada vez mais depressa do solo. O chão estava ameaçadoramente próximo. Finalmente abriu os olhos. Teve apenas tempo de reagir e raspar na encosta de um dos picos mais altos, arrastando várias pedras. Sentiu-as a cortar a pele. Uivou de dor quando uma pedra embateu numa das asas. As suas garras raspavam na encosta, numa tentativa de abrandar, mas não conseguia agarrar-se e continuava a embater contra a parede da montanha. Finalmente conseguiu fincar as patas traseiras e abrandar a queda, acabando por se imobilizar. </span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;"><span style="color: white;"><br /></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;"><span style="color: white;">Suspirou, nunca mais faria o mesmo. Aprendera com o erro, quase perdera a vida. </span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;"><span style="color: white;"><br /></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;"><span style="color: white;">Esticou a asa.Sentia uma pontada de dor mas era suportável, felizmente não a tinha partido. Retomou o voo. Teria de ser mais cautelosa. Apenas queria sentir o vento sob as asas. Sobrevoou as montanhas em direcção à Floresta de Holvar. Acompanhou os pássaros, voando ao seu lado, pairando sob os altos picos. Fazia corridas com as velozes águias Tiran, as quais tinham metade do seu tamanho. Ria-se. Entendera, finalmente, o significado de ser livre, de poder voar. Estava feliz. </span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;"><span style="color: white;"><br /></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;"><span style="color: white;">Uma sombra tapou-lhe o sol. Assustada, olhou para cima. Um segundo dragão prateado surgiu no céu. Aluminir não estava à espera de companhia no seu primeiro voo. </span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;"><span style="color: white;"><br /></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;"><span style="color: white;">Iniciaram numa graciosa dança alada,como se duma corte se tratasse. Faziam piruetas, voos rasantes, em torno um do outro. Aluminir não queria admitir, mas estava a divertir-se com aquele dragão desconhecido. Estava curiosa, sem contar com os seus pais, nunca vira outro dragão. Queria falar com ele, conhecê-lo melhor. </span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;"><span style="color: white;"><br /></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;"><span style="color: white;">Ela olhou para baixo, já não estavam sob as montanhas, a verdejante floresta estendia-se agora por baixo deles. À frente, um enorme lago alongava-se, o lago Tadal. Ela começou a descer em direcção a este. O outro dragão entendeu e seguiu-a. </span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;"><span style="color: white;"><br /></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;"><span style="color: white;">Aluminir tentou aterrar o mais graciosamente que conseguia, queria fazer uma boa figura para o seu companheiro. Virou-se e ficou a observá-lo. Ele era um grande macho prateado. Os seus olhos verdes, raros na sua espécie, fitavam-na com a mesma curiosidade que sentia. Começaram a andar um em torno do outro, observando-se mutuamente. Ele não era muito mais velho do que ela, teria mais cem anos no máximo. Ela queria tocar-lhe, falar-lhe mas não sabia o que dizer. Queria saber mais sobre ele. O seu coração batia mais depressa. O sangue nas suas veias fervia e não compreendia a razão. </span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;"><span style="color: white;"><br /></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;"><span style="color: white;">- Olá! Eu sou a Aluminir. E tu, quem és? – Perguntou ela, disfarçando o nervosismo. - Eu sou o Seneth.</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;"><span style="color: white;"><br /></span></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-vTg0iDVqs-Q/USdEeZ_ZUcI/AAAAAAAAAyc/5sXtiIUcpp0/s1600/DRAGON__Freedom_Scape_by_TheGuardianDragon.jpg" imageanchor="1" style="background-color: black; margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><span style="color: white;"><img border="0" height="293" src="http://3.bp.blogspot.com/-vTg0iDVqs-Q/USdEeZ_ZUcI/AAAAAAAAAyc/5sXtiIUcpp0/s400/DRAGON__Freedom_Scape_by_TheGuardianDragon.jpg" width="400" /></span></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<iframe src="//www.facebook.com/plugins/like.php?href=http%3A%2F%2Ffantasy-and-co.blogspot.pt%2F2013%2F02%2Fo-primeiro-voo-liliana-novais.html&send=false&layout=standard&width=450&show_faces=true&font&colorscheme=dark&action=like&height=80" scrolling="no" frameborder="0" style="border:none; overflow:hidden; width:450px; height:80px;" allowTransparency="true"></iframe>Pedro Pereirahttp://www.blogger.com/profile/16237610875767630532noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-5601410284250402159.post-67253145428888567392013-02-22T21:30:00.000+00:002013-02-22T21:36:23.554+00:00Percepção - Túmulo 62 - Sara Farinha <div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Mark agachou-se atrás de um bloco de pedra massivo, no topo de um dos montes que delineava a zona aberta ao público do Vale dos Reis. Lá em baixo, o último grupo de turistas era encarreirado para um atrelado de metal branco com bancos de plástico amarelos, sem portas ou janelas, que os levaria de volta à recepção. </span></div>
<span style="color: white;"></span><br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: white;"><span style="background-color: black;"><br /></span></span></div>
<span style="color: white;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;">Procurou um recanto com sombra onde pudesse sentar-se. Acabou encostado ao enorme calhau, de calças assentes na areia grossa, mais terra do que areia, que cobria todo o vale. Passou o antebraço pela testa, limpando o suor que se aglomerava, fechou os olhos e abriu os sentidos ao que o rodeava. Inspirou fundo, absorvendo o burburinho de sentimentos que pairava no Vale dos Reis. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;">Um grupo bastante numeroso emitia a excitação da descoberta, o cansaço da viagem e a necessidade de saciar as necessidades mais básicas. Espalhados pelos recantos do Vale, um grupo de homens emitia outros sentimentos, alguns tão estranhos como o idioma que falavam. Raiva, aborrecimento, ganância e uma violência que nunca desapareciam por completo. Desde que Mark entrara no avião em Paris e desembarcara no aeroporto do Cairo, que um nojo quase palpável, permeava o ar. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;">Fechou a mente o melhor que pôde, poupando as forças para o desafio pendente, e contou as várias assinaturas mentais que distinguia. À entrada dos túmulos visitáveis dos Faraós Egípcios, diversos guardas deambulavam pela paisagem árida, depois de emergirem do confinamento diário. Por baixo das suas túnicas de tons crus, diversas armas eram ocultadas dos estrangeiros, emanando uma presunção que só os que andam armados são possuidores. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;">Carregar uma arma de fogo no Egipto era equivalente a calçar um par de sapatos em Nova Iorque. Não havia qualquer dúvida que os detectores de metais à entrada dos diversos pontos turísticos eram uma protecção podre que servia para criar uma cortina de medo constante, adensando a ansiedade nos turistas. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;">A noite tardava a cair no deserto. Tapava devagar a claridade esbranquiçada, que quase cegava, com várias tonalidades rosadas, até as areias serem tomadas pelo breu indistinto. Mark esperou, procurando manter a cabeça baixa e o traseiro fora do radar dos guardas dos túmulos. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;">Três guardas recolheram-se debaixo do telhado de madeira, que ladeava o túmulo de Ramsés IV, desenhado para proteger os visitantes do sol abrasador. Ao anoitecer a zona era limpa da escumalha estrangeira e os locais divertiam-se a murmurar histórias sobre os euros que arrancavam aos que eram separados dos grupos dentro dos túmulos. Não havia negociações que subsistissem num povo tão rico em cultura, mas tão rude nas suas vivências, pelo que Mark vira-se arrastado para um pequena expedição fora do conhecimento das autoridades. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;">Esperou pela cobertura da noite, observando os homens de túnicas brancas reunirem-se na única estrutura de madeira que se assemelhava a uma casa. Composta por dois pisos, o telhado de chapa assentava em barrotes de madeira, sem qualquer parede que separasse o espaço do mundo exterior. A excepção eram duas salas, nos limites do piso térreo, pequenos abrigos que os protegiam das intempéries do deserto. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;">Em breve os homens de vestes típicas foram enxotados pelos de uniforme castanho que guardavam o exterior. Mark observou-os abandonar o vale, deixando para trás alguns homens fardados. Voltou a sondar o local, deixando que as assinaturas mentais voltassem à sua consciência, e identificou seis pessoas nas imediações. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;">Encoberto pela escuridão do deserto, deslizou pela colina íngreme, procurando manter-se silencioso. Abrigou-se ao lado do muro de pedra, que marcava a descida para o túmulo de Ramsés IV e esperou. Escondeu-se, durante o que lhe pareceu uma eternidade, agachado no sítio onde podia ver o caminho para o túmulo que era o seu destino final, o sessenta e dois. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;">Dois guardas partiram a pé na direcção da saída do Vale, deixando os restantes abrigados dentro da cabana. Dali para a frente teria de fazer uso dos seus outros sentidos, relegando a visão para as brumas em que se encontrava. Enquanto os homens rezavam, desentorpeceu os músculos com cuidado, e preparou a investida. Aquilo que comprara estava a poucos passos de distância, a prova de que nem todas as escavações no Vale dos Reis eram de conhecimento público. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;">Ao longe, os murmúrios distantes de uma mesquita forneciam a pausa que Mark ansiara. Em silêncio, deslocou-se pelo pátio de areia à sua frente, atento às assinaturas mentais daqueles que o rodeavam, ainda absortos nas suas rezas. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;">Ao lado do pequeno portão de ferro, fechado a cadeado, uma placa de cor mostarda ostentava o número 62. Por cima, as letras Tomb of Tut Ankh Amun e os caracteres árabes anunciavam a túmulo do jovem faraó. Saltou por cima da barreira de metal e desceu as escadas, acobertando-se por baixo da placa de cimento branco que protegia a entrada. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;">A escuridão era um manto frio que o isolava do exterior. Com todos os seus sentidos em alerta era impossível conter o temor que se alastrava. Era como se as paredes estivessem ensopadas em emoções poderosas. Emanadas pelas muitas pessoas, que por ali passavam todos os dias, e ajudada pela ambiência de mortos e dos seus corpos decadentes. Mark abanou a cabeça com vigor, esforçando-se por sair do turbilhão de pensamentos gélidos, retirou do bolso das calças uma pequena lanterna e dirigiu-se para o armário castanho que cobria uma das paredes. Tapou o foco da pequena lanterna, com a palma da mão, deixando escapar uma escassa luminosidade. Acocorou-se e apalpou o fundo da estrutura em madeira, que servia de bengaleiro, e vasculhou a fila mais próxima do chão. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;">Colado ao painel traseiro da estante, num dos cantos inferiores, um pequeno tubo cilíndrico de metal esperava por ele. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;">Vozes masculinas, o som de motores, e passos apressados ecoaram pelas dunas. Mark sentiu um choque de adrenalina a espalhar-se. A sua presença já não era segredo. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;">Fez deslizar a lanterna de volta ao bolso e enfiou o cilindro num buraco no forro do casaco. De repente, foi invadido por uma pressão imensa entre os olhos, como uma dor de cabeça repentina. Esfregou a cana do nariz e resistiu a sondar o espaço. Algo empurrava a sua consciência, como um encontrão abrupto no meio dum corredor apinhado de gente. Expirou fundo, procurando controlar a vontade de ceder ao empurrão mental. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;">Deslizou para as escadas que acediam ao portão e deitou-se de bruços, observando a confusão. Não conheciam a sua localização exacta, mas era óbvio que sabiam que ele estava ali, e com reforços de outro tipo. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;">O edifício de madeira estava apinhado de guardas. Todos carregavam armas e tochas acesas. Um deles gritava ordens indiscerníveis, distraindo a multidão o suficiente para que Mark pudesse saltar o muro e aterrar na areia gelada. Rastejou dali para fora, tão inconspícuo como havia entrado, mas com dezenas de homens armados no seu encalço. Trepou uma das colinas e correu para a moto 4 estacionada nas imediações. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;">A pressão dentro da sua cabeça aumentou. O seu perseguidor tentava apoderar-se e subjugar. Um poderoso empurrão mental e Mark sentiu os seus joelhos embater no cascalho, no segundo em que um projéctil roçava o ombro. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;">A dor física arrancou-o do início da clausura e fê-lo recuperar um ténue controlo sobre a sua consciência. Precisava escapar. Reuniu dores e raiva, medo e confusão, e empurrou-as na direcção do seu adversário. Projectou no plano mental aquilo que o consumia no físico. Um grito lancinante emergiu sobre os ruídos da perseguição e Mark foi libertado dos grilhões mentais que o toldavam. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;">Precipitou-se sobre a moto 4 e acelerou com fervor. As balas choviam na sua direcção, enquanto uma voz masculina ecoava pelo deserto. A distinta pronúncia americana bramia – Cobarde! Vais fugir para sempre? Com as fotografias em segurança e a meio caminho do rio Nilo, Mark constatou que não. Não iria fugir para sempre…</span></div>
</span><br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-8yHByuwavm4/USdD9p5vYEI/AAAAAAAAAyU/EoXM5tUOsWU/s1600/vale+dos+reis.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><span style="background-color: black; color: white;"><img border="0" height="400" src="http://3.bp.blogspot.com/-8yHByuwavm4/USdD9p5vYEI/AAAAAAAAAyU/EoXM5tUOsWU/s400/vale+dos+reis.jpg" width="356" /></span></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<iframe src="//www.facebook.com/plugins/like.php?href=http%3A%2F%2Ffantasy-and-co.blogspot.pt%2F2013%2F02%2Fpercepcao-tumulo-62-sara-farinha.html&send=false&layout=standard&width=450&show_faces=true&font&colorscheme=dark&action=like&height=80" scrolling="no" frameborder="0" style="border:none; overflow:hidden; width:450px; height:80px;" allowTransparency="true"></iframe>Pedro Pereirahttp://www.blogger.com/profile/16237610875767630532noreply@blogger.com7tag:blogger.com,1999:blog-5601410284250402159.post-89079858659726173872013-02-21T21:30:00.000+00:002013-02-21T21:30:52.867+00:00A Alvorada - Pedro Cipriano <div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">A artilharia dos defensores rugiu mais uma vez, despejando a sua letal carga ao acaso. David sabia que os defensores já tinham perdido toda a esperança, São Petersburgo cairia dentro de algumas horas. A guerra mundial que já durava há oito anos e fora combatida nos seis continentes estava perto do fim. O conflito pelo maldito petróleo já reclamara quase meio bilião de vidas e felizmente nenhuma nação usara o seu arsenal nuclear. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">O interior do tanque tipo Roosevelt, por não estar equipado contra aquele nível de humidade, cheirava a mofo. Percorrer milhares de quilómetros naquela lata de sardinhas com um comandante com feitio difícil estava a dar cabo dos nervos a todos. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– Alvo às quatro horas, a duas milhas – anunciou o comandante. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">A escuridão da noite nórdica obrigou David a procurar o alvo com os sensores térmicos. Era uma bateria anti-tanque, mas não havia nada a recear. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">O frágil equilíbrio entre as facções foi desfeito na maior batalha aérea da história da humanidade. Milhares de caças lutaram durante horas sobre a Europa de leste. Quando se silenciaram os céus, o domínio aéreo pertencia às forças Ocidentais. Era hora de preparar a invasão terrestre. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Os radares foram destruídos pelos bombardeiros há um par de horas. Sem eles, os sistemas de defesa estavam cegos, mas nem por isso deixavam de disparar. A cidade resistira ao mais longo cerco da história durante na última guerra mundial, atestando a teimosia russa. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Pediu uma munição explosiva e o sistema de ataque do blindado trancou o alvo. Ajustou as protecções dos ouvidos, inspirou e premiu o botão. Quando recuperou do estrondo do disparo, viu que a bateria estava irreparável. Nesse momento, os bombardeiros passaram por cima dos tanques destruindo a barricada mais à frente. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– Avancem, estamos a pouco mais de três de milhas da Praça do Palácio. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">David estremeceu de excitação, pressentido que o fim da guerra estava próximo. Com a captura da praça central a resistência dos habitantes sofreria um duro golpe na moral. Dois soldados saíram de outro tanque para confirmar se a ponte estava armadilhada. Assim que se confirmou que estava limpa, o veículo de David avançou lentamente. Agarrou-se aos comandos com receio, detestava atravessar pontes. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Pareceu passar uma eternidade até chegarem ao outro lado, numa avenida cujo nome começava por “Bo” e era seguindo por mais dez caracteres que não conseguia pronunciar. Os tanques seguiram pelas quatro faixas em direcção à Catedral. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">As ruas estavam desertas. Não se ouviam nem disparos nem explosões. Parecia que os russos tinham desistido de lutar. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– Onde raio se meteram os russos? – ouviu pelo rádio com um sotaque fortemente alemão. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Sorriu, pensando o quanto os alemães e os franceses estariam a apreciar a ironia do momento. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– Daqui tenente Jarnot, acabámos de capturar a estátua do cavaleiro. Não há qualquer armadilha nem resistência neste sector. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">O anúncio foi seguido por outros semelhantes, os lugares simbólicos estavam a ser tomados sem resistência. Talvez a guerra estivesse perto do fim, pensou. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Os blindados americanos pararam à entrada da praça. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– Toda a gente lá para fora, temos de ver se não há minas – ordenou o comandante. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">À semelhança dos outros soldados, David cumpriu as ordens contrariado. Detestava sair da protecção dos doze centímetros de aço do blindado. Os atiradores furtivos eram o pesadelo de qualquer artilheiro. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Encostado às lagartas, olhou em frente. A iluminação escassa da lua permitia distinguir os contornos do lugar. À excepção do monólito gigante protegido por sacos de areia, a praça parecia deserta. Não se viam capacetes a espreitar por cima dos sacos nem artilheiros nos canhões anti-blindado. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– Olhem! – exclamou o condutor, apontando para ocidente. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Uma luz brilhante tornou a noite em dia. Não se ouviu nenhuma explosão. David deixou-se cair no chão, percebendo logo o que acontecera. As lágrimas escorreram-lhe pela face. Nunca pensou chorar assim no fim deste maldito conflito. A imagem do seu filho e esposa vieram-lhe à memória, dava qualquer coisa para estar com eles. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Na face dos seus compatriotas via-se a mesma consternação. Ao seu lado o comandante ria-se, quebrando o silêncio. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Um pelotão de russos saiu de um edifício adjacente. Apontaram-se algumas armas, mas ninguém disparou. Os adversários fitaram-se mutuamente. Via-se igual resignação e cansaço em ambos os lados. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– Não vale a pena – alguém gritou. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Alguns soldados atiraram as armas para o chão e o exemplo foi seguido pelos restantes. Pedidos de desculpa foram lançados em várias línguas. O céu voltou a ficar iluminado. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– E é assim que acaba! </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Os clarões sucediam-se com maior frequência e pareciam vir um pouco de todos os lados. A expressões de desolação transpareciam o destino que os esperava. Restavam-lhe minutos, ou talvez segundos. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Caminhou para o russo mais próximo e num impulso abraçou-o. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– Desculpa o que fiz ao teu país – disse-lhe e olhos do que fora o seu oponente mostraram-lhe que percebera a intenção. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– Já não faz diferença – respondeu-lhe o russo, com um forte sotaque. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Todos sabiam que assim era. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">David foi ofuscado por um clarão e sentiu-se arrastado por uma força imensa. Para ele, o mundo acabara.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-39l5anT96E8/USQQOs-4hqI/AAAAAAAAAx4/J72JK7UyQdc/s1600/Nuclear+Blast5.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><span style="background-color: black; color: white;"><img border="0" height="318" src="http://2.bp.blogspot.com/-39l5anT96E8/USQQOs-4hqI/AAAAAAAAAx4/J72JK7UyQdc/s400/Nuclear+Blast5.JPG" width="400" /></span></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<iframe src="//www.facebook.com/plugins/like.php?href=http%3A%2F%2Ffantasy-and-co.blogspot.pt%2F2013%2F02%2Fa-alvorada-pedro-cipriano.html&send=false&layout=standard&width=450&show_faces=true&font&colorscheme=dark&action=like&height=80" scrolling="no" frameborder="0" style="border:none; overflow:hidden; width:450px; height:80px;" allowTransparency="true"></iframe>Pedro Pereirahttp://www.blogger.com/profile/16237610875767630532noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-5601410284250402159.post-8597054383157367682013-02-20T21:30:00.000+00:002013-02-20T21:30:50.668+00:00A destilação do absurdo - Carlos Silva<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Tal como todas as manhãs, Filipe Freire saiu cedo de casa, ainda o sol não raiava sobre Urbania. Debaixo de um dos braços, um banco dobrado, do outro, o farnel. Havia-se despedido da esposa com um beijo na testa e dos filhos a dormir com um olhar terno, para agora dar os bons dias à luz que penetrava entre os prédios. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Sozinho, abraçado pelo frio da manhã, atravessou a cidade, recusando os serviços dos ensonados condutores dos riquexós a pedais, até chegar à borda, onde as ruas acabavam e o nevoeiro negro que rodeava a cidade começava. Abriu o banco e sentou-se de frente para as brumas e ficou a observá-las como sempre fazia. Observou como os farrapos de neblina negra rodopiavam e se entrelaçavam para de novo desaparecer na escuridão sem fim, reconhecendo os padrões que o tempo lhe havia ensinado. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Estava para breve, mais para breve do que pensara. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Eram aquelas brumas que davam a Urbania o epíteto de "a sempre em movimento", da "nunca igual", engolindo lenta e constantemente a parte velha da cidade, ao mesmo tempo que recuava no lado oposto, revelando novos arruamentos e edifícios à cidade. Eram aquelas brumas que absorviam a atenção de Filipe Freire durante horas as fios, revelando aos poucos os seus segredos, como uma mãe ciosa. No entanto, naquela manhã de inverno, a parede de neblina negra estava silenciosa, o que em si era um sinal para quem lhe conhece as manhas. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Uma pequena folha emergiu das trevas, bailando no aragem, tentando Filipe a levantar-se do banco, mas este sabia que estava a ser testado. Teria de ser paciente se queria que a folha não voltasse a desaparecer, soprada por uma qualquer rajada oportuna. Fechou os olhos, concentrando-se no assobio do vento e assim ficou durante minutos, numa batalha de paciências que acabou por ganhar sob a forma do pousar lento da folha sobre o seu colo. Pegou nela, com os dedos brutos e levou-a ao olhar. Era uma folha de carvalho, crescida o suficiente para pertencer a uma árvore adulta. Filipe dobrou o banco, virou costas ao nevoeiro e rumou a casa, não sem antes lhe dizer: </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">- Estava a ver que não, amigo. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">A família Freire era a melhor e mais antiga produtora do famoso licor de Urbania de nome Reductio Ad Absurdum. O processo, herdado dos seus antepassados, era secreto e só mesmo o chefe da família conhecia todos passos e ingredientes. A produção do licor era um negócio de família, empregando desde a mulher aos filhos, passando pelos tios e sobrinhos, cada um com uma tarefa vital na concepção da preciosa bebida. Nenhum pormenor era descurado, até as garrafas eram especiais. Tinham de ser de cristal, para não corromper os delicados aromas nelas contidos, e de tal esguia forma que os vapores não se escapassem mal se tirasse a rolha. Todavia, o que tornava o Ad Absurdum da família Freire tão especial era a frescura da selecção de flores destiladas a frio, de modo que apenas os aromas mais leves conseguissem escapar para o interior do néctar de outras tantas plantas que ninguém sabia quais. O trabalho de Filipe era montar guarda à muralha de brumas negras, perscrutando a sua escuridão o dia em que as flores iriam chegar. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Quando o chefe de família chegou a casa, já todos os seus ocupantes estavam despertos, ocupando-se dos seus afazeres diários. A um canto da cozinha, a filha mais velha e a esposa picavam o gelo que iriam colocar sob o alambique; o filho varão preparava-se para sair, para ir buscar as garrafas que o tio tinha produzido no dia anterior; os dois filhos mais novos brincavam com os materiais que tinham sobrado da destilação anterior, atirando pétalas de rosa negra um ao outro, rindo-se como só as crianças conseguem. Assim que Filipe passou o umbral da porta, todos se levantaram expectantes. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">- Já, meu amor? Tão cedo? </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">- Sim, até hoje à noite Urbania ganhará uma floresta. – respondeu Filipe, abraçando a mulher - Prepara os cestos. Amanhã por esta hora, Urbania terá o mais fino Ad Absurdum que alguma vez provou. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Alegremente, a família atravessou a cidade, seguindo os passos de Filipe, balançando os cestos, rindo-se quando os ardinas anunciavam a notícia de última hora: Urbania iria ganhar uma floresta. Ao ouvirem as notícias, as lojas apressaram-se a encomendar toalhas de pique-nique, machados e espingardas de caça, de modo a satisfazer os novos desejos que certamente surgiriam assim que as primeiras árvores surgissem. Todos pareciam contentes com as novidades, com a excepção de um grupo de engenheiros da câmara, que tinham fé que as brumas fossem revelar um novo tribunal para compensar o velho que havia absorvido há um mês, obrigando-os a mudar as audiências para o auditório do palácio da presidência. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Durante toda a tarde a família Freire vagueou pela floresta, avançando cada vez mais para o seu interior, à medida que as brumas a iam revelando, enchendo os cestos de plantas que iam esvaziando quando encontravam exemplares mais perfeitos. Ao surgir da lua no horizonte, todos regressaram a casa, excepto Filipe, e reuniram-se em torno do alambique, desfolhando as flores, largando as pétalas uma a uma para o interior do vaso de destilação. O chefe de família puxou do banco desdobrável e sentou-se em frente às brumas, quase não conseguindo distingui-las da escuridão em seu redor. Na destilaria, o filho mais velho começou a dar ao fole, fazendo o ar frio penetrar nas pétalas, arrastando os aromas, borbulhando-os no líquido açucarado que fazia o corpo do licor. As brumas quebraram o silêncio, falando uma vez mais com Filipe, contando-lhes o seus segredos. O licor foi mudando de cor, ganhando reflexos madrepérola, transformando-se aos poucos no Ad Absurdum tanto apreciado. Filipe semicerrou os olhos tentando discernir as imagens que as brumas lhe davam, reconhecendo nelas o passado e os futuros de Urbania embrulhados em indefinição. O filho primogénito suava em bica, castigando o fole sem tréguas até que toda a essência passasse da origem para o receptáculo. Filipe levantou-se e tropeçou numa raiz, caindo para lá das brumas. Quando se levanta, já não sabe se está em Urbania se dentro do nevoeiro negro. Lembra-se das histórias que lhe contaram sobre os que haviam entrado e nunca saído e a pele arrepia-se. Houve os gritos das criaturas que habitam a escuridão, reclamando pelo seu quinhão. Está dentro! Sem pensar na direcção, corre, confiando que longe daqueles sons terríveis está a sua casa. Este as mãos, mas não toca em nada. Está perdido. As criaturas aproximam-se cada vez mais. Os tendões gritam de dor e Filipe sabe que não pode parar de correr. Um a um, todos os elementos da família Freire vão dormir, encerrando o Ad Absurdum num enorme vaso de cristal à janela, onde poderá maturar à luz da lua. Sem acordar ninguém, ofegante, Filipe entra dentro de casa e vai para a cozinha, contemplar o trabalho que a sua família faz há gerações. Ignorando as regras que ele próprio instituíra, destapa o vasilhame e espreita para o seu reflexo no líquido estagnado. Não se reconhece. Não sabe a quem pertence aqueles olhos encovados e cara pálida sulcada de rugas. Conheceria melhor se fossem as brumas com que fala todos os dias. Seria muito mais familiar se fossem farripas de negrume. Ri-se. Ri-se descontroladamente até que as lágrimas lhe vêm aos olhos, rolando pelas faces, caindo dentro do licor. O último ingrediente secreto fora adicionado: as lágrimas de um homem louco.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-9pDdthHR3Us/USQPS0xvEUI/AAAAAAAAAxs/90WLbsG_aZQ/s1600/urbania_capa2.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><span style="background-color: black; color: white;"><img border="0" height="400" src="http://3.bp.blogspot.com/-9pDdthHR3Us/USQPS0xvEUI/AAAAAAAAAxs/90WLbsG_aZQ/s400/urbania_capa2.png" width="282" /></span></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<span style="background-color: black; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 17px; text-align: left;"><span style="color: white;">Para conheceres mais deste universo, clica <a href="http://carlossilva.webs.com/ebooks.htm">aqui</a> e faz download do livro.</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<iframe src="//www.facebook.com/plugins/like.php?href=http%3A%2F%2Ffantasy-and-co.blogspot.pt%2F2013%2F02%2Fa-destilacao-do-absurdo-carlos-silva.html&send=false&layout=standard&width=450&show_faces=true&font&colorscheme=dark&action=like&height=80" scrolling="no" frameborder="0" style="border:none; overflow:hidden; width:450px; height:80px;" allowTransparency="true"></iframe>Pedro Pereirahttp://www.blogger.com/profile/16237610875767630532noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-5601410284250402159.post-67241965143478282482013-02-19T21:30:00.000+00:002013-02-19T21:46:29.171+00:00Apocalipse - A queda de Berlim - Pedro Pereira<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">O sol nascia no horizonte e afastava as sombras que cobriam as ruinas da metrópole. Tal como a maioria das cidades, Berlim não era mais do que um vislumbre daquilo que tinha sido. As ruas estavam desertas, repletas de escombros e carros abandonados. Eram ladeadas por edifícios desocupados e em risco de ruir, conferindo um ar fantasmagórico à cidade. Era a típica imagem de uma grande metrópole desde que os demónios tinham sido libertados no mundo dos humanos, reduzindo a civilização a cinzas… </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">No topo de um dos edifícios devolutos, uma esbelta figura feminina, quase demasiado perfeita para parecer real, observava a paisagem. Leviatã passou os dedos pelos longos cabelos lisos de uma cor azul eletrizante. Aguardava pelo momento certo. As ordens do Senhor das Trevas tinham sido bem claras, tinha que tomar a cidade, criar uma distração para que Belphegor pudesse quebrar o véu entre dimensões. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Um demónio abriu a porta que dava acesso ao telhado e encaminhou-se para a mulher. A criatura tinha a pele encarnada e dois chifres de bode na testa. A barba e o cabelo eram negros, tal como a armadura ou como o tufo de pelo no qual terminava a sua cauda. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– Estás pronto? – questionou Leviatã na sua voz fria e sem emoção, muito antes de Belphegor a ter alcançado. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– O cetro está pronto. Desde que mantenhas os humanos ocupados, eu e as minhas tropas tratamos do resto. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– Nesse caso sugiro que te metas a caminho, o Reichstag fica do outro lado da cidade. E não te preocupes com os humanos. Eu ocupo-me deles. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Sem aguardar resposta, Leviatã fechou os olhos e enviou o sinal telepático às suas tropas. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Respondendo ao apelo da líder, centenas de demónios saíram das ruínas que os escondiam e invadiram as ruas da cidade. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Leviatã deixou que os subordinados espalhassem o caos livremente. Não tardou que o objetivo fosse alcançado. As tropas humanas que patrulhavam as ruínas da cidade soaram o alarme. Desde o aparecimento dos Escolhidos que os humanos julgavam ser capazes de derrubar os demónios e recuperar o controlo do mundo. Leviatã não foi capaz de conter um sorriso de desdém. Não passavam de criaturas idiotas. Meros insetos prontos a serem esmagados por Lúcifer, o Senhor das Trevas. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– Não devias estar com as tuas tropas a transportar o cetro? – questionou com irritação ao aperceber-se que Belphegor continuava a seu lado. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– Sim, claro. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Carrancudo, o demónio de pele encarnada abandonou o telhado, deixando a figura feminina a observar o caos gerado pelos lacaios. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Pelas ruas já se podia ouvir o som dos disparos. As tropas alemãs estavam a retaliar. Vários tanques blindados acompanhados por soldados percorriam agora as ruas de Berlim. A rapidez da resposta não deixou de espantar Leviatã. Os humanos apresentavam agora um grau de coordenação que não possuíam há meses atrás. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Um pouco mais à frente do edifício onde se encontrava, um tanque armado com lança-chamas e alguns soldados encurralaram um pequeno grupo de demónio num beco sem saída. Apanhados de surpresa, as criaturas foram carbonizada. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Leviatã saltou do topo do edifício de cinco andares diretamente para o asfalto a rua. Focada no alvo, encaminhou-se a passo acelerado e convicto para o tanque. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Os soldados que acompanhavam o veículo blindado deram o alerta. Leviatã ergueu as suas barreiras protetoras. Numa questão de segundos, começaram a voar balas em direção à esbelta mulher. Estas faziam ricochete nas defesas da demónio. Quem se julgavam aquelas criaturas para lhe ousarem fazer frente?! </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Leviatã esticou a mão direita em direção e lançou um raio de energia contra o veículo. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">A explosão do tanque matou três dos soldados humanos e projetou outros dois pelo ar. Apesar da queda violenta contra o asfalto, estes ainda se encontravam com vida. Movimentando-se com uma rapidez sobrenatural por entre os escombros, arrancou a cabeça de um dos sobreviventes com as próprias mãos quando este se tentava levantar. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Uma expressão de terror apoderou-se do rosto do segundo sobrevivente. Não querendo tornar-se na próxima vítima, levantou-se atabalhoadamente e começou a correr. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Leviatã apanhou uma barra de metal de entre os escombros e lançou-a em direção ao humano em fuga. O soldado caiu. A barra de metal trespassara-lhe o peito perfurando um dos pulmões. Aproximou-se do homem que jazia em convulsões. Com um sorriso no resto, colocou a bota em cima da cabeça da vítima e esmagou-lhe o crânio. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Ficou parada por alguns instantes enquanto comtemplava com orgulho a matança. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">O som de dois aviões de combate a sobrevoar a cidade interrompeu a linha de pensamentos de Leviatã. Os humanos estavam a ficar cada vez mais atrevidos… </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Fechou os olhos e deixou que a transformação tivesse lugar. O seu corpo começou a contorcer-se e a mudar de forma. Também o seu volume aumentava a um ritmo frenético. Não foi capaz de conter os gritos de dor que aquela transformação lhe provocava. Seus ossos partiam-se em milhares de locais para assumirem uma nova forma. O corpo contorcia-se com as transformações e o crânio tomava uma forma achatada. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">A figura feminina assemelhava-se agora a uma gigantesca serpente alada, com um par de asas membranosas nas costas e quatro minúsculas patas que lhe saiam do ventre. A pele fora substituída por uma camada de escamas de um azul eletrizante, contrastando com os olhos de um violeta vivo. Com o seu tamanho atual, mal cabia na apertada rua. Na sua verdadeira forma ninguém ousava fazer frente a Leviatã. Chegara a hora de tomar Berlim e vergar as forças dos humanos…</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-ghSpod_-KCY/USFIJOrvuvI/AAAAAAAAAw4/a2HE98VlZOs/s1600/Apocalipse+-+A+queda+de+Berlim.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><span style="background-color: black; color: white;"><img border="0" height="400" src="http://4.bp.blogspot.com/-ghSpod_-KCY/USFIJOrvuvI/AAAAAAAAAw4/a2HE98VlZOs/s400/Apocalipse+-+A+queda+de+Berlim.jpg" width="286" /></span></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<iframe src="//www.facebook.com/plugins/like.php?href=http%3A%2F%2Ffantasy-and-co.blogspot.pt%2F2013%2F02%2Fapocalipse-queda-de-berlim-pedro-pereira.html&send=false&layout=standard&width=450&show_faces=true&font&colorscheme=dark&action=like&height=80" scrolling="no" frameborder="0" style="border:none; overflow:hidden; width:450px; height:80px;" allowTransparency="true"></iframe>Pedro Pereirahttp://www.blogger.com/profile/16237610875767630532noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-5601410284250402159.post-57160444324553114662013-02-18T21:30:00.000+00:002013-02-18T21:33:22.669+00:00Vamos Pintar os Franceses de Carmin - Ana Ferreira<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Um conto de Adosinda Gonçalves </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Escrito por Ana Ferreira </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">1. Liberté, Fraternité e um tiro nos franceses, por favor! </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Porto, 1809 </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">As ruas do Porto enchiam-se de posters com gravuras do rei D. João VI e D. Maria I a pedir recompensa dos seus pescoços. “Se viu estes traidores, queremo-los vivos ou mortos. A recompensa: restaurar a honra da pátria.” Adosinda despregou um poster da parede e admirou a pintura básica do rei. Se não pagam, não quero, pensou. Entrou numa tasca e desencantou mais uma vez o papel. Tinham a certeza que aqueles na imagem eram mesmo membros da realeza? D. João VI parecia mais magro e a D. Maria não tinha o cabelo arranjado, como costumava. Bem, de qualquer forma, os tipos estavam no Brasil a comer à grande a à francesa, enquanto a Junot ameaçava entrar no Porto. Pediu um copo de vinho e a carcaça com chouriça que veio a fumegar. O relógio de bolso indicava que ainda tinha vinte minutos até chegar à estalagem e encontrar o general Beresford. O vinho sabia a ranço, mas tanto o cheirinho vindo do pão com o paladar do chouriço eram motivos para ela querer lutar por este país desgraçado, com a monarquia entregue aos franceses. Os trabalhadores voltavam do trabalho, arrumando o farnel. Um olhou para o poster. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">“É uma daquelas que vai atrás do rei?” Perguntou o homem já gasto pelo tempo. Adosinda acendeu um cigarro. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">“Porquê? Vai-me pagar a passagem até ao Brasil?” </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">O homem mandou um murro à mesa. “Está a brincar com a nossa cara? Estes filhos da puta merecem ser enforcados pela sua covardia!” </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">“Concordo.” Adosinda sorriu, exibindo os dentes um pouco amarelados pelo fumo. “Mas, se tivermos em consideração que os nossos governantes, são, como disse, uns cabrões, e estão a milhas de distâncias, separados por mar, não vejo qual a pressa de os ir buscar. Ou estão com saudades deles?” </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">O homem exibiu um canivete. “Eu se fosse a si tinha cuidado com o que dizia, condessa! O povo portuense está farto de vocês, mouros ricos que vivem às nossas custas!” </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Adosinda retirou uma pistola do coldre. “Deixe-me fazer apenas um reparo.” O homem ao ver o revólver deu um salto para trás. “Não sou condessa, sou duquesa. Eu sei que para vocês é, como diriam os nossos cabrões-mor franceses tout lá meme chose, mas não é. Eu tenho mais dinheiro que uma condessa. Um conde tem um condado, um duque tem um ducado. Para uma condessa estar no mesmo patamar que eu teria ainda de passar por marquesa.” O homem deu um passo em direcção à porta e o som da arma a ser pronta para disparar ecoou. “Não vá a lado nenhum que eu ainda não acabei, bom homem! Bem, trate-me então por duquesa, se fizer a fineza.” Levantou-se. “Ah e tem a minha bênção ou o caralho que nós duquesas vos damos para matar os franceses.” Nesse momento entrou um homem com uma farda vermelha. Ao ver a mulher com a arma apontada a um operário parou. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">“Miss Gonçalves?” Ela acenou sem virar a arma. “General Beresford, at your service, madam!” Adosinda desarmou a pistola e guardou-a. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">“I see my husband has already informed you the details?” O homem pareceu confuso, não só pelo aperto de mão forte, mas pela observação. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">“Details, madam?” </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">“Well but of course. You are at my service, General Beresford!” </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">2. Um plano para a Invicta </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">“Portanto, precisamos de um plano!” Adosinda observou com os dois pés em cima da mesa. O general tinha pedido uma chávena de café, ao que ela simulou um riso quase genuíno e deu-lhe duas palmadas nas costas. “Você tem piada! É mesmo disso que eu preciso! Ó Jacinta, traz aqui dois copos de um bom verde para o general, que ele está aqui para matar franceses!” </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">“Do you have a plan, madam?” </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">“É claro que tenho um plano, criatura. Não o chamaria sem um. Mas vá, aqueça a garganta antes de eu lhe explicar. Tudinho!” </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">O general levou o vinho à boca e saboreou. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">“I will only ask you to speak slowly, as I have not yet learnt Portuguese fully, in order to have a conversation.” </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">“Não há problema, eu falo devagarinho como você quer, explico-lhe tudo e se quiser até traduzo no fim! O meu plano é simples: você mata franceses, yes?” O general acenou. “Eu também mato franceses com você, ajudo-o, yes?” O homem concordou. “Damos um pontapé no Junot and then you, my friend will be president of the North!” O homem não acenou. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">“President?” </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">“Sim, você sabe, quem manda e tal. O nosso rei deu de chispes para o Brasil e aqui no Porto a gente é muito simpática e precisamos de um rei or something like that. Mas vocês lá na Bretanha fazem as coisas mais civilizadas que nós! Que acha? Aceita?” </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">O homem ficou embasbacado. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">“But… but I am not Portuguese? Why would your people accept me as their ruler?” </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">“Oh general, não se preocupe com o facto de não ser inglês. Se der um pontatpé nos franceses até pode ser galego. Quer dizer galego não, que a gente dá-se mal com Espanha… Nem podia ser lá do Brasil, que senão também lhes davam cabo do canastro. Enfim não tem nada a ver consigo! Se fizer o seu trabalho, tem um país seu. Imagine só, general Beresford.” </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">O homem não tinha bigode para coçar, senão estaria naquele momento a pensar enquanto afava o bigode. A proposta não era má do todo, mas porque raios queria aquela mulher dar-lhe o governo do país para o colo? I will be damned, pensou, se esta mulher me está a enganar! O que ganharia ela com isto? </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">“What it is for you, miss, once I am in charge?” </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">“Eu não quero nada, general…” Voltou-se para o prato onde descansavam as beatas dos cigarros. “Quer dizer, querer, querer, of course que quero algo.” </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">“You should name your price.” </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">“Well, o meu preço é apenas um. Ficar com o Junot depois da batalha!” O general falhou em conter uma gargalhada. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">“That is mostly peculiour, madam. Why would a married woman like you, want a smelly French general for?” </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Adosinda aproximou-se dele e segredou. “Sabe, general, existe uma recompensa, a reward de dois mil reais para quem entregar as ceroulas do Junot. And as you are informed, dois mil reais é bem mais do que Portugal vale neste momento.” </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">“That much? Well then you shall have your money and I, my own country…” Virou-se para o balcão e esforçou-se por soltar uma frase em português. “Jacinta, pór fabor, trága two cops de vinho, for us. To celebrate!” </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">3. Vamos pintar os franceses de carmim </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Os soldados franceses manchavam a terra de vermelho. O exército do general Beresford era eficiente e o povo do Porto ajudou à causa. Mais valia ter um britânico a lutar pelo país, que um rei covarde. O general armou as mulheres e os homens contra os invasores. Adosinda não se cabia de contente. Sempre que encontrava um francês com o fato manchado de vermelho sabia bem que eram franceses vampiros. Ainda bem que a Maria Adelaide tinha feito o seu serviço! Vampiros e franceses era uma sorte dos diabos poder matá-los a todos com a caçadeira. Um vampiro francês morto, dois vampiros franceses mortos, três vampiros franceses mortos. Todos rebolavam para o Douro, o rio enchia-se de corpos e flutuar. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">“Madam, you have to pay some attention.” O general Beresford cavalgou até ela. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">“Cuidado porque raios?” Limpou a arma. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">“You are attracting too much attention!” Adosinda não via onde é que atrair atenções era mau. Para além dela não saber quem raios era o Junot. Tudo bem talvez fosse o moçoilo jeitoso que estava em cima do seu cavalo todo cheio de condecorações. Já te apanhei, meu cabrão! “Now, miss I ask you to be discreet.” </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">“Discreta? But General I am just painting the French red!” </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">4. E assim nasceu a Inbicta </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Junot acordou de pernas para o ar, amarrado com as partes de baixo desnudas. Uma mulher estava sentada no que parecia ser uma mesa rasca. Adosinda começou a mascar o charuto. Que merda, não era fluente a francês, e agora, como raios ia explicar o porquê de ele estar ali de pernas para o ar com o, bem era pequenino, à mostra? </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">“Je suis desolée pour cette situation… Comprenez-vous portugais, général Junot?” O homem acenou. “Ai que rico moço! Bem era só para o avisar que sou eu que tenho as suas ceroulas.” </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">“Pourquois voulez-vous ma cullote?” </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">“As suas ceroulas são famosas, caro Junot! Ai se você soubesse quanto elas valiam até você as dava.” </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">“Madame, je ne comprend pas pourquoi mes culottes sont importants?” </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">“Ó criatura não são as ceroulas. É por causa de você! Ora bem, você foi capturado, vocês perdem, os ingleses ganham. Guerra é guerra, senhor Junot.” O francês mostrava claros sinais de cansaço e inquietação. “Senhor Junot, as ceroulas provam a sua derrota. Dois mil reais para os meus bolsos pela sua cabeça. Sabe o que vou fazer com este argent, general?” O homem abanou a cabeça. “Non? Quel dommage! Com os reais, je vai comprar o Porto a Portugal et sendo a nova dona de um pays, je vai denominá-lo de Inbicta. Que acha, general? C’est mangnifique, non?” </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">O General abanou a cabeça. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">“Mais vous êtes folle?” </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">“Qual louca! Não gosta do nome? Que pena. Pense assim, general a sua derrota vai ficar para a história! A derrota do general francês originou a criação de um país independente, a Inbicta, onde os franceses foram pontapeados e nunca mais voltaram! Et Voilà, Ça c'est Histoire, mon petit général!” A porta abriu-se, deixando passar um faixe de luz. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">“Ele ainda está vivo?” </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">“Ah Adelaide, eu nunca falho um compromisso. Prometi-vos o general vivo e aqui o tendes. Já estava farta de falar francês. Como está o Beresford?” A mulher sentou-se ao lado de Adosinda. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">“O povo adora-o. É visto como o salvador do Porto, except he is broke.” Adosinda sorriu. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">“Not anymore, my darling.” Olhou para o Junot. “Ah mas este general é feito de ouro.” Um vampiro entrou no casebre. Cabelo preto amarrado, vestido com fato militar. “Olha-me esta, sim sra, o duque de Aveiro em pessoa aqui, vê general como a gente gosta de si! A sua sorte é alguém dos Távora ser vampiro e viver o suficiente para presentear-nos com a sua presença.” Adosinda esboçou um sorriso amarelo. O vampiro pegou na sua mão direita e beijou-a. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">“Soube que foi um sucesso a matar os vampiros franceses.” </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">“A gente cá luta pelo que é nosso. Quando temos franceses, consigo tolerar-vos.” Levantou-se a aproximou-se do general, dando-lhe uma palmada no traseiro à vista. “Sejam simpáticos. Olhem que o general aqui vem de um Império e não está habituado a parvónias!” Saiu do casebre e fechou a porta. Em direcção à estalagem pensou que seria boa ideia deixar o homem com dois vampiros. Encolhou os ombros. Já tinha a prova que merecia o seu dinheiro e ainda tinha dado uma coça aos franceses. Qual viva lá liberté, bom era ver os portuenses separados de Lisboa e com um homem de armas a chefiá-los. Na estalagem mandou recado para estarem prontas cinco malas para uma viagem longa. Chegou ao porto da Foz de carruagem. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">“Ouve lá, porque raios pediste isto?” Afonso, um homem alto com uma barriga generosa, esperava-a de barba aparada e também ele com as malas a seu lado. Adosinda beijou-o e abraçou-o. Fez sinal a um senhor que estava perto. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">“Desculpe, mas esta embarcação vai para o Brasil, certo?” O homem acenou. “Vês, vamos para o Brasil! Consegui duas passagens para nós os dois.” </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">“Porque é que vamos mesmo para o Brasil?” </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">“Ora, saiu hoje um pedido de que quem encontrasse a peruca do D. João VI ganharia seis mil reais! Isto ainda é maior que as ceroulas do Junot e escuso de ver El-rei com o mastro a badalar!” Afonso abraçou-a. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">“Para o Brasil?” </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">“Mais oui, monsieur. Vamos pintar os brasileiros de carmim!”</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-4Uj5CkgNA-U/USFVGjeRiQI/AAAAAAAAAxQ/B_tQM997veY/s1600/pintar_franceses.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><span style="background-color: black; color: white;"><img border="0" height="400" src="http://3.bp.blogspot.com/-4Uj5CkgNA-U/USFVGjeRiQI/AAAAAAAAAxQ/B_tQM997veY/s400/pintar_franceses.jpg" width="400" /></span></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<iframe src="//www.facebook.com/plugins/like.php?href=http%3A%2F%2Ffantasy-and-co.blogspot.pt%2F2013%2F02%2Fvamos-pintar-os-franceses-de-carmin-ana.html&send=false&layout=standard&width=450&show_faces=true&font&colorscheme=dark&action=like&height=80" scrolling="no" frameborder="0" style="border:none; overflow:hidden; width:450px; height:80px;" allowTransparency="true"></iframe>Pedro Pereirahttp://www.blogger.com/profile/16237610875767630532noreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-5601410284250402159.post-87317908491104832572013-02-17T21:30:00.000+00:002013-02-17T21:33:28.143+00:00O Canto da Ninfa - Carina Portugal<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Inspirou fundo, lançando um olhar à Deusa Lua que crescia nos céus, antes de as pálpebras se fecharem e o seu espírito se preparar para entrar em meditação. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Sem aviso, uma série de salpicos frios atingiu-lhe o rosto, quebrando-lhe a concentração. Estremeceu e piscou os olhos, enfrentando o luar que se reflectia no Lago Sagrado. As águas ondulavam, perturbadas por algo que o elfo não conseguia ver. Talvez uma pedra, talvez um peixe… olhou em volta, contudo o bosque parecia imperturbável. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Era ainda demasiado cedo para a maioria dos habitantes acordar. Não havia razão para estar ali mais alguém. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Suspirou e encolheu os ombros, voltando a fechar os olhos. E, mal o fez, foi novamente atacado por uma onda de salpicos. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– Hey! – protestou, abrindo os olhos, a tempo de ver desaparecer na água um rosto feminino, enquanto uma gargalhada divertida se diluía no ar. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Descruzou as pernas e debruçou-se sobre o lago, tentando ver para além do espelho que reflectia um rosto intrigado. Levou a mão à água e tocou na superfície instável. Tão depressa que não lhe deu tempo para se afastar, o rosto voltou a surgir muito perto do seu. Dois braços saíram da água e entrelaçaram-lhe o pescoço, puxando-o. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">O elfo caiu de cabeça dentro das águas profundas. Esbracejou e esperneou para voltar à superfície, em busca de ar, e, quando a cabeça furou a água, lançou um olhar atarantado à sua volta. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– Quem está aí? – quis saber, ofegando. Afastou o cabelo do rosto, com uma mão. – Isto não é muito simpático de se fazer, sabias? </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Ao seu lado, a corrente sofreu uma ondulação atípica, e as águas redemoinharam, até formarem um corpo delgado, feminino, cujos olhos o espreitaram à superfície, arrependidos. Ele conseguia ver-lhe a silhueta desnuda, através da ondulação do lago, tão perfeita e líquida quanto uma filha das águas poderia ser. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Não conseguiu evitar um sorriso compreensivo. No final de contas, muitas ninfas viviam solitárias ou perdiam-se na corrente, vogando pelos trilhos incertos da água. Não constava que alguma habitasse as Lágrimas da Deusa, por isso esta deveria ter chegado há pouco tempo. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– Chamo-me Ilnosianar e sou um dos habitantes de Nelgadir, a terra onde estais – informou, tentando esquecer a frieza que se entranhava no corpo. – Donde vindes e qual o vosso nome? </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">A ninfa abriu muito os olhos e abanou a cabeça, enquanto as faces ganhavam um rubor súbito, como se ele lhe tivesse feito uma pergunta indecorosa. Mergulhou e desapareceu, sem lhe permitir dizer mais nada. O elfo piscou os olhos, atordoado com a timidez dela. Chamou-a uma, duas, três vezes, porém ela não voltou a surgir ou sequer a atirar-lhe água. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Acabou por se içar para terra firme, com um gemido. Depois de relancear o lago uma última vez, afastou-se para o palácio, pensativo. A túnica e as calças deixaram um trilho de pingos de água. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Todas as noites, Ilnosianar regressava às margens da Deusa. Por vezes encontrava dois olhos a observá-lo, contudo a ninfa não se atrevia a aproximar, como se ele lhe tivesse feito algum mal ao perguntar-lhe o nome. Numa tentativa de se mostrar mais amigável, conversava, apesar de não obter respostas, contava-lhe história, e chegou mesmo a levar uma flauta e tocar para ela. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Sete noites depois, a ninfa voltou a acercar-se, enquanto ele tocava uma melodia cujo som se harmonizava com o pio esporádico de uma coruja e com o ramalhar nocturno. Apoiou os braços na margem e deixou a cabeça repousar neles, enquanto o observava. Um sorriso de agrado despontou nos lábios do elfo, contudo não interrompeu a melodia, com medo que ela voltasse a fugir. Quando por fim terminou, baixou a flauta e soltou um suspiro satisfeito. A ninfa levantou a cabeça e bateu palmas, entusiasmada. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– Muito agradecido, bela donzela. Fico feliz por ter sido do vosso agrado. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">A ninfa fez um aceno rápido e impulsionou-se um pouco mais para fora de água, só para lhe chegar ao rosto e lhe depositar um beijo rápido nos lábios, antes de se desfazer em mil gotículas. Espantado, Ilnosianar levou uma mão à boca, onde ficara um resquício de humidade. Um calor breve corou-lhe as bochechas. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Nessa noite, a ninfa não voltou à superfície, e o jovem príncipe quedou-se a mirar as águas onde se reflectia a Lua Cheia. Sorria para si, com o rosto de um tolo que se enamorara pela curiosidade, timidez e simultâneo atrevimento daquela bela criatura. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">A partir desse dia, a ninfa ganhou coragem para se sentar ao lado dele, sem se importar com a nudez, observando-o e bebendo-lhe as palavras das histórias, sem nunca articular uma sua. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– Gostava de te ouvir falar – confessou ele. Achara por bem deixar as formalidades de lado. – Poder chamar-te pelo nome. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Por vezes a pele da ninfa ondulava, instável como a água, e os olhos lembravam pequenas lagoas azuis. Foi o que aconteceu, quando ela levou ambas as mãos à boca e abanou a cabeça. O elfo quase se sentiu a mergulhar nos orbes pesarosos dela. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– Não volto a insistir – garantiu, desviando a atenção para o mar de estrelas. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">A ninfa mordeu o lábio inferior e, numa decisão súbita, abraçou-o contra o corpo húmido, beijando-lhe o rosto inúmeras vezes, em forma de perdão. O toque dela era tão meigo que Ilnosianar não conseguiu ficar-lhe indiferente. Retribuiu o abraço, esperando que ela não se diluísse e fugisse dos seus braços, e uniu os lábios aos dela, provando a sua doçura e desejando-a para si. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">A filha das águas acabou por se afastar, com um sorriso, e deslizou para dentro da água. Uma pontada de desilusão assaltou-o, porém os braços dela esticaram-se para si, chamando-o. Depois de se despir, Ilnosianar juntou-se à ninfa, deixando-se levar num jogo de carícias fugazes e beijos líquidos, sob o olhar da Deusa, cujo astro minguava no céu. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="background-color: black; color: white;">* </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Nessa noite, com a chegada da Lua Nova, o luar extinguira-se. Ainda assim Ilnosianar conseguia perscrutar o caminho que o levava até ao lago, apressando-se com a ânsia de enamorado a bater-lhe no peito. Na mão levava três jóias-da-deusa que desabrochavam durante a noite. Viu a sua ninfa, quando estava já perto do lago – esperava-o em terra firme, com um sorriso, e quando o viu correu para ele, abraçando-o. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Recebeu-a com um espanto mudo. Era a primeira vez que a via completamente fora de água. Abraçou-a com umas das mãos e tomou-lhe os lábios. O corpo da ninfa estava mais quente e menos húmido. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– Não devias ter abandonado a água. É o teu elemento, pode fazer-te mal estares longe dele. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– Não me fará mal – murmurou ela, num tom melodioso que lembrava o canto das aves. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Ilnosianar arregalou os olhos. Ela falara, por fim! E a sua voz era tão bela, tão doce, tão nítida como o vento… imaginara-a mais líquida e fresca, na verdade, e isso revolveu-lhe a alma, sem saber porquê. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– Porque é que não falaste antes? – perguntou, ansiando uma resposta que o serenasse. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">A ninfa encolheu os ombros. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– O que interessa? Não devemos desperdiçar este tempo precioso – murmurou, contra os lábios dele. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">A voz dela embargava-lhe a mente de tal forma que aquela resposta foi suficiente para apagar receios ou suspeitas. Era como se lhe ciciasse uma música de embalar. O elfo vacilou e as flores escorregaram-lhe das mãos. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– Deitemo-nos, meu amor – disse-lhe, pousando-lhe uma mão no peito. – Estás tão cansado… </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Ele começava a acenar, quando olhou de relance a superfície do lago. Dois orbes espreitavam, arregalados. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– Espera – pediu, tentando perceber de quem eram aqueles olhos, se a sua ninfa estava ali, junto a si. Talvez a falta de luar lhe estivesse a ludibriar a vista. Ou talvez… </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– Deita-te – repetiu, num sussurro já perto do ouvido. – Cantarei para ti, meu príncipe, e embalar-te-ei. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">O sono apossava-se dele, como uma doença galopante. As pernas cederam e ele caiu de joelhos sobre a erva. A cabeça pendeu para a frente, encostando-se ao ventre nu da ninfa. Com carinho, ela afagou-lhe o cabelo, cantando baixinho numa língua obscura. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">O chapinhar de água passou-lhe completamente despercebido e só percebeu que algo se passava quando a música de embalar cessou abruptamente. Forçou-se a abrir as pálpebras e levantar o olhar. Quando o fez, uma gota de água atingiu-o na fronte, provinda da mão que agarrava a ninfa pelo pescoço. Seguiu o pulso e o braço com o olhar, e encontrou uma réplica perfeita da sua donzela. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Quando os olhares se cruzaram, a segunda ninfa esboçou um sorriso de lamento, antes de abrir a boca e deixar escapar um gorgolejo cristalino que ecoou por todo o bosque. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Ilnosianar despertou de súbito, como se lhe tivessem dado um banho de água fria, e pôs-se de pé com um salto. Afastou-se vários passos e mirou as duas ninfas. O som de água continuava a ecoar, invocando as ondas do mar, o grito das cascatas, o movimento dos glaciares. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">No momento em que a primeira ninfa esboçava um esgar de raiva que revelava dentes afiados, e dos dedos lhe cresciam unhas tão mortais quão estiletes, ambas explodiram – uma em múltiplas gotículas de água, outra desfazendo-se em partículas negras que caíram sobre as ervas, corroendo-as e deixando no ar um fedor que Ilnosianar reconheceu das descrições dos livros. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Aquela criatura estava muito longe de ser uma ninfa. Era, sim, um devorador de almas, que se aproveitara do decair do luar e do consequente fraquejar das protecções mágicas daquela terra para se infiltrar. E estivera tão perto de o devorar. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Contemplou o solo, que agora sorvia as gotas de água da sua ninfa, e mordeu o lábio inferior, por impulso, impedindo-o de tremer. Acocorou-se. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– Obrigado – sussurrou, afagando a terra, esperando que ela ainda conseguisse sentir o seu carinho. As lágrimas correram-lhe pelo rosto e juntaram-se à ninfa que se sacrificara para o salvar. – Odorhonirien ë lio emos, calyahne sa juved sise niadin’se. (1)</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Desse trágico dia em diante, Ilnosianar não passou uma noite sem se sentar à beira do lago, esperando-a, pacientemente. Um dia, cada uma daquelas gotículas reunir-se-ia para a reconstituir, e talvez a ninfa vogasse até às Lágrimas da Deusa, para se voltarem a abraçar. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">1 - Aguardarei o teu retorno, além da vontade dos deuses.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-ZZS2AUfvBTE/USFBzEC4s8I/AAAAAAAAAws/Nu_fDDThEZw/s1600/waterhouse50.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><span style="background-color: black; color: white;"><img border="0" height="237" src="http://3.bp.blogspot.com/-ZZS2AUfvBTE/USFBzEC4s8I/AAAAAAAAAws/Nu_fDDThEZw/s400/waterhouse50.jpg" width="400" /></span></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<iframe src="//www.facebook.com/plugins/like.php?href=http%3A%2F%2Ffantasy-and-co.blogspot.pt%2F2013%2F02%2Fo-canto-da-ninfa-carina-portugal.html&send=false&layout=standard&width=450&show_faces=true&font&colorscheme=dark&action=like&height=80" scrolling="no" frameborder="0" style="border:none; overflow:hidden; width:450px; height:80px;" allowTransparency="true"></iframe>Pedro Pereirahttp://www.blogger.com/profile/16237610875767630532noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-5601410284250402159.post-6758961020327777732013-02-14T21:30:00.000+00:002013-02-14T21:31:14.108+00:00Máquinas Infernais Vindas do Céu - Ana Ferreira<span style="background-color: black; color: white;">Um conto de Adosinda Gonçalves <br />Escrito por Ana Ferreira <br />Para o dia de São Valentim, Fantasy & co. <br /> </span><br />
<div style="text-align: center;">
<span style="background-color: black; color: white;">I </span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="background-color: black; color: white;">Apresento-vos Aurélia uma morta-viva (não lhe digam que ela é um zombie, senão ela fica fodida, loira, olhos azuis, pálida e bonitinha. Costuma usar roupas claras e está sempre acompanhada da uma sombrinha. </span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="background-color: black; color: white;">Ao seu lado Adosinda, outra morta-viva, mercenária. Cabelo castanho encaracolado, olhos verdes bem vivos e cara também pálida. Nenhuma das duas é simpática, a palavra zombie não será invocada. </span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="background-color: black; color: white;">A ler o jornal, Carlos uma criatura dócil, médico de profissão. Cabelo curto castanho claro, olhos dóceis cor de mel e um perfeito cavalheiro. Gosta de explodir coisas. </span></div>
<span style="background-color: black; color: white;"><br /> </span><br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Algures em Viseu </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Aurélia olhava para a caixa dourada com dois botões sem indicação para o que serviam. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">“Eu não vou meter isso na pachacha!” Exclamou Adosinda. O aparelho tinha-lhe vindo parar às mãos por ordem do presidente para que ela e Aurélia o destruíssem. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">“Não queres descobrir porque é que o presidente quer isto completamente demolido?” Aurélia piscou-lhe o olho e sorriu. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">“Mete tu então! Se ele disse para dar uma marretada, a gente dá! Não há cá questões.” Adosinda olhava-a de lado com o espartilho a esmagar-lhe o peito. “Já tenho ferros enterrados nas mamas, não preciso dessas coisas na racha. Que raios! O que eles haviam de inventar agora.” Pegou na bengala e ao passar por Carlos deu-lhe uma palmada no ombro. “Hoje vai ser toda a noite acordado.” Riu-se e recolheu-se para o quarto. Já sabia que a curiosidade da amiga levá-la-ia a usar a máquina para seu proveito. Acendeu um charuto e pôs-se a pensar na execução do dia seguinte. Salvar a criatura que inventou a máquina, dar uns pontapés nuns vampiros, uns tiros noutros. O seu quarto em Viseu era mais espaçoso que em Lisboa. Para além de ter um armário que dava para guardar as suas roupas, ainda tinha a retrete privativa. Apesar de morta gostava da quentura da água contra a pele. Além do mais, ajudava a disfarçar o cheiro e a integrar-se com as senhoras completamente ensopadas em perfumes daqueles dos anúncios com mulheres seminuas. Admirou a paisagem para a entrada da mansão de Carlos, médico, filho de comerciantes; aquela mansão já tinha três séculos e mantinha-se sempre atraente. Tirou o espartilho vermelho e os collants pretos, deitando-os sobre a cama. A saia preta foi deixada no chão, tal como as cuecas. Quando Afonso abrisse a porta saberia que ela estaria com as pernas fora da banheira a fumar o resto dos seus cigarros. Acariciou o peito e passou a mão pelo pescoço. As pernas pálidas separaram-se e um gemido escapou-lhe da boca. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">“Se queres que eu continue, vais ter de pagar, Aurélia.” Sorriu para a amiga. “O que se passa?” </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">“Esquecemo-nos que… estamos, bem, eu estou morta.” </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">“Estamos as duas mortas há uns bons séculos. Já te disse que não vou meter isso aqui, ainda por cima com a água, queres que eu fique com os cabelos em pé do choque, moça?” Apagou o cigarro. “O Carlos não tem aquela bebida para subir o…” Levantou o dedo indicador. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">“Acabou há pouco, mesmo assim só dá para levantar. Aquilo não dura muito tempo. Ele vai mudar o composto. Mas continuo a querer experimentar isto.” Olhou para as tenazes. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">“Cura-te filha! Olha o nosso amigo Freud se fosse um de nós, explicava essa tua obsessão pelo sexo!” Aurélia revirou os olhos. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">“Ai és tão pouco romântica! Tens aqui uma bela espécime de gaja com vontade de foder e queres um encontro com o Freud?” Adosinda saiu da banheira e agarrou numa toalha. </span></div>
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span>
<div style="text-align: center;">
<span style="background-color: black; color: white;">II </span></div>
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Aproximou-se de Aurélia e encostou os lábios aos dela. Adosinda não preferia o corpo quente de uma mulher viva. Adorava passar as mãos pelo corpo nu de Aurélia. A pele leitosa, aveludada, pronta para ser adorada pela boca. Os gemidos da mulher aumentaram de volume, aproveitando o facto de ela estar com os olhos cerrados, conduziu-a para a cama. Entrelaçavam as mãos, as pernas e riam-se quando aterraram na cama. Aurélia possuía um peito pouco volumoso, mas isso não impedia Adosinda de adorar os seus seios. Com a sua língua percorria-lhe os mamilos duros, as mãos massajavam a barriga que elevava com o prazer. Aurélia trincava o lábio. Meu Deus, que mulher! Voltou a encarar Adosinda, com um olhar perdido na volúpia. Percorreu os lábios com a língua. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">“Amo-te.” Murmurou. “Deixa-me satisfazer-te.” Adosinda acedeu, deixando que os seus lábios se tocassem mais uma vez. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Poisou os lábios no meio das pernas de Adosinda e assim que a viu morder o lábio e a fechar os olhos, colocou a pinça no clitóris. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">“Ah sua filha da…” Aurélia pousou os dedos nos lábios da amante. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">“Shhhh, vamos lá ver para que é que isto serve.” Aurélia circulou o clitóris da amante com os seus dedos esguios. Os gritos indicavam que estava no caminho certo. Adosinda guiava-a com movimentos das suas ancas e acariciava a cabeleira loura. Os olhos azuis de Aurélia atingiam o olhar perdido da amante. “Tens uma cona linda.” </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">“Olha, lá se foi romantismo!” Gozou Adosinda. Como resposta, Aurélia subiu para cima dela e trincou-lhe os mamilos. Os seus olhares cruzaram-se e regressaram aos beijos e carícias leves. A cada toque, os nervos de Adosinda pioravam e ela sabia que estava perto de conseguir atingir o orgasmo só com a língua da amiga. Afastou mais as pernas. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">“É esse o vosso conceito de comerem-se uma à outra?” Uma voz masculina e grave fez com que Aurélia parasse. Desiludida pela interrupção, Adosinda retomou a cara da amiga para o centro do seu corpo. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">“Estamos a testar uma geringonça. Ai meu Deus, o que eu faço pela ciência!” Trincou os lábios, sentiu o peito ficar apertado e mal o grito que anunciou o orgasmo ecoou pelo quarto, duas lâmpadas ligaram-se. Aurélia olhou para o tecto. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">“Uma máquina de electricidade a orgasmos? Sim senhora, onde foram desencantar isso?” O homem observava a máquina. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">“O presidente quer isso destruído! Imagina só, uma máquina destas e as companhias de electricidade iam à falência!” Para Aurélia era bastante óbvio o porquê do presidente querer aquilo aniquilado. Os prejuízos das companhias que o Estado teria. Adosinda, entretanto, já fumava o quarto cigarro do dia. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">“Isso fica como prenda como demonstração do meu eterno amor por ti.” Revirou os olhos depois da última frase. Aurélia pegou na máquina e retirou-se do quarto.</span></div>
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span>
<div style="text-align: center;">
<span style="background-color: black; color: white;">III </span></div>
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Afonso tirava a gravata e os sapatos. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">“Um homem não pode sair de casa, que chega e tem duas mulheres enroladas na sua cama.” Pegou numa rosa de plástico vermelho e ofereceu-lhe. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">“Que lamechice!” Afonso virou-lhe a cara e beijou-a com força, sem que pudesse recusar. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">“Vais-me agradecer quando souberes que essa rosa foi pintada com o sangue de três vampiros.” Adosinda olhou-o de soslaio. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">“Três vampiros?” perguntou desconfiada, gesticulando com os dedos o número três. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">“Três vampiros mortos para a mercenária mais sanguinária de Portugal!” Adosinda passou o dedo pela rosa e provou o sangue. Blergh, sabia mal, tal como o sangue podre dos vampiros. Com os lábios vermelhos sorriu. “Feliz dia dos namorados, amor!”</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-7fSTVsMjslM/UR0qAs6KsbI/AAAAAAAAAwU/1J7z17N5MHM/s1600/1344394_10337754.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="266" src="http://4.bp.blogspot.com/-7fSTVsMjslM/UR0qAs6KsbI/AAAAAAAAAwU/1J7z17N5MHM/s400/1344394_10337754.jpg" width="400" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<iframe src="//www.facebook.com/plugins/like.php?href=http%3A%2F%2Ffantasy-and-co.blogspot.pt%2F2013%2F02%2Fmaquinas-infernais-vindas-do-ceu-ana.html&send=false&layout=standard&width=450&show_faces=true&font&colorscheme=dark&action=like&height=80" scrolling="no" frameborder="0" style="border:none; overflow:hidden; width:450px; height:80px;" allowTransparency="true"></iframe>Pedro Pereirahttp://www.blogger.com/profile/16237610875767630532noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-5601410284250402159.post-74234573730381655432013-02-12T21:30:00.000+00:002013-02-28T21:45:45.355+00:00A Floresta da Morte (2/4) - Pedro Pereira<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">A manhã estava fria, mas pelo menos já não nevava como no dia anterior. Ivan esfregou as mãos para as aquecer. Aproximando-se da orla da floresta, foi ao encontro do responsável pela equipa de trabalhadores. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– E então? Quando é que podemos avançar com as máquinas? </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">O responsável, um sujeito gordo e careca, coçou o queixo e olhou para a floresta. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– Isto ainda é capaz de demorar um pouco… A vegetação é muito densa para se avançar já com os bulldozers. Vamos ter de desbravar o terreno antes de podermos derrubar as árvores. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– Nesse caso apressem-se. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– Parem! Não podem entrar na floresta! </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Ivan virou-se para enfrentar o velho. Seria possível que aquele louco lhe fosse causar problemas? </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– Vá para casa senhor Petrovitch. Deixe os meus homens trabalhar. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– Não! Tem de me ouvir! </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– Dimitri! </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Como um cão de guarda bem treinado, o jovem entroncado apressou-se a agarrar no idoso e a puxá-lo para longe do local. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– Despachem o assunto – ordenou novamente para o responsável dos trabalhadores, que lhe acenou a cabeça em sinal de concordância. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="background-color: black; color: white;">*** </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Ivan aguardava junto ao carro com Dimitri. A equipa de trabalhadores já se encontrava a desbravar o terreno. Desde que acompanhara Petrovitch a casa, que não voltou a haver qualquer interrupção nos trabalhos. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– Espero bem que aquele sujeito não nos comece a criar problemas – comentou Ivan. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– Não sei, mas o tipo deixa-me com os nervos em franja. Os olhos dele parecem completamente vazios, sem vida. É completamente lunático… </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Um grito de agonia vindo da floresta interrompeu Dimitri. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– Mas que raio?! – protestou Ivan. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Correu para a floresta a toda a velocidade. Ao chegar junto dos trabalhadores, deu com um dos homens caído no chão, agarrado ao antebraço ensanguentado. Tinha o músculo rasgado e era possível ver o próprio osso. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Um pouco mais à frente, os restantes trabalhadores berravam e gesticulavam com as ferramentas no ar, tentando afugentar um enorme lobo negro. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Ivan nunca vira uma criatura com um ar tão ameaçador. O corpo era exageradamente grande e corpulento, parecia impossível um lobo poder alcançar aquelas proporções. Com as orelhas para trás e dentes de fora, rosnava para os trabalhadores que o tentavam afugentar. Porém, apesar de estar sozinho, a criatura não fugia, parecia antes avaliar os adversários com os penetrantes olhos amarelos, como se estivesse a escolher a próxima vítima. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Ivan sacou do revólver e disparou um tiro para o ar. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Com o som do disparo, o lobo virou costas e fugiu para o interior da floresta. – Chamem uma ambulância – ordenou Ivan. – Os trabalhos estão suspensos.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-TCyhhqNmiro/URopehzjVnI/AAAAAAAAAv8/MYUh5FMdAsc/s1600/2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><span style="background-color: black; color: white;"><img border="0" height="362" src="http://3.bp.blogspot.com/-TCyhhqNmiro/URopehzjVnI/AAAAAAAAAv8/MYUh5FMdAsc/s400/2.jpg" width="400" /></span></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<span style="background-color: black; color: white;">Parte 4:</span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://fantasy-and-co.blogspot.pt/2013/02/a-floresta-da-morte-44-pedro-pereira.html">http://fantasy-and-co.blogspot.pt/2013/02/a-floresta-da-morte-44-pedro-pereira.html</a>
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<span style="background-color: black; color: white;">Parte 3:</span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://fantasy-and-co.blogspot.pt/2013/02/a-floresta-da-morte-34-pedro-pereira.html">http://fantasy-and-co.blogspot.pt/2013/02/a-floresta-da-morte-34-pedro-pereira.html</a>
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<span style="background-color: black; color: white;">Parte 1:</span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<span style="background-color: black; color: white;"><a href="http://fantasy-and-co.blogspot.pt/2013/02/a-floresta-da-morte-14-pedro-pereira.html">http://fantasy-and-co.blogspot.pt/2013/02/a-floresta-da-morte-14-pedro-pereira.html</a>
</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<iframe allowtransparency="true" frameborder="0" scrolling="no" src="//www.facebook.com/plugins/like.php?href=http%3A%2F%2Ffantasy-and-co.blogspot.pt%2F2013%2F02%2Fa-floresta-da-morte-24-pedro-pereira.html&send=false&layout=standard&width=450&show_faces=true&font&colorscheme=dark&action=like&height=80" style="border: none; height: 80px; overflow: hidden; width: 450px;"></iframe>Pedro Pereirahttp://www.blogger.com/profile/16237610875767630532noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5601410284250402159.post-83769043870285690852013-02-10T21:30:00.000+00:002013-03-07T21:36:30.743+00:00O monstro e a musa (1/10) - Pedro Cipriano<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;"><span style="color: white;"><b>O monstro </b></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;"><span style="color: white;"><br /></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;"><span style="color: white;"><br /></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;"><span style="color: white;"><i>Nós sabíamos que o mundo nunca mais seria o mesmo. Algumas pessoas riram-se, outras choraram e a maioria ficou silenciosa. Eu lembrei-me de uma linha das escrituras hindus, o Bhagavad-Gita. Vishnu tenta convencer o príncipe a cumprir o seu dever e, para o impressionar, toma a sua forma de múltiplos braços e diz “Eu agora tornei-me a morte, o destruidor de mundos”. De um modo ou de outro, todos pensamos o mesmo. </i></span></span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="background-color: black;"><span style="color: white;">Robert Oppenheimer, o pai da bomba atómica </span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;"><span style="color: white;"><br /></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;"><span style="color: white;"><br /></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;"><span style="color: white;">Naquele fim de tarde, Walter viu o caos instalar-se nos primeiros segundos de batalha. De ambos os lados, os canhões rugiram assincronamente, enquanto o jovem corria para encontrar cobertura. Agachou-se em posição fetal, numa depressão do terreno. Não podia fazer muito mais, era um inventor, não um soldado. </span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;"><span style="color: white;"><br /></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;"><span style="color: white;">Enquanto a escaramuça decorria, amaldiçoou o momento em que se voluntariara para a expedição. Apesar destas montanhas pertencerem à confederação, desde cedo ficou claro que na realidade eram controladas por insurgentes. </span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;"><span style="color: white;"><br /></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;"><span style="color: white;">Uma das explosões deu-se à sua direita, enchendo o buraco com pó e detritos. Tanto os olhos como as vias respiratórias foram fortemente afectadas, fazendo-o tossir e lacrimejar durante vários minutos. </span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;"><span style="color: white;"><br /></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;"><span style="color: white;">A artilharia calara-se. Finalmente tudo tinha terminado, pensou, espreitando para fora do buraco. O que viu deixou-o transtornado: a maioria dos soldados que acompanhava a expedição estava morta ou ferida; corpos mutilados e equipamento despedaçado via-se espalhado um pouco por todo o lado. A consternação transformou-se em desespero quando viu que os restantes se tinham rendido. Ao olhar em volta, percebeu que estavam cercados pelos rebeldes. </span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;"><span style="color: white;"><br /></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;"><span style="color: white;">Não tardou que alguns guerreiros com couraças de couro e latão o encontrassem. Com as suas espadas e lanças, obrigaram-no a sair do buraco. Enquanto o conduziam em direcção aos outros sobreviventes, ergueu a cabeça e tentou caminhar com toda a dignidade que lhe restava. Ao contrário do que esperava, não o agrediram. </span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;"><span style="color: white;"><br /></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;"><span style="color: white;">Sobrara pouco mais do que uma dúzia de homens. Os inimigos observavam-nos, prontos a agir ao primeiro movimento suspeito. O momento era tenso, pois ninguém sabia o que os esperava. O que Walter tinha ouvido sobre os povos não governados fazia-o prever o pior. </span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;"><span style="color: white;"><br /></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;"><span style="color: white;">Abruptamente, fez-se silêncio. Os guardas afastaram-se, permitindo-lhes ver o que lhes pareceu ser o comandante. Era um homem, de traços ibéricos e estatura mediana. Não parecia ser muito forte contudo, a sua expressão impunha respeito. Estava armado de um modo muito semelhante aos restantes soldados, à excepção dos dois arcabuzes extra que trazia à cintura. </span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;"><span style="color: white;"><br /></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;"><span style="color: white;">– Quem é o doutor Walter Ramos? – perguntou, num tom de voz moderado. </span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;"><span style="color: white;"><br /></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;"><span style="color: white;">O doutor não pôde evitar estremecer. Sabia que o medo que sentia saía por cada poro e que nem a suposta dignidade conseguiria manter. Como ele permanecia estático, um dos sobreviventes empurrou-o. </span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;"><span style="color: white;"><br /></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;"><span style="color: white;">– Sou eu... </span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;"><span style="color: white;"><br /></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;"><span style="color: white;">– É um prazer conhecê-lo pessoalmente. Os seus serviços são-me necessários. Gostaria que você partilhasse os seus conhecimentos e o seu génio inventivo com o meu castro. </span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;"><span style="color: white;"><br /></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;"><span style="color: white;">– O que o leva a pensar que eu vou fazer isso? – retorquiu Walter, soltando a sua arrogância sem pensar. </span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;"><span style="color: white;"><br /></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;"><span style="color: white;">– Meu caro, creio que estará mais familiarizado com uma tal ciência, à qual antigamente davam o nome de física – fez uma pausa, olhando o prisioneiro. – Sabe melhor que ninguém que até a pedra mais pesada pode ser movida com o uso da alavanca correcta. É curioso que o mesmo se passe com os homens. </span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;"><span style="color: white;"><br /></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;"><span style="color: white;">Walther não sabia como responder, acabando por permanecer em silêncio. Algo lhe dizia que aquele homem ainda tinha trunfos na manga. O tempo arrastou-se de um modo tenso. </span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;"><span style="color: white;"><br /></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;"><span style="color: white;">– Então, qual vai ser a sua decisão? – insistiu o rebelde, mostrando-lhe que estava a ficar impaciente. </span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;"><span style="color: white;"><br /></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;"><span style="color: white;">– Gostava de ver que alavanca é essa! </span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;"><span style="color: white;"><br /></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;"><span style="color: white;">– Para ser sincero, não sei qual é a alavanca no seu caso. Se me permite, vou-lhe contar um segredo. Eu sou um grande fã do método científico e, por vezes, faço algumas experiências na minha cozinha. Provavelmente estou a aborrecê-lo com as minhas palavras, já que não deve estar muito interessado em ouvir falar da minha ciência caseira. Só queria que soubesse que irei procurar de modo perseverante a sua alavanca. Creio que irei optar pelo método da tentativa e erro – relatou, fazendo um gesto com mão. </span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;"><span style="color: white;"><br /></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;"><span style="color: white;">Dois insurgentes agarraram-no e levaram-no para mais perto do comandante. </span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;"><span style="color: white;"><br /></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;"><span style="color: white;">– Não pense que me vai convencer com ameaças! – exclamou Walter, tentando controlar o medo. </span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;"><span style="color: white;"><br /></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;"><span style="color: white;">– Meu caro, já deve ter ouvido falar de um jogo antigo, creio que se chamava xadrez. Era um jogo muito interessante. Para vencer era preciso antecipar as jogadas do oponente. Todavia, para se ser um mestre, era necessário cortar-lhe também as possibilidades, de modo que ele caminhasse para a armadilha por vontade própria. </span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;"><span style="color: white;"><br /></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;"><span style="color: white;">– Não estou a entender... – protestou o inventor. </span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;"><span style="color: white;"><br /></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;"><span style="color: white;">– Matem os prisioneiros que não se puderem colocar de pé! – Ordenou com um sorriso sádico. </span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;"><span style="color: white;"><br /></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;"><span style="color: white;">Vários soldados inimigos colocaram-se à sua frente, de modo que não pôde ver o que se passava. Não tardou que se ouvissem gritos de desespero e angústia. Quando terminou, o silêncio conseguia ser ainda mais sinistro. – Meu caro, espero que isto o tenha convencido a acompanhar-me.</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;"><span style="color: white;"><br /></span></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-cuyHrf65ah4/URf7MMYsMyI/AAAAAAAAAvk/m8ATjYAJ0Vg/s1600/imagem-parte1.jpeg" imageanchor="1" style="background-color: black; margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><span style="color: white;"><img border="0" height="300" src="http://2.bp.blogspot.com/-cuyHrf65ah4/URf7MMYsMyI/AAAAAAAAAvk/m8ATjYAJ0Vg/s400/imagem-parte1.jpeg" width="400" /></span></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
<div style="text-align: center;">
<span style="background-color: black; color: white;">Parte 3:</span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="background-color: black; color: white;"><a href="http://fantasy-and-co.blogspot.pt/2013/03/o-monstro-e-musa-310-pedro-cipriano.html">http://fantasy-and-co.blogspot.pt/2013/03/o-monstro-e-musa-310-pedro-cipriano.html</a>
</span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="background-color: black; color: white;">Parte 2:</span></div>
<div style="text-align: center;">
<a href="http://fantasy-and-co.blogspot.pt/2013/03/o-monstro-e-musa-210-pedro-cipriano.html"><span style="background-color: black; color: white;">http://fantasy-and-co.blogspot.pt/2013/03/o-monstro-e-musa-210-pedro-cipriano.html</span></a>
</div>
</div>
<iframe allowtransparency="true" frameborder="0" scrolling="no" src="//www.facebook.com/plugins/like.php?href=http%3A%2F%2Ffantasy-and-co.blogspot.pt%2F2013%2F02%2Fo-monstro-e-musa-110-pedro-cipriano.html&send=false&layout=standard&width=450&show_faces=true&font&colorscheme=dark&action=like&height=80" style="border: none; height: 80px; overflow: hidden; width: 450px;"></iframe>Pedro Pereirahttp://www.blogger.com/profile/16237610875767630532noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5601410284250402159.post-41144285930092429682013-02-08T21:30:00.000+00:002013-02-08T22:00:20.025+00:00Um Dragão com Alergia - Ana C. Nunes <div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;"><span style="color: white;">Numa terra de dragões, Kervarünim era apenas mais um entre muitos lagartos alados gigantes e cuspidores de fogo. </span></span></div>
<span style="background-color: black; color: white;"></span><br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<span style="background-color: black; color: white;">
<div style="text-align: justify;">
Não possuía a beleza resplandecente dos Dragões de Água, cujas escamas cintilavam à luz do sol e ofuscavam todos quantos se perdessem a admirá-los. Nem sequer o corpo maciço e quase inquebrável dos Dragões da Terra, venerados até pelo solo que estremecia quando as suas potentes asas os elevavam nos céus. Nem tão pouco era rápido como os Dragões do Ar, lagartos sinuosos que deslizavam pelos céus de forma quase invisível e eram capazes de abater outros dragões em menos de um segundo – os factores surpresa e rapidez, aliados à gravidade não deixavam dúvidas sobre quem eram os verdadeiros reis dos céus. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Os Dragões do Fogo eram aborrecidos. Cuspiam fogo, sim senhor, mas pouco mais faziam. E isso de pouco lhes valia contra os jactos cristalinos dos aquáticos, a força dos terrestres e a destreza dos aéreos. Não! Os dragões do fogo viam-se aborrecidos grande parte do tempo, estendidos ao lado dos canais de lava que os mantinham quentes, mas afastados dos seus irmãos de nome. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
E assim havia crescido Kervarünim, no meio de outros dragões como ele: banais, menosprezados e constantemente mal-humorados (possivelmente em consequência da quase exclusão social). </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Atirar bolas de fogo aos outros dragões, durante o tempo de brincadeira, tornava-se aborrecido depois de alguns anos a fazer o mesmo todos os dias, à mesma hora, com os mesmos dragões que, por serem também eles dragões do fogo, eram imunes aos ditos jatos de calor. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Daí que não tenha sido surpresa quando Kervarünim se prestou a sair em voo descuidado pelos céus, ignorando os conselhos alheios e até maternais. As suas asas membranosas, ainda em fase de crescimento, arreliaram-se contra os ventos amenos e fizeram-no rodopiar pelo ar numa demonstração de falta de coordenação que fez a sua progenitora corar por baixo das escamas vermelhas enquanto o via afastar-se e se mantinha aninhada ao pé do seu mais recente rebento. Apesar de ainda ser um dragão jovem, a sua progenitora estava convencida que ele, Kervarünim, tinha idade suficiente para lidar com as consequências das suas escolhas. No entanto, se pudesse falar, certamente a mãe dir-lhe-ia (ou berraria) que ganhasse juízo e voltasse para trás, mas Kervarünim, tal como todas as outras crias, nunca prestava muita atenção ao que a mãe dizia. Não é que não a amasse, mas todos sabiam que as mães exageravam e que os jovens sabem sempre mais e melhor. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Que mal poderia haver em visitar o território dos dragões de terra? Não tinham todas as quatro raças relações próximas? Não haviam, em tempos, estado todos juntos? Kervarünim desconhecia o porquê de agora estarem separados mas, tendo em conta as esculturas de lava que via nas cavernas, sabia que antes todos eles conviviam em harmonia, até que deixaram de o fazer, passando apenas a coabitar com algumas quesílias sempre presentes – nada de grave, pelo que sabia -. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Ele voou até onde as suas jovens asas lhe permitiram mas, quando avistou o azul resplandecente das águas, decidiu descer e pousar as patas vermelhas nas margens do extenso lago azul que enchia o vale formado por duas grandes montanhas verdes. A areia grossa fazia-lhe cócegas nas almofadas das patas e entranhava-se-lhe entre os dedos, arrepiando-o, até que um largo sorriso lhe escapou do focinho. Brincou largos minutos no areal, saltando nas quatro patas, arrastando montes de areia com a cauda sinuosa e esfregando o pescoço na relva fresca que crescia ao longo da linha de água. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
No meio da relva viu, pela primeira vez, flores. Na terra dos dragões do Fogo nenhuma vida prosperava, para além da sua própria espécie, e a mãe nunca o deixara brincar nos campos verdejantes em volta dos vulcões e que tanto o fascinavam. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Cautelosamente aproximou-se da pequena flor branca com centro amarelo, que se destacava no meio de tanto verde. O seu longo focinho vibrou, inalando o cheiro gracioso e subtil da planta. Do seu corpo saiu um som quase parecido com um ronronar e fechou os olhos, cheirando uma e outra vez a pequena planta, esperando gastar-lhe o cheiro ou até, talvez, desejando que este se transferisse para ele. Assim ficou durante muito tempo, inspirando profundamente, vendo a pequena planta oscilar enquanto quase a sugava pelas narinas. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Um estranho restolhar das ervas fê-lo erguer as orelhas pontiagudas no ar e levantar a cabeça. De olhos inquietos, Kervarünim perscrutou as dunas até que os seus olhos alaranjados caíram sobre uma silhueta sinuosa que se erguia no cimo de uma grande duna verdejante, contra o sol, de asas majestosas abertas. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Sorrindo Kervarünim saltou até junto do outro dragão. Ao aproximar-se percebeu que não era um dos seus amigos e parou a escassos centímetros de embater nele. De corpo esguio e pele escamosa e brilhante, com não mais que uns dois metros de comprimento e umas asas que se esticavam bem maiores que o seu jovem corpo, estava uma fêmea de dragão, de focinho achatado, guelras fechadas, enormes olhos azuis e salientes, patas finas, quase como barbatanas e uma cauda carnuda que terminava fina e se abria em duas finas barbatanas quase transparentes. A jovem dragoa da água olhava-o curiosa. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Miraram-se por instantes, estranhando-se. Kervarünim nunca estivera tão próximo de um dragão da água e pressentiu que ela nunca convivera com nenhum dragão do fogo. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Rodearam-se lentamente, cheirando-se com cautela, sem se tocarem ou fazerem movimentos bruscos. Ela foi a primeira a inverter o sentido e aproximar-se do rosto dele, talvez cansada da sua indecisão, lambeu-lhe o longo focinho vermelho com a sua língua lilás e prontamente saltou para cima dele, encavalitando-o. Apanhado de surpresa, Kervarünim caiu na relva e rebolou duna abaixo, juntamente com ela. Aterrou de costas e esperneou-se alguns instantes, pateticamente. Assim que se levantou a Dragoa voltou a saltar para cima dele, mas dessa vez ele estava preparado. Rebolaram os dois nas dunas, engolindo areia e erva, rindo, mordiscando, arranhando e guinchando de alegria. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Hunivëry, a dragoa da água, voava com elegância, ao contrário dele, que mal se conseguia aguentar-se nas asas. E tão concentrado estava no seu desempenho que não percebeu que tinham subido uma encosta e a paisagem se alterara. O verde da relva estava salpicado de branco, rosas pálidos e amarelos tímidos. O cenário parecia outro e não fosse avistar a sua amiga junto do lago, juraria que estava no local errado. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Com o focinho, Kervarünim apontou para as flores, das quais não conseguia arrancar os olhos. O verde de relva perdia-se no brilho das cores luminosas das flores. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Percebendo a atenção dele nas belas flores, ela roçou o focinho molhado no dele e desceu, incitando-o a segui-la. Ele assim o fez, atento a todas as suas patadas, cuidadoso para não pisar nenhum planta branca, amarela ou rosa, esticando o pescoço para as cheirar as todas, zonzo com tal overdose olfativa. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Sentiu alguma comichão nas narinas mas não parou de cheirar tudo o que lhe aparecia à frente, expandido as fossas nasais até quase parecerem rebentar. Hunivëry observava-o, curiosa e imitava-o de tempo a tempos. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Ele cheirou mais uma flor e algo no interior do seu nariz rebentou. Fechando as narinas, o dragão de fogo ergueu a cabeça bem alto. A sua amiga imitou-lhe a pose, alerta, e quando o dragão do fogo deu alguns passos atrás e abanou violentamente a cabeça, ela assustou-se e afastou-se. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
De pescoço esticado, focinho comprido e retorcido, olhos semicerrados e uma expressão horrorosa presa na boca, Kervarünim enrolou as patas umas nas outras e urrou, um espirro. Chamas vermelhas projectaram-se-lhe da boca entreaberta e saíram na companhia de uma camada espessa de ranho, pegando fogo ao verde das ervas e ao branco, amarelo e rosa das flores. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Os olhos de Kervarünim encheram-se de lágrimas e ele prendeu a respiração, numa tentativa desesperada de aprisionar o espirro, mas não o conseguiu por mais que uns segundos e quando o soltou, foi pior que o anterior. Mais fogo e mais ranho. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Lambidas pelas chamas, as dunas pareciam gemer de dor. Hunivëry bateu as asas e levantou voo para se afastar do fogo. Do alto puxou do seu interior um jacto de água e apagou os fogos mas os espirros dele não cessavam e cada gritinho alérgico vinha acompanhado de bolas de fogo. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Kervarünim tremia entre espirros e tentava conter a sua recém-descoberta alergia, mas via-se sem forças para combater o seu sensor interno. Hunivëry, vendo a aflição dele, sobrevoou as costas do Dragão do Fogo e desceu sobre ele. Com cuidado, fechou as patas sobre os ossos das asas dele e ergueu-o no ar, esticando o pescoço e, forçando os músculos, levantou-o no ar o mais que pôde, afastando-o do campo de flores. O dragão ainda espirrou várias vezes durante o voo, quase fazendo com que ambos caíssem, mas quando ela o pousou no areal, as suas narinas inflamadas estavam bastante mais calmas. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Ele caiu no areal, em prantos, escondendo o focinho entre as patas dianteiras. Ela suspirou e deitou-se ao seu lado, batendo-lhe com uma das patas nas costas, tentando acalmá-lo. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Remelento e ranhoso, Kervarünim levantou o focinho para mirar as belas dunas verdes e, mais á frente, as flores que haviam sobrevivido ao seu ataque alérgico. Os estragos não tinham sido tão extensos como temera. Enquanto espirrava sem contenção, pensara ter posto todo o vale a arder, mas pouco mais que alguns metros de terreno fértil estavam chamuscados. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
De focinho trémulo e lágrimas em queda, ele voltou-se para a amiga e lambeu-lhe o focinho, num gesto de agradecimento. A dragoa fez uma careta enojada e limpou o ranho transferida para si, com as patas, dando-lhe depois uma patada no focinho para que ele não voltasse a lambê-la naquele estado. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Ferido no seu orgulho, Kervarünim arrebitou o focinho, semicerrou os olhos amarelos quase felinos e levantou-se com um salto. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Tão depressa estava em cima das quatro patas como caiu, raspando o focinho na areia grossa. Hunivëry rebolou na areia, chorando um riso estranho e forte que muito se assemelhava a um rugido. Bufando, o dragão do fogo virou-lhe costas e enrolou-se, batendo com a cauda pontiaguda na própria bochecha. Quase se levantou de novo, com os nervos, mas sentindo-se fraco das patas decidiu ficar quieto, para não dar novo espetáculo à amiga que rebolara até cair dentro e água. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Ela saiu do lago confiante e sorridente, sacudindo o corpo e salpicando-o, o que o deixou ainda mais mal-humorado, enrolado e sisudo. Hunivëry pousou a cabeça na barriga dele e suspirou, olhando o céu e depois olhando-o a ele. Na ausência de resposta física, mordiscou as orelhas do dragão e puxou-as. Ele debateu-se, dando-lhe patadas e tentando morder as orelhas dela, sem sucesso. Ela abocanhou-lhe a cauda, ele virou-se para a atacar, mas já ela se adiantara, beliscando-lhe o pescoço. Furioso, não ferido, Kervarünim atirou-se sobre ela. De olhos arreguilados e boca aberta, a dragoa não teve tempo de se afastar. Com o peso dele caiu ao lago e ele foi junto. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Qual gato escaldado, o dragão do fogo saltou mal as suas patas entraram em contacto com a água, mas na sua aflição pulou para o lado errado e acabou totalmente dentro de água. Tentou voar mas as asas molhadas não lhe permitiram a façanha. Hunivëry mordeu-lhe a orelha e, antes que ele pudesse protestar, puxou-o para terra firme. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Desgastado e patético, o dragão deixou as patas cederem e o seu corpo tombar na areia esbranquiçada. Engasgou-se com água e tentou deitá-la toda para fora, envolvendo-se depois numa tentativa de deitar fogo. Nada mais saiu que fumo, o que o fez engasgar-se. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Hunivëry observou tudo com os dentes pontiagudos à mostra e os olhos esticados num sorriso. Saltou para cima da barriga dele e um jato de água saiu da boca do dragão do fogo. Divertida voltou a pular em cima dele, que, deitado de lado na areia, já não dispunha de forças para a afastar. A cada salto uma nova fileira de água lhe saia da boca e por uns momentos Kervarünim julgou ter engolido todo o lago. Mas o lago ainda lá estava, azul, calmo e intocado, enquanto um dragão do fogo recuperava as forças e uma dragoa da água se divertia a atormentá-lo.</div>
</span><br />
<div>
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-z8EmCpYPjUc/URS-znccAvI/AAAAAAAAAvM/cfukaMTy_1w/s1600/imagem.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><span style="background-color: black; color: white;"><img border="0" height="211" src="http://3.bp.blogspot.com/-z8EmCpYPjUc/URS-znccAvI/AAAAAAAAAvM/cfukaMTy_1w/s400/imagem.jpg" width="400" /></span></a></div>
<div>
<br /></div>
<iframe src="//www.facebook.com/plugins/like.php?href=http%3A%2F%2Ffantasy-and-co.blogspot.pt%2F2013%2F02%2Fum-dragao-com-alergia-ana-c-nunes.html&send=false&layout=standard&width=450&show_faces=true&font&colorscheme=dark&action=like&height=80" scrolling="no" frameborder="0" style="border:none; overflow:hidden; width:450px; height:80px;" allowTransparency="true"></iframe>Pedro Pereirahttp://www.blogger.com/profile/16237610875767630532noreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-5601410284250402159.post-23852827203974030392013-02-05T21:30:00.000+00:002013-02-28T21:45:57.210+00:00A Floresta da Morte (1/4) - Pedro Pereira<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Ivan apertou o casaco com força contra o peito. A neve batida a vento ameaçava gelar-lhe as entranhas a qualquer momento. Maldita a hora em que o patrão o enviara para aquele fim do mundo. Apesar da neve e do vento forte, o dia estava longe de ser frio para o que eram as temperaturas habituais na Sibéria. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– É este o maldito lugar? </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– Sim, é esta a floresta – respondeu Dimitri, ao companheiro de trabalho. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Os dois homens afastaram-se do velho carro vermelho e aproximaram-se da orla da floresta de coníferas. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">A floresta era densa, repleta de vegetação alta e de árvores com vários metros de altura. Era impensável penetrar por entre aquela vegetação, ainda mais com aquele tempo. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– Tens a certeza que o idiota do Ygor fez bem a análise do solo? </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– Absoluta – garantiu Dimitri. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Ivan trabalhava para uma multinacional russa que explorava minérios valiosos. O seu trabalho era simples, ele e a sua equipa encontravam zonas promissoras para exploração e acompanhavam todo o processo até a instalação da operação estar concluída. A Sibéria era conhecida pelos solos ricos em carvão, ferro, ouro e diamantes. Aquela zona em particular mostrara-se bastante rica em ouro. Pelo menos era o que indicavam as análises de Ygor, o técnico de laboratório que trabalhava na atual equipa de Ivan. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– Muito bem. Liga aos tipos dos bulldozers. Quero-os amanhã aqui sem falta. Temos de nos livrar de todo este matagal e derrubar as árvores. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– Derrubar as árvores?! </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Ivan e Dimitri voltaram-se para ver quem falava. À sua frente estava um camponês, um homem na casa dos oitenta anos, mal vestido, de barba branca e semblante carregado. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– Não podem deitar as árvores abaixo! – protestou na sua voz rouca. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– E posso saber porquê? – questionou Ivan. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– A morte abate-se sobre quem perturbar a paz desta floresta. Se enfurecerem o espirito da floresta irão ter de pagar as consequências… Se prezam as vossas vidas, deixem este lugar em paz! </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– Superstições locais – segredou Dimitri. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– Oiça senhor… </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– Yuri, Yuri Petrovitch. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– Oiça senhor Petrovitch, o meu patrão comprou estes terrenos por uma bela quantia e tenciona explorá-los. Não se preocupe com a floresta, eu asseguro-lhe de que ela não nos vai fazer mal. Você mora aqui perto? </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">O velho apontou para o outro lado da estrada, onde se encontrava uma casa antiga. Pelo aspeto, Ivan quase era capaz de jurar que estava desabitada. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– Oiçam o que eu vos digo! Se perturbarem a floresta vão pagar o preço com as vossas vidas! </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– Dimitri, não te importas de acompanhar o senhor Petrovitch a casa? </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">O homem louro e encorpado agarrou no velho pelo braço e afastou-se em direção à casa em degradação. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– Doido varrido… – comentou Ivan para si. Voltou-se de novo para a floresta. Passou com a mão pela barba de três dias enquanto estudava mais uma vez o cenário. Iniciaria os trabalhos no dia seguinte. Com sorte, assim que as instalações estivessem prontas, talvez conseguisse que o seu patrão o transferisse para outro local. Aquele inferno gelado no norte da Rússia não era para ele.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<span style="background-color: black; color: white; margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><a href="http://3.bp.blogspot.com/-dhGX2_gvVVA/URFAG8l45OI/AAAAAAAAAu0/cbBGh8XsSfw/s1600/1.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="266" src="http://3.bp.blogspot.com/-dhGX2_gvVVA/URFAG8l45OI/AAAAAAAAAu0/cbBGh8XsSfw/s400/1.jpg" width="400" /></a></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<span style="background-color: black; color: white;">Parte 4:</span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://fantasy-and-co.blogspot.pt/2013/02/a-floresta-da-morte-44-pedro-pereira.html">http://fantasy-and-co.blogspot.pt/2013/02/a-floresta-da-morte-44-pedro-pereira.html</a>
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<span style="background-color: black; color: white;">Parte 3:</span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://fantasy-and-co.blogspot.pt/2013/02/a-floresta-da-morte-34-pedro-pereira.html">http://fantasy-and-co.blogspot.pt/2013/02/a-floresta-da-morte-34-pedro-pereira.html</a>
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<span style="background-color: black; color: white;">Parte 2:</span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://fantasy-and-co.blogspot.pt/2013/02/a-floresta-da-morte-24-pedro-pereira.html"><span style="background-color: black; color: white;">http://fantasy-and-co.blogspot.pt/2013/02/a-floresta-da-morte-24-pedro-pereira.html</span></a>
</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<iframe allowtransparency="true" frameborder="0" scrolling="no" src="//www.facebook.com/plugins/like.php?href=http%3A%2F%2Ffantasy-and-co.blogspot.pt%2F2013%2F02%2Fa-floresta-da-morte-14-pedro-pereira.html&send=false&layout=standard&width=450&show_faces=true&font&colorscheme=dark&action=like&height=80" style="border: none; height: 80px; overflow: hidden; width: 450px;"></iframe>Pedro Pereirahttp://www.blogger.com/profile/16237610875767630532noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5601410284250402159.post-25225866616479600682013-02-03T21:30:00.000+00:002013-02-03T21:33:24.262+00:00Indivíduo 103 (3/3) - Pedro Pereira<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Recupero a consciência à medida que as drogas vão abandonado o meu organismo. Curiosamente, apesar de a dosagem ter sido maior, não parecem fazer tanto efeito como da primeira vez… </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">As criaturas ainda estão no laboratório. Discutem umas com as outras. Não se apercebem de que acordei. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– Ele é claramente perigoso e instável! Não o podemos manter nesta situação! </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– E o que sugeres que eu faça, Lorek? Que mate a nosso maior feito em vinte anos de investigação?! </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– Não vejo outra alternativa. Ele é demasiado instável. O doutor viu a amplitude daquelas ondas psíquicas. Não há registo de nada assim! </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">As criaturas conspiravam para me matar. É este o meu propósito? Ser apenas uma cobaia de laboratório? Este não pode ser o meu destino! </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– Doutor! Os níveis psíquicos! </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– O quê?! Não é possível! Ele devia estar a dormir! Os sedativos, rápido! </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">O líquido verde é novamente injetado no tanque. Sinto o meu corpo a ficar entorpecido, mas logo de seguida recupero o vigor. Estou mais forte. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– Não é possível! Não está a funcionar! </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Liberto a minha energia psíquica contra o tanque que me aprisiona. Os tubos e a parede de vidro explodem em milhares de fragmentos. Estou livre. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– Matem-no! Depressa! </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Uma das criaturas corre na direção com uma arma de fogo. Ele dispara. Ergo uma barreira psíquica em meu redor e bloqueio os projéteis. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– Fujam! </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Lanço uma onda de energia contra o meu atacante. O ser é atirado pelo ar contra a parede. Ouve-se o inconfundível som de ossos a partir com o embate. O corpo cai inerte no chão com o pescoço dobrado num ângulo estranho. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Os restantes correm em pânico para as saídas do laboratório. Bloqueio todas as saídas com a minha mente. Agora eram eles os prisioneiros. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Uma a uma, ataco aquelas mentes rudimentares. As criaturas caiem ao chão sem vida com a massa encefálica a escorrer-lhes pelas fossas nasais. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Deixo uma das criaturas para o fim. O meu criador. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Ao contrário dos restantes, este ser parece não ter medo de mim. Não foge, não grita. Limita-se a olhar para mim com um estranho ar de orgulho e de loucura nos olhos. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Aproximo-me. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– Quem sou eu? </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– Quem és tu?! </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– Qual é o meu propósito? </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">A criatura parece espantada por me ver falar na sua língua. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– Tu és o resultado do meu trabalho, de uma experiência para trazer os Inai de volta ao nosso mundo. Uma raça há muito extinta e que desapareceu misteriosamente. Criámos-te a partir do ADN de um Inai. Foste o primeiro espécime a sobreviver… </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– Então sou uma cópia… Uma mera sombra do Inai que usaram. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– Oh, não! Tu és muito mais do que isso! Nós melhorámos o teu ADN. És mais forte e mais poderoso do que qualquer Inai que alguma vez tenha existido. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– E o que vai acontecer agora que a vossa experiência terminou? </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– Mas a experiência ainda não terminou! Os verdadeiros testes ainda nem sequer começaram! </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Estas criaturas… Eu não significo para elas. Não passo de uma cobaia de laboratório. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Aumento a pressão intracraniana do meu criador. O ser cai de joelhos ao chão no momento em que o seu crânio explode. Pela parede escorrem os restos do que sobrou do cérebro. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Percorro as instalações agora desertas e destruo o que resta do laboratório. Abandono o pequeno edifício envolto em chamas e penetro na densa floresta que o rodeia. Eu não nasci. Fui criado. Quem sou eu? Quem me mandou criar? Qual é o meu destino? Eu vou descobrir o meu propósito. Vou descobrir quem me mandou criar, ele irá responder às minhas perguntas. E depois? Depois vou vingar-me. Vou eliminar todos os responsáveis pelo meu cativeiro e quem se atrever a atravessar no meu caminho. Este mundo vai aprender a temer-me…</span></div>
<div>
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-A89p7fwkz7E/UQ7SkXJrBpI/AAAAAAAAAuc/_-t8eAH1OE8/s1600/3.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><span style="background-color: black; color: white;"><img border="0" height="400" src="http://3.bp.blogspot.com/-A89p7fwkz7E/UQ7SkXJrBpI/AAAAAAAAAuc/_-t8eAH1OE8/s400/3.jpg" width="278" /></span></a></div>
<div>
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div>
<div class="separator" style="clear: both; font-family: Georgia; font-style: italic; line-height: 22px; text-align: center;">
<span style="background-color: black; color: white;">Parte 2:</span></div>
<div class="separator" style="clear: both; font-family: Georgia; font-style: italic; line-height: 22px; text-align: center;">
<a href="http://fantasy-and-co.blogspot.pt/2013/01/individuo-103-23-pedro-pereira.html" style="font-weight: bold; text-decoration: none;"><span style="background-color: black; color: white;">http://fantasy-and-co.blogspot.pt/2013/01/individuo-103-23-pedro-pereira.html</span></a></div>
</div>
<div>
<div class="separator" style="clear: both; font-family: Georgia; font-style: italic; line-height: 22px; text-align: center;">
<span style="background-color: black; color: white;">Parte 1:</span></div>
<div class="separator" style="clear: both; font-family: Georgia; font-style: italic; line-height: 22px; text-align: center;">
<a href="http://fantasy-and-co.blogspot.pt/2013/01/individuo-103-13-pedro-pereira.html" style="font-weight: bold; text-decoration: none;"><span style="background-color: black; color: white;">http://fantasy-and-co.blogspot.pt/2013/01/individuo-103-13-pedro-pereira.html</span></a></div>
</div>
<iframe src="//www.facebook.com/plugins/like.php?href=http%3A%2F%2Ffantasy-and-co.blogspot.pt%2F2013%2F02%2Findividuo-103-33-pedro-pereira.html&send=false&layout=standard&width=450&show_faces=true&font&colorscheme=dark&action=like&height=80" scrolling="no" frameborder="0" style="border:none; overflow:hidden; width:450px; height:80px;" allowTransparency="true"></iframe>Pedro Pereirahttp://www.blogger.com/profile/16237610875767630532noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5601410284250402159.post-11267271474648144062013-01-31T21:30:00.000+00:002013-02-03T21:33:55.413+00:00Indivíduo 103 (2/3) - Pedro Pereira<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Despertei lentamente do meu sono e apercebi-me de que aquelas mentes primitivas continuavam a partilhar o laboratório comigo. Pareciam estar mais calmas. Não se aperceberam de que eu tinha acordado. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Mantive-me imóvel e com a mente calma, livre de perturbações. Talvez assim conseguisse enganar a máquina que me monitorizava. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Duas das criaturas falavam no seu idioma primitivo. Estavam suficientemente próximas para eu ouvir a sua conversa. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– Depois de quase vinte anos, finalmente conseguimos! Clonámos um Inai com sucesso! Temos de avisar o Supremo Sacerdote, ele vai querer saber as notícias. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– Mas doutor, não acha que ainda é cedo? Será que ele está estável? </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– Pela primeira vez conseguimos acordar um indivíduo. Não nos limitámos a clonar tecido, este desenvolveu consciência! Parece-me um motivo mais do que suficiente para informar o Supremo Sacerdote. A Igreja investiu muito nesta investigação, há muito em jogo… </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– E o que vai dizer ao supremo sacerdote? Ele quer um clone de um Inai puro, esta aberração não passa de um mestiço. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– Clir Lorek, já trabalhas comigo há dois anos neste projeto. És um dos geneticistas mais promissores que Sython já viu. Sabes perfeitamente porque é que não é possível clonar um Inai puro… </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– O corpo do espécime original tinha milhares de anos e, apesar de bem conservado, o ADN deteriorou-se, ficou incompleto… </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– E por isso mesmo, de todos os indivíduos que gerámos até agora, nenhum sobreviveu mais do que algumas horas. Só quando começámos a alterar o genoma do Inai, adicionando-lhe características de outras criaturas para o completar, é que começámos a obter resultados. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– Não me parece que o Supremo Sacerdote vá gostar da ideia de termos conspurcado o ADN do seu precioso Inai com o de outras criaturas. Os Inai são os deuses da Igreja, as crenças estão bem enraizadas no povo. Além disso, são a base de toda a civilização moderna, toda a tecnologia que possuímos resultou de engenharia reversa dos vestígios que os Inai deixaram no nosso planeta. Clonar um destes seres e alterar o seu ADN não vai contra todas as crenças e ensinamentos da Igreja? </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– Agora é que estás preocupado com moral?! Não sejas hipócrita, Lorek! Aprecia o momento. Graças a este nosso feito vamos ficar para a história! E quanto ao Supremo Sacerdote, ele não precisa de saber todos os detalhes… Afinal, o Inai é o brinquedo dele, a ferramenta ideal para controlar as massas e dar mais poder à Igreja. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Brinquedo?! Clone?! Aberração?! O que queria isto dizer?! Quem se julgavam estas criaturas para me usarem a seu bel-prazer?! Eu não sou escravo de ninguém! </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– Doutor, as ondas psíquicas! </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– Rápido, adormeçam-no! E coloquem uma dose de sedativo mais forte desta vez! A máquina detestou o meu descontrolo emocional. Em fúria, tentei libertar-me da minha cela, mas em vão. O tranquilizante foi inserido no tanque numa questão de segundos. A névoa regressou e eu caí novamente num sono sem sonhos…</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<span style="background-color: black; color: white; margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><a href="http://4.bp.blogspot.com/-Agw8TAatjOI/UQmtKSbteYI/AAAAAAAAAuE/8dirFgvHEFE/s1600/2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="253" src="http://4.bp.blogspot.com/-Agw8TAatjOI/UQmtKSbteYI/AAAAAAAAAuE/8dirFgvHEFE/s400/2.jpg" width="400" /></a></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<span style="background-color: black; color: white;">Parte 3:</span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://fantasy-and-co.blogspot.pt/2013/02/individuo-103-33-pedro-pereira.html"><span style="background-color: black; color: white;">http://fantasy-and-co.blogspot.pt/2013/02/individuo-103-33-pedro-pereira.html</span></a>
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<span style="background-color: black; color: white;">Parte 1:</span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://fantasy-and-co.blogspot.pt/2013/01/individuo-103-13-pedro-pereira.html"><span style="background-color: black; color: white;">http://fantasy-and-co.blogspot.pt/2013/01/individuo-103-13-pedro-pereira.html</span></a>
</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<iframe allowtransparency="true" frameborder="0" scrolling="no" src="//www.facebook.com/plugins/like.php?href=http%3A%2F%2Ffantasy-and-co.blogspot.pt%2F2013%2F01%2Findividuo-103-23-pedro-pereira.html&send=false&layout=standard&width=450&show_faces=true&font&colorscheme=dark&action=like&height=80" style="border: none; height: 80px; overflow: hidden; width: 450px;"></iframe>Pedro Pereirahttp://www.blogger.com/profile/16237610875767630532noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5601410284250402159.post-44349985993130655132013-01-29T21:30:00.000+00:002013-02-03T21:34:17.723+00:00Indivíduo 103 (1/3) - Pedro Pereira<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Sinto o corpo a aquecer. Os meus músculos contraem-se com espasmos e experiencio o picar da dormência nos membros. Conforme recupero a sensibilidade, apercebo-me de que estou submerso num líquido viscoso. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Abro os olhos. Luz. A claridade fere-me a vista e impede-me de ver o que quer que seja. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">A minha mente começa a recuperar da sonolência. Parece que dormi uma eternidade… Consigo sentir a presença de várias mentes primitivas em meu redor. Não estou sozinho. Oiço vozes. O dialeto é primitivo mas simples de entender. Aprendo rapidamente aquela língua rude através dos pensamentos das criaturas. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– Doutor, as medições dos níveis psíquicos estão a aumentar! </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– Não é possível! Ele está?... </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– Ele está a ganhar consciência, doutor! </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– Ao fim de tantos anos, finalmente conseguimos! </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">A excitação daquelas mentes primitivas é notória. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Aos poucos, os meus olhos habituam-se à claridade e recupero a visão. Dou por mim fechado numa sala branca, repleta de instrumentos brilhantes. Estou aprisionado numa espécie de tanque. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Um estranho ser bípede aproxima-se de mim e olha-me através do vidro. Consigo perceber que ele é o líder. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– Fantástico… Indivíduo 103, és um sucesso! Vais-me valer uma boa promoção! </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Indivíduo 103? Onde estou? Quem são estes seres? </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Já com o controlo completo dos membros, começo a bater contra o vidro com os meus quatro braços. O ser bípede afasta-se repentinamente. Continuo a bater contra o vidro, tentando libertar-me, mas os meus membros estão presos por vários tubos que saem do tanque, condicionando-me os movimentos. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– Metam-no a dormir! Já!</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Sinto que um líquido é injetado no tanque. Continuo a debater-me, a tentar libertar-me, mas o meu corpo começa a ficar mole. As mentes que me rodeiam parecem ficar cada vez mais distantes. Já não oiço vozes, já não sinto a presença das criaturas. Uma névoa cobre-me os pensamentos e tolda-me a mente. Contra a minha vontade, fecho os olhos e caio num sono profundo.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<span style="background-color: black; color: white; margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><a href="http://3.bp.blogspot.com/-jFDwmmdCyrU/UQe6pUICDLI/AAAAAAAAAts/dwi3APYFiN0/s1600/1.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="296" src="http://3.bp.blogspot.com/-jFDwmmdCyrU/UQe6pUICDLI/AAAAAAAAAts/dwi3APYFiN0/s400/1.jpg" width="400" /></a></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<span style="background-color: black; color: white;">Parte 3:</span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://fantasy-and-co.blogspot.pt/2013/02/individuo-103-33-pedro-pereira.html"><span style="background-color: black; color: white;">http://fantasy-and-co.blogspot.pt/2013/02/individuo-103-33-pedro-pereira.html</span></a>
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<span style="background-color: black; color: white;">Parte 2:</span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://fantasy-and-co.blogspot.pt/2013/01/individuo-103-23-pedro-pereira.html"><span style="background-color: black; color: white;">http://fantasy-and-co.blogspot.pt/2013/01/individuo-103-23-pedro-pereira.html</span></a>
</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<iframe allowtransparency="true" frameborder="0" scrolling="no" src="//www.facebook.com/plugins/like.php?href=http%3A%2F%2Ffantasy-and-co.blogspot.pt%2F2013%2F01%2Findividuo-103-13-pedro-pereira.html&send=false&layout=standard&width=450&show_faces=true&font&colorscheme=dark&action=like&height=80" style="border: none; height: 80px; overflow: hidden; width: 450px;"></iframe>Pedro Pereirahttp://www.blogger.com/profile/16237610875767630532noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5601410284250402159.post-33072639896959013472013-01-27T21:30:00.000+00:002013-01-27T21:46:54.135+00:00O Cálice de Prata (5/5) – Sara Farinha<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– Corvo! – André Beaumont gritou, enquanto descia o leito do rio. O estreito curso de água agora relegado a um precioso fio que cirandava através das pedras musgosas. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Certo de que se encontrava no sítio onde sucumbira à sua ganância, voltou a gritar, recebendo em troca o som de inúmeras asas que levantavam da copa das árvores em voo desenfreado. Passou as costas da mão pela testa, limpando as gotas de suor, e perscrutou as margens. A floresta era uma presença viva em seu redor mas do encurvado velho, de milhentas rugas no rosto, não havia sinal. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– Não quer o cálice de volta? – André continuou, empunhando o recipiente acima da cabeça. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– Vens devolver o que roubaste? – os olhos negros do velho vibravam de satisfação. Tão perto de André que o fez dar um passo atrás e lançar a mão sobre o punho da espada. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– Assustei-o? </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">O rosto enrugado, os cabelos cinzentos quase azulados e o aspecto andrajoso permaneciam tal como André se lembrava. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– O que me fez você? – André bramiu, agarrando o homem pelo colarinho da sebosa camisa castanha e levantando-o do chão. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– Avisei-o. – O velho murmurou. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– Amaldiçoaste-me. Isso sim! Não sabes o que fiz… – André deixou morrer a frase, à medida que pousava o homem no chão molhado, e os seus olhos se turvavam com as memórias que o atormentavam. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– Veio devolvê-lo? – o velho perguntou, com um sorriso fino nos lábios. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– Sim. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– Agora é tarde! </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– O que dizes? Não o queres? – André atirou, voltando a agarrá-lo pelos colarinhos da camisa, mas sentindo uma pequena chama de esperança a queimar dentro do seu peito. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– Foste escolhido. – o velho murmurou, olhando para trás de André. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Largando-o com um empurrão, André voltou-se para o sítio onde os olhos de Corvo haviam divagado, desembainhando a espada. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Elisabetta, num brilhante vestido prateado, era um reflexo da lua. O enorme traje composto por milhares de fios de prata enredados num espartilho e numa saia de cauda, emitia um brilho etéreo, que viajava até às retinas e as cegava a qualquer outro corpo ou cor. Os seus cabelos, antes de tom cobre, eram agora prateados como a luz da lua em pleno breu. O sorriso era pura luz, brilhante e assombroso, cegando tudo à sua passagem. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– Vês? Ela já não me quer. – Corvo murmurou, numa pilha de ossos e pele enrugada que caiu sobre o pequeno curso de água. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– Estou aqui. – André afirmou, a sua voz tremendo perante a imagem de Elisabetta. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– Bem vejo. Entrega o cálice ao Corvo. – Elisabetta ordenou. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Embainhando a espada, André ajoelhou-se à frente do velho. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– Não! – Corvo bramiu, as lágrimas escorrendo pelas rugosas faces, e embatendo na puída camisa castanha. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– Chegou a hora de um novo equilíbrio, Corvo. – Elisabetta declarou. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– Senhora… – Corvo assentiu, agarrando o pé do cálice que lhe era oferecido. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">O toque de ambos sobre o recipiente arrancou um grito ao velho, cujo rosto se encarquilhou, até nada mais ser o que uma fina camada translúcida sobre protuberantes ossos. Uma rajada de vento erodindo pele e ossadas, o corpo dele desfez-se perante o olhar assustado de André. O cálice reluziu um intenso arco-íris antes de voltar a assumir os negros, azuis e cinzentos que emitiam nas mãos dele. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– Beaumont, trazes contigo dois objectos de valor. – a voz de Elisabetta soou, fazendo-o olhar para o sítio onde ela pairava sobre a floresta. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">André deitou a mão à tira de couro que lhe apertava o, cada vez mais sujo, manto e retirou o cilindro que transportava. Os seus dedos tremeram ao desenrolar o pergaminho, arfando ao vislumbrar os selos do Grão-Mestre e do Senhor daquelas terras, que cobriam a margem inferior da mensagem. Absorveu as palavras com um pânico crescente, olhando para Elisabetta ao som das suas palavras seguintes. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– És o novo portador do Cálice da Vida. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– Não… – André murmurou num tom implorante. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– Tarde demais. – ela retorquiu com um sorriso, o seu corpo transformando-se em bruma, que encheu o cálice de pó prateado, sendo absorvido em seguida pelas côncavas paredes. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">As mãos que seguravam o cálice eram de um velho enrugado. Passou a mão pelo rosto, cheio de protuberâncias que não tinha há pouco tempo atrás, sentiu-se definhar até ser um velho tal como aquele cujo corpo acabara de ruir à sua frente. Era um velho, mas na sua mente, tinha todo o Saber do Mundo. Ele era Vida e Morte, Bem e Mal, Tudo e Nada. Ele era o Corvo, o frágil repositório do Equilíbrio. O portador do Cálice da Vida.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-BUzigItrLw8/UQWJ5Ux1JnI/AAAAAAAAAtU/hKA-7IoxNZs/s1600/raven.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><span style="background-color: black; color: white;"><img border="0" height="342" src="http://3.bp.blogspot.com/-BUzigItrLw8/UQWJ5Ux1JnI/AAAAAAAAAtU/hKA-7IoxNZs/s400/raven.jpg" width="400" /></span></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; font-family: Georgia; font-style: italic; line-height: 22px;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<span style="background-color: black; color: white;">Parte 4:</span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://fantasy-and-co.blogspot.pt/2013/01/o-calice-de-prata-45-sara-farinha.html" style="font-weight: bold; text-decoration: none;"><span style="background-color: black; color: white;">http://fantasy-and-co.blogspot.pt/2013/01/o-calice-de-prata-45-sara-farinha.html</span></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; font-family: Georgia; font-style: italic; line-height: 22px; text-align: center;">
<span style="background-color: black; color: white;">Parte 3:</span></div>
<div style="font-family: Georgia; font-style: italic; line-height: 22px;">
<div style="text-align: center;">
<a href="http://fantasy-and-co.blogspot.pt/2013/01/o-calice-de-prata-35-sara-farinha.html" style="background-color: black; font-weight: bold; text-decoration: none;">http://fantasy-and-co.blogspot.pt/2013/01/o-calice-de-prata-35-sara-farinha.html</a></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="background-color: black; color: white;"><span style="background-color: black;">Parte 2:</span></span></div>
<span style="background-color: black; color: white;">
</span></div>
<div style="font-family: Georgia; font-style: italic; line-height: 22px;">
<div style="text-align: center;">
<a href="http://fantasy-and-co.blogspot.pt/2013/01/o-calice-de-prata-25-sara-farinha.html" style="font-weight: bold; text-decoration: none;"><span style="background-color: black; color: white;">http://fantasy-and-co.blogspot.pt/2013/01/o-calice-de-prata-25-sara-farinha.html</span></a></div>
</div>
<div class="separator" style="clear: both; font-family: Georgia; font-style: italic; line-height: 22px; text-align: -webkit-auto;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; font-family: Georgia; font-style: italic; line-height: 22px; text-align: center;">
<span style="background-color: black; color: white;">Parte 1:</span></div>
<div class="separator" style="clear: both; font-family: Georgia; font-style: italic; line-height: 22px; text-align: center;">
<a href="http://fantasy-and-co.blogspot.pt/2013/01/o-calice-de-prata-15-sara-farinha.html" style="font-weight: bold; text-decoration: none;"><span style="background-color: black; color: white;">http://fantasy-and-co.blogspot.pt/2013/01/o-calice-de-prata-15-sara-farinha.html</span></a></div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<iframe allowtransparency="true" frameborder="0" scrolling="no" src="//www.facebook.com/plugins/like.php?href=http%3A%2F%2Ffantasy-and-co.blogspot.pt%2F2013%2F01%2Fo-calice-de-prata-55-sara-farinha.html&send=false&layout=standard&width=450&show_faces=true&font&colorscheme=dark&action=like&height=80" style="border: none; height: 80px; overflow: hidden; width: 450px;"></iframe>Pedro Pereirahttp://www.blogger.com/profile/16237610875767630532noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5601410284250402159.post-12132327112763267632013-01-24T21:30:00.000+00:002013-01-24T21:33:53.001+00:00Fome - Liliana Novais<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Salvador percorria as ruas desertas da cidade, àquela hora tardia. Os seus músculos encontravam-se entorpecidos pelos séculos de descanso. Despertara faminto. As roupas que envergava haviam sido suprimidas roubadas de um qualquer estendal, uma vez que aquelas com que ele se recolhera há muito que haviam sido devoradas pela passagem do tempo. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Ele tentara, em vão, forçar a sua entrada numa casa próxima do local onde dormira. Mas as portas estavam bem fechadas e as janelas cerradas, o que o impedia de hipnotizar alguma vítima incauta. Ele sabia que se não se alimentasse não recuperaria a sua força. Avançou, dominado pelo impulso, pela necessidade de sangue que o cegava. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">O som de centenas de corações a bater enlouquecia-o. Ele não os conseguia alcançar. O seu desespero era tal, que até um pedinte qualquer caído na beira da estrada serviria para aplacar a sua sede. Mas o azar perseguia-o, pois não se vislumbrava vivalma. Estava sozinho e perdido numa cidade que lhe era estranha. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Cambaleou. Sentia-se muito fraco e vulnerável. Apoiou-se numa parede para não cair. Apenas conseguia pensar em sangue. Era uma necessidade que crescia e que o estava a começar a dominar, em breve deixaria de raciocinar e abandonaria toda a prudência. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Com os seus sentidos ao máximo, procura um indício de vida, de uma refeição. A brisa de Verão transportou até si, o som de passos longínquos. Pela sua experiência, concluiu que se tratava de uma mulher que percorria as ruas sozinha. Movimentou-se rapidamente para a conseguir alcançar, sem desperdiçar energia, pelo que não podia utilizar a sua super-velocidade para a alcançar. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Parou a poucos metros dela. Ele conseguia sentir o seu perfume intoxicante. Desejava o seu sangue como nunca havia desejado ninguém anteriormente. Queria agarrá-la naquele lugar, ignorar o bom senso. Tomá-la nos seus braços, e fazê-la sua. Tinha de se conter, uma vez que alguém o podia ver. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Parou em frente a uma montra fingindo estar a olhar para esta. O coração dela a acelerou, devia tê-lo ouvido. Tinha de se afastar e segui-la com o uso dos seus sentidos apurados até um lugar mais propício. Na sua mente já conseguia saborear o seu sangue. Imaginava uma explosão de sabores que o invadiria e salivava. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Salvador seguiu-a até um beco deserto e aí viu a sua oportunidade de atacar, tinha de ser rápido e ágil. Aquele era o momento, reuniu as últimas forças que tinha e agarrou-a. Cravou os dentes com força no pescoço da rapariga e tapou-lhe a boca com a mão. O sangue começou a jorrar e a saciar a sede. Era espesso e doce. Ele sentiu o seu corpo a entrar em frenesim. As suas energias estavam a restaurar-se, a cada gota que bebia sentia-se mais forte. Agarrou-a com mais força, sentia o calor dela no seu corpo. Quanto mais bebia, mais se sentia atraído por ela, era o efeito do sangue. Desejava o seu corpo. Ela debatia-se contra o abraço mortal do vampiro. Era uma lutadora, o que o levava a sentir-se ainda mais atraído por ela. Se não tivesse acabado de acordar, ainda poderia ponderar transformá-la. A sua mão livre acariciava o corpo dela. Era dele naqueles breves instantes que partilhavam. A cada gota que bebia sentia a vida dela a esvair-se rapidamente, o seu coração abrandava. E em breve, estava morta. Ele olhou para o corpo inanimado que tinha nos braços com indiferença, era apenas mais uma em muitas que matara, era alimento. Apenas servia para o manter forte. Atirou-a ao chão, pronto para prosseguir a sua busca por uma nova vítima.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-eAG56X-Cxxw/UP8cvChKB3I/AAAAAAAAAs8/Slq-nfEBxHA/s1600/fome.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="400" src="http://3.bp.blogspot.com/-eAG56X-Cxxw/UP8cvChKB3I/AAAAAAAAAs8/Slq-nfEBxHA/s400/fome.jpg" width="305" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<iframe src="//www.facebook.com/plugins/like.php?href=http%3A%2F%2Ffantasy-and-co.blogspot.pt%2F2013%2F01%2Ffome-liliana-novais.html&send=false&layout=standard&width=450&show_faces=true&font&colorscheme=dark&action=like&height=80" scrolling="no" frameborder="0" style="border:none; overflow:hidden; width:450px; height:80px;" allowTransparency="true"></iframe>Pedro Pereirahttp://www.blogger.com/profile/16237610875767630532noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-5601410284250402159.post-79334826034100464252013-01-22T21:30:00.000+00:002013-01-27T21:52:37.116+00:00O Cálice de Prata (4/5) – Sara Farinha<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">A lâmina cortou o ar com um silvo. A cabeça do tocador de harmónica desapegou-se do pescoço e rolou pela relva. Com o retinir dos gritos da mulher nos ouvidos, André bloqueou um golpe directo, da espada do outro homem. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Cego, digladiou a sua arma, empurrando o homem para trás e bloqueando os seus fracos ataques. O sangue envolvia-o como uma mortalha conspurcada, impelindo a sua consciência a sair do seu corpo, isolando-o das consequências dos seus actos. Três estocadas e o homem tombava sobre uma pedra, o fogo iluminando os seus olhos esbugalhados e lábios ensanguentados, enquanto André descia a ponta da sua lâmina sobre o coração do desgraçado. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">O pisar de folhas secas fê-lo procurar o último alvo, puxando-o através do negrume florestal, como se seguisse um incontornável desígnio superior. O viscoso líquido vermelho, tão semelhante à tonalidade da cruz cosida no seu peito, pendia da sua lâmina e manchava o manto branco. André avançou por entre as árvores, cheirando o ar que o circundava, deixando que a ténue brisa matinal o guiasse até ao aroma doce da mulher. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Embrenhou-se na vegetação, cego pela escuridão que o envolvia, e pelas vontades que o tomavam. O som de um pássaro assustado que levantava voo, o resvalar de pedras e esmagar de folhas, a coruja que cessava o seu monótono canto, impeliram-no a descer a encosta. A escassos passos, um vulto negro agachava-se atrás de uma das enormes pedras musgosas. Contornando o calhau, André fechou a sua mão calejada sobre a garganta da mulher, levantando-a e encostando as costas dela ao seu peito. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– Nunca correr das feras enraivecidas. – André murmurou-lhe ao ouvido, arrancando-lhe um gemido. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Sem largar o pescoço, afastou-a de si, atirando-a contra a rocha. Olhou-a no rosto enquanto sentia o oxigénio a rarear nos pulmões da sua vítima. Os seus olhos castanhos quase saíam das órbitas enquanto as lágrimas corriam copiosamente pelas faces. Manteve-se imóvel, segurando-a pelo gasganete, dividido entre a vontade de apertar a garganta até que nem um sopro de ar passasse, e o impulso de tomar o seu corpo e estraçalhá-lo com o peso do seu. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">As sombras estremeciam à frente dos seus olhos e a camponesa simplória ganhou a forma de numa bela mulher de pele alva, olhos verdes e cabelo cor de cobre. A atormentada expressão facial da sua presa substituída pela placidez de Elisabetta. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– Impossível… – André murmurou, observando enquanto os trajes acastanhados assumiam matizes douradas e depois um brilhante prata, cobrindo a esguia figura com um manto que se colava ao seu corpo. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Largou-a e deu dois passos atrás. Ali, à sua frente, Elisabetta sorria profusamente. Os seus olhos verdes tomando os seus, fixando-os com desdém. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– O que fazes, cavaleiro? </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– Como? – André balbuciou, deixando cair a espada ao seu lado. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– Que mal é que eles te fizeram? – ela perguntou, indicando com uma mão a pilha de corpos estraçalhados que jazia aos seus pés. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">A visão do emaranhado de membros arrancou-lhe um vómito que o prostrou de joelhos. A enorme túnica branca, manchada de vermelho escuro, alguns tons mais fortes do que a cruz pregada no seu peitoral esquerdo. “Casto, sem luxo nem vaidade” já não se aplicava a ele. Ali jaziam os corpos de inocentes. Aqueles, que sem a justificação da guerra, haviam visto o fim chegar pela lâmina dum cavaleiro ao serviço de Deus. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– O que fiz eu? – André Beaumont murmurou. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– Mataste. Tomaste algo que não te pertence. Que não era teu por direito e que não pode ser devolvido. – Elisabetta entoou, a sua voz assumindo uma delicada cadência cantada. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– Verdade. – André sussurrou, escondendo o rosto nas palmas das mãos. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– Mas ainda tens algo que não te pertence e que tem de ser restituído. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">André enfiou a mão pelas vestes manchadas de vermelho e retirou o cálice de prata do bolso interior. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– Devolve-o ao Guardião do Bosque. – Elisabetta ordenou, o verde dos seus olhos chispava brilhante em aprovação. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">– Assim farei. – André assentiu, enrolando o punho à volta da taça e apertando-a até os nós dos dedos, brancos e espetados, perderem toda a semelhança com carne humana. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Elisabetta desvaneceu-se entre fetos e carvalhos enegrecidos pela noite. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">André carregou o amontoado de membros, para a vala comum, perto do leito do rio. A terra escurecida manchava-lhe a pele, cobrindo o sangue seco que lhe adornava os dedos e a alma. A fome chicoteava-lhe o estômago, mas ele não comeria. O calor inchava-lhe os membros, mas ele recusava-se a despir o seu manto. O desejo queimava-lhe as entranhas, mas ele não o aliviaria. A sede estreitava-lhe a garganta, mas não iria saciá-la. Aliviar o que o consumia enquanto aqueles, deitados ali na terra, já nada sentiam… Não era benesse que pudesse reclamar. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Cobriu o último pedaço de carne humana com pesar, deixando-se cair sobre a terra molhada do leito do rio. Retirou o cálice de prata e tombou-o no curso de água enchendo-o até à borda. Observou deslumbrado a miríade de azuis, cinzentos e negros que bailavam na superfície prateada. Nada restava do arco-íris que emergira na primeira submersão ainda nas mãos de Corvo, o velho, à beira do riacho. Apenas as cores escuras dançavam sobre a prata, espalhando a ausência de cor à sua volta. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;">Inclinou o cálice encostando-o aos seus lábios gretados e bebeu sofregamente, o precioso líquido escorrendo pela garganta áspera e acalmando tudo em seu redor. Olhou-o de novo, já sem líquido, e sem qualquer emanação luminosa. Encostou-o ao peito e perguntou-se como iria se separar daquele estranho objecto? No seu íntimo, André Beaumont sabia… Deixá-lo ir seria abjurar da sua vida. O monte de terra escura, onde depositara os corpos, enquadrou o seu olhar. Enterrando o cálice no bolso do manto, tomou uma decisão. Outros haviam sido privados, ele seria capaz de renunciar de livre vontade. Levantou-se e, com ímpeto renovado, trilhou o caminho de volta através do leito do rio.</span></div>
<br />
<div>
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-yTSzkqUUOvY/UPxPapS0hzI/AAAAAAAAAsE/i8myBCjupig/s1600/raven.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><span style="background-color: black; color: white;"><img border="0" height="342" src="http://1.bp.blogspot.com/-yTSzkqUUOvY/UPxPapS0hzI/AAAAAAAAAsE/i8myBCjupig/s400/raven.jpg" width="400" /></span></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; font-family: Georgia; font-style: italic; line-height: 22px; text-align: center;">
<span style="background-color: black; color: white;">Parte 5:</span></div>
<div class="separator" style="clear: both; font-family: Georgia; font-style: italic; line-height: 22px; text-align: center;">
<a href="http://fantasy-and-co.blogspot.pt/2013/01/o-calice-de-prata-55-sara-farinha.html"><span style="background-color: black; color: white;">http://fantasy-and-co.blogspot.pt/2013/01/o-calice-de-prata-55-sara-farinha.html</span></a>
</div>
<div class="separator" style="clear: both; font-family: Georgia; font-style: italic; line-height: 22px; text-align: center;">
<span style="background-color: black; color: white;">Parte 3:</span></div>
<div class="separator" style="clear: both; font-family: Georgia; font-style: italic; line-height: 22px;">
</div>
<div style="text-align: center;">
<a href="http://fantasy-and-co.blogspot.pt/2013/01/o-calice-de-prata-35-sara-farinha.html" style="background-color: black;">http://fantasy-and-co.blogspot.pt/2013/01/o-calice-de-prata-35-sara-farinha.html</a><span style="background-color: black; color: white;"> </span><br />
<span style="background-color: black; color: white;">Parte 2:</span></div>
<div style="text-align: center;">
<a href="http://fantasy-and-co.blogspot.pt/2013/01/o-calice-de-prata-25-sara-farinha.html" style="font-family: Georgia; font-style: italic; font-weight: bold; line-height: 22px; text-decoration: none;"><span style="background-color: black; color: white;">http://fantasy-and-co.blogspot.pt/2013/01/o-calice-de-prata-25-sara-farinha.html</span></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; font-family: Georgia; font-style: italic; line-height: 22px;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; font-family: Georgia; font-style: italic; line-height: 22px; text-align: center;">
<span style="background-color: black; color: white;">Parte 1:</span></div>
<div class="separator" style="clear: both; font-family: Georgia; font-style: italic; line-height: 22px; text-align: center;">
<a href="http://fantasy-and-co.blogspot.pt/2013/01/o-calice-de-prata-15-sara-farinha.html" style="font-weight: bold; text-decoration: none;"><span style="background-color: black; color: white;">http://fantasy-and-co.blogspot.pt/2013/01/o-calice-de-prata-15-sara-farinha.html</span></a></div>
<br />
<div>
<br /></div>
<iframe allowtransparency="true" frameborder="0" scrolling="no" src="//www.facebook.com/plugins/like.php?href=http%3A%2F%2Ffantasy-and-co.blogspot.pt%2F2013%2F01%2Fo-calice-de-prata-45-sara-farinha.html&send=false&layout=standard&width=450&show_faces=true&font&colorscheme=dark&action=like&height=80" style="border: none; height: 80px; overflow: hidden; width: 450px;"></iframe>Pedro Pereirahttp://www.blogger.com/profile/16237610875767630532noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5601410284250402159.post-28097129355226835712013-01-20T21:30:00.000+00:002013-01-20T21:32:05.620+00:00Crónicas Obscuras: Dança do Corvo (8/8) – Despedidas – Vitor Frazão <div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;"><span style="color: white;">- Quando partes? – pergunta Hayato, largando o cachimbo e passeando os olhos pela linha de árvores, onde os seus guerreiros aguardavam ordens. </span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;"><span style="color: white;"><br /></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;"><span style="color: white;">- De imediato – responde a vampira, agarrando a katana e erguendo-se. – Dentro de 4 dias será Lua Cheia, espero chegar à costa antes disso. </span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;"><span style="color: white;"><br /></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;"><span style="color: white;">- Esperam-te? – questiona, levando a taça de sake aos lábios, por entre as barbas brancas. </span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;"><span style="color: white;"><br /></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;"><span style="color: white;">- Cada Lua Cheia, na praia onde cheguei – afirma, encaixando a espada entre o cinto e o hakama, recordando o acordo que fizera com Miguel, na noite em que fora traficada para o país, dentro de um barril. Ao mesmo tempo procura esquecer que teria de voltar a atravessar o oceano, tentando esconder de Hayato o seu medo patológico de grande superfícies de água. </span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;"><span style="color: white;"><br /></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;"><span style="color: white;">- Durante mais de 30 anos? – admira-se o velho tengu, suspendendo a ingestão do sake e olhando de soslaio para os olhos azul-esverdeados da vampira. – Tens amigos estranhamente leais, Eleanora-chan. </span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;"><span style="color: white;"><br /></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;"><span style="color: white;">- Assim o espero – alega, sorrindo perante a lembrança dos belos olhos azuis e caracóis louros de Miguel. Sentia falta dele… </span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;"><span style="color: white;"><br /></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;"><span style="color: white;">- Não tens o salvo-conduto contigo – constata, pousando a taça e perscrutando a amiga com os penetrantes olhos pretos. – Irás buscá-lo? Oh… Estou a ver… </span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;"><span style="color: white;"><br /></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;"><span style="color: white;">- Far-lhe-á mais falta a ela do que a mim – defende, desviando o olhar, não se sentido confortável a discutir o tema. Tomara a decisão quando partira, não podia dar-se ao luxo de revisitá-la. Ou, pelo menos, não o queria… </span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;"><span style="color: white;"><br /></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;"><span style="color: white;">- Então irás sozinha? Ela sentirá a tua falta… </span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;"><span style="color: white;"><br /></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;"><span style="color: white;">- É melhor assim – reforça, tanto para si, como para o mestre, fingindo não ouvir a censura na sua voz. Sobre aquela questão não admitia o parecer de ninguém, nem mesmo dele. </span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;"><span style="color: white;"><br /></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;"><span style="color: white;">Memórias insistem em surgir, ameaçando minar a sua resolução. Olhos amendoados, castanho-esverdeados, que desaparecem atrás das pálpebras quando a faz gemer de prazer. A sua mão a passar pelos longos e lisos cabelos negros, antes de desaguar na curvatura sinuosa de costas nuas. Lábios finos, pintados vermelhos pelo sangue fresco, que lhe acariciam o mamilo duro, antes de rodar a língua nele… </span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;"><span style="color: white;"><br /></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;"><span style="color: white;">Eleanora expulsa as recordações, temendo o seu poder. Fizera a sua escolha. Nada ganharia em mudar de ideias. Era melhor assim… </span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;"><span style="color: white;"><br /></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;"><span style="color: white;">- Sabes que se não levares o salvo-conduto será difícil regressar. Talvez até tenhas de voltar a enfrentar as mesmas provações – adverte o velho tengu. – Não podes contar que todos aqueles que se lembram de ti sobrevivam até lá… </span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;"><span style="color: white;"><br /></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;"><span style="color: white;">- Hayato-oji, viverás mais anos do que aqueles que já vi. O próprio Deus da Morte não te quer! – brinca a vampira, rasgando um riso malicioso, aproveitando para afastar o que a atormentava. </span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;"><span style="color: white;"><br /></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;"><span style="color: white;">- Ah! Verdade! Verdade! – concorda, batendo com a palma da mão no joelho. Via bem que algo consumia a amiga, porém, respeitando a escolha dela em não falar sobre o assunto, assim como, não querendo embaraçar-se perante a despedida, aceita a oportunidade para aligeirar a conversa. – Tentarei manter as coisas organizadas por aqui, enquanto espero a desforra, Eleanora-chan. A propósito, se vais sem salvo-conduto seria melhor teres companhia até à costa, não? Shou-kun poderá levar-te. Shou-kun, vem cá! É grosseiro, mas uma jóia de moço. </span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;"><span style="color: white;"><br /></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;"><span style="color: white;">- Eu sei – reconhece, vendo o jovem tengu de asas castanhas e naginata cortada, voar na sua direcção. – Hayato-sama, obrigado! A vénia é profunda, abarcando muito mais do que o agradecimento pela escolta e o mestre retribui o grau de reverência. Pela primeira desde que qualquer um dos jovens guerreiros se lembra, a testa de Hayato-sama toca no solo. Então souberam que a Oculta os superara, tornando-se não só uma verdadeira yokai, como um dos Corvos.</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black;"><span style="color: white;"><br /></span></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-SbCOVOYvuZ8/UPxOotvNztI/AAAAAAAAAr4/H-TrB26ZHL0/s1600/8.jpg" imageanchor="1" style="background-color: black; margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><span style="color: white;"><img border="0" height="351" src="http://2.bp.blogspot.com/-SbCOVOYvuZ8/UPxOotvNztI/AAAAAAAAAr4/H-TrB26ZHL0/s400/8.jpg" width="400" /></span></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<span style="background-color: black;"><span style="color: white;"><br /></span></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; font-family: Georgia; font-style: italic; line-height: 22px; text-align: center;">
<span style="background-color: black;"><span style="color: white;">Parte 7:</span></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; font-family: Georgia; font-style: italic; line-height: 22px; text-align: center;">
<span style="background-color: black;"><span style="color: white;"><a href="http://fantasy-and-co.blogspot.pt/2013/01/cronicas-obscuras-danca-do-corvo-78-uma.html">http://fantasy-and-co.blogspot.pt/2013/01/cronicas-obscuras-danca-do-corvo-78-uma.html</a>
</span></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; font-family: Georgia; font-style: italic; line-height: 22px; text-align: center;">
<span style="background-color: black;"><span style="color: white;">Parte 6:</span></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; font-family: Georgia; font-style: italic; line-height: 22px; text-align: center;">
<span style="background-color: black;"><a href="http://fantasy-and-co.blogspot.pt/search/label/Cr%C3%B3nicas%20Obscuras%3A%20Dan%C3%A7a%20do%20Corvo" style="font-weight: bold; text-decoration: none;"><span style="color: white;">http://fantasy-and-co.blogspot.pt/search/label/Cr%C3%B3nicas%20Obscuras%3A%20Dan%C3%A7a%20do%20Corvo</span></a></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; font-family: Georgia; font-style: italic; line-height: 22px;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; font-family: Georgia; font-style: italic; line-height: 22px; text-align: center;">
<span style="background-color: black;"><span style="color: white;">Parte 5:</span></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; font-family: Georgia; font-style: italic; line-height: 22px; text-align: center;">
<a href="http://fantasy-and-co.blogspot.pt/2013/01/cronicas-obscuras-danca-do-corvo-58-por.html" style="font-weight: bold; text-decoration: none;"><span style="background-color: black;"><span style="color: white;">http://fantasy-and-co.blogspot.pt/2013/01/cronicas-obscuras-danca-do-corvo-58-por.html</span></span></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; font-family: Georgia; font-style: italic; line-height: 22px; text-align: -webkit-auto;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; font-family: Georgia; font-style: italic; line-height: 22px; text-align: center;">
<span style="background-color: black;"><span style="color: white;">Parte 4:</span></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; font-family: Georgia; font-style: italic; line-height: 22px; text-align: center;">
<span style="font-weight: bold; text-decoration: none;"><a href="http://fantasy-and-co.blogspot.pt/2013/01/cronicas-obscuras-danca-do-corvo-48-no.html" style="text-decoration: none;"><span style="background-color: black;"><span style="color: white;">http://fantasy-and-co.blogspot.pt/2013/01/cronicas-obscuras-danca-do-corvo-48-no.html</span></span></a></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; font-family: Georgia; font-style: italic; line-height: 22px; text-align: -webkit-auto;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; font-family: Georgia; font-style: italic; line-height: 22px; text-align: center;">
<span style="background-color: black;"><span style="color: white;">Parte 3:</span></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; font-family: Georgia; font-style: italic; line-height: 22px; text-align: center;">
<a href="http://fantasy-and-co.blogspot.pt/2013/01/cronicas-obscuras-danca-do-corvo-38.html" style="font-weight: bold; text-decoration: none;"><span style="background-color: black;"><span style="color: white;">http://fantasy-and-co.blogspot.pt/2013/01/cronicas-obscuras-danca-do-corvo-38.html</span></span></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; font-family: Georgia; font-style: italic; line-height: 22px; text-align: center;">
<span style="background-color: black;"><span style="color: white;">Parte 2:</span></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; font-family: Georgia; font-style: italic; line-height: 22px; text-align: center;">
<a href="http://fantasy-and-co.blogspot.pt/2012/12/cronicas-obscuras-danca-do-corvo-28-o.html" style="font-weight: bold; text-decoration: none;"><span style="background-color: black;"><span style="color: white;">http://fantasy-and-co.blogspot.pt/2012/12/cronicas-obscuras-danca-do-corvo-28-o.html</span></span></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; font-family: Georgia; font-style: italic; line-height: 22px; text-align: center;">
<span style="background-color: black;"><span style="color: white;">Parte 1:</span></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; font-family: Georgia; font-style: italic; line-height: 22px; text-align: center;">
<a href="http://fantasy-and-co.blogspot.pt/2012/12/cronicas-obscuras-danca-do-corvo-18.html" style="font-weight: bold; text-decoration: none;"><span style="background-color: black;"><span style="color: white;">http://fantasy-and-co.blogspot.pt/2012/12/cronicas-obscuras-danca-do-corvo-18.html</span></span></a></div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<iframe src="//www.facebook.com/plugins/like.php?href=http%3A%2F%2Ffantasy-and-co.blogspot.pt%2F2013%2F01%2Fcronicas-obscuras-danca-do-corvo-88.html&send=false&layout=standard&width=450&show_faces=true&font&colorscheme=dark&action=like&height=80" scrolling="no" frameborder="0" style="border:none; overflow:hidden; width:450px; height:80px;" allowTransparency="true"></iframe>Pedro Pereirahttp://www.blogger.com/profile/16237610875767630532noreply@blogger.com1