Os Deuses do Fogo 5/5 - Liliana Novais


Ikiri regressou sozinho para a aldeia. Assim que chegou, foi derrubado por uma força invisível que o mantinha colado ao chão. Olhou para cima e conseguiu ver uma enorme nuvem compacta de pó e destroços que se dirigia para o local onde estava. Apenas teve tempo de se arrastar para se abrigar numa casa antes de ser envolto na escuridão. A casa tremia com o impacto dos piroclastos, esta desfazia-se aos poucos sob o peso do entulho que se acumulava por cima dela e nas ruas. A sua companheira havia libertado o temível vulcão dormente. Agora mais do que nunca, tinha de a parar. Chegara a hora do confronto final.
O deus arrastou-se para fora do entulho a custo, utilizando uma pequena abertura, onde existira uma janela. Apressou-se a subir a encosta íngreme que o levaria até à jovem cratera. O cenário que ele vislumbrava era de perigo eminente e destruição. A lava em ebulição estava prestes a deslizar pela encosta e destruir tudo no seu caminho.
Do outro lado da cratera, Ubasti impedia Miri de se afastar dela, gritando palavras que ele não conseguia ouvir.
Ele tinha de se aproximar rapidamente delas. Saltou para uma das várias rochas que boiavam na lava incandescente. O calor era abrasador, derretendo rapidamente tudo o que caísse dentro daquele caldeirão.
«Ubasti! – Gritou ele, assim que se conseguiu aproximar mais. – Pára com o que estás a fazer!
«Ikiri, vieste assistir à minha vitória! – Gritou ela.
«Não, eu vim impedir-te de cometer uma loucura! Não podes fazer isso, os humanos não te fizeram mal nenhum.
«Não me fizeram mal. – Disse rindo. – Pois, meu caro, eles fizeram sim. As oferendas diminuíram, os humanos estão a deixar de nos temer. Mas desta vez foi demais, algo tem de ser feito antes que nos esqueçam completamente.
«Esta não é solução.
«Estás errado. Esta é a única solução. – Respondeu ela, saltando também para o interior da cratera.
Eles circundavam-se saltando sempre de rocha em rocha.
«Ubasti, eu não te quero fazer mal. Por favor.
«Deixa-me fazer o que tem de ser feito! Falta-te a coragem deixa que seja eu! Estes humanos têm de morrer para começarmos tudo de novo!
«Ubasti, nós já fizemos isto antes. Não resulta. Não me dás outra hipótese!
«E o que é que o temível deus do fogo vai fazer? – Perguntou ela ironicamente. – Deus esse que se esconde sempre atrás da mulher, que não tem coragem de agir.
Enquanto discutiam uma enorme nuvem criou-se no céu e sem pré-aviso ele atacou. Um relâmpago foi lançado em direção a Ubasti. A qual de desviou no ultimo momento.
«Estou a ver que ganhaste coragem, meu amor. Vamos a isto. – Ironizou ela.
Os dois iniciaram uma dança perigosa, saltando de pedra em pedra. Esquivando-se dos relâmpagos que o outro lançava. Ambos eram tão rápidos e graciosos que parecia que a batalha nunca mais teria fim. Um dos relâmpagos que Ubasti lançou, falhou o seu alvo e acertou na berma da cratera, onde a sua filha Miri se encontrava. Esta desequilibrou-se e ficou pendurada e segurando-se a custo.
«Mãe! Pai! Socorro! – Gritou.
Os dois pararam imediatamente o que estavam a fazer e olharam aflitos para a sua filha. Ikiri saltou e apanhou a pequena Miri no ar, antes que ela caísse na lava. A pequena deusa não morreria mas ficaria desfigurada caso tivesse caído.
«Ubasti, tu foste longe demais. Tu tens de ser parada. Miri foge, encontra os teus irmãos. – A pequena choramingou e obedeceu ao pai.
Ele sabia que tinha de o fazer, era a única forma de todos ficarem em segurança. Ele olhou para ela com tristeza, mas não podia alterar o seu fim. Fez com que uma série de relâmpagos provocassem uma derrocada. E assim tudo estava acabado.
Os deuses partiram com os seres humanos para longe daquele lugar, para poderem viver em paz, deixando a deusa subterrada debaixo da gigantesca montanha.




1 comentários:

rui alex disse...

O confronto final podia ser mais entusiasmante, os poderes sobrenaturais serem mais explorados, mas gostei :)

No geral, acho que precisaria de uma escrita mais refinada e talvez seria um conto que me entusiasmasse completamente.

Enviar um comentário