Apocalipse - A queda de Berlim - Pedro Pereira
O sol nascia no horizonte e afastava as sombras que cobriam as ruinas da metrópole. Tal como a maioria das cidades, Berlim não era mais do que um vislumbre daquilo que tinha sido. As ruas estavam desertas, repletas de escombros e carros abandonados. Eram ladeadas por edifícios desocupados e em risco de ruir, conferindo um ar fantasmagórico à cidade. Era a típica imagem de uma grande metrópole desde que os demónios tinham sido libertados no mundo dos humanos, reduzindo a civilização a cinzas…
No topo de um dos edifícios devolutos, uma esbelta figura feminina, quase demasiado perfeita para parecer real, observava a paisagem. Leviatã passou os dedos pelos longos cabelos lisos de uma cor azul eletrizante. Aguardava pelo momento certo. As ordens do Senhor das Trevas tinham sido bem claras, tinha que tomar a cidade, criar uma distração para que Belphegor pudesse quebrar o véu entre dimensões.
Um demónio abriu a porta que dava acesso ao telhado e encaminhou-se para a mulher. A criatura tinha a pele encarnada e dois chifres de bode na testa. A barba e o cabelo eram negros, tal como a armadura ou como o tufo de pelo no qual terminava a sua cauda.
– Estás pronto? – questionou Leviatã na sua voz fria e sem emoção, muito antes de Belphegor a ter alcançado.
– O cetro está pronto. Desde que mantenhas os humanos ocupados, eu e as minhas tropas tratamos do resto.
– Nesse caso sugiro que te metas a caminho, o Reichstag fica do outro lado da cidade. E não te preocupes com os humanos. Eu ocupo-me deles.
Sem aguardar resposta, Leviatã fechou os olhos e enviou o sinal telepático às suas tropas.
Respondendo ao apelo da líder, centenas de demónios saíram das ruínas que os escondiam e invadiram as ruas da cidade.
Leviatã deixou que os subordinados espalhassem o caos livremente. Não tardou que o objetivo fosse alcançado. As tropas humanas que patrulhavam as ruínas da cidade soaram o alarme. Desde o aparecimento dos Escolhidos que os humanos julgavam ser capazes de derrubar os demónios e recuperar o controlo do mundo. Leviatã não foi capaz de conter um sorriso de desdém. Não passavam de criaturas idiotas. Meros insetos prontos a serem esmagados por Lúcifer, o Senhor das Trevas.
– Não devias estar com as tuas tropas a transportar o cetro? – questionou com irritação ao aperceber-se que Belphegor continuava a seu lado.
– Sim, claro.
Carrancudo, o demónio de pele encarnada abandonou o telhado, deixando a figura feminina a observar o caos gerado pelos lacaios.
Pelas ruas já se podia ouvir o som dos disparos. As tropas alemãs estavam a retaliar. Vários tanques blindados acompanhados por soldados percorriam agora as ruas de Berlim. A rapidez da resposta não deixou de espantar Leviatã. Os humanos apresentavam agora um grau de coordenação que não possuíam há meses atrás.
Um pouco mais à frente do edifício onde se encontrava, um tanque armado com lança-chamas e alguns soldados encurralaram um pequeno grupo de demónio num beco sem saída. Apanhados de surpresa, as criaturas foram carbonizada.
Leviatã saltou do topo do edifício de cinco andares diretamente para o asfalto a rua. Focada no alvo, encaminhou-se a passo acelerado e convicto para o tanque.
Os soldados que acompanhavam o veículo blindado deram o alerta. Leviatã ergueu as suas barreiras protetoras. Numa questão de segundos, começaram a voar balas em direção à esbelta mulher. Estas faziam ricochete nas defesas da demónio. Quem se julgavam aquelas criaturas para lhe ousarem fazer frente?!
Leviatã esticou a mão direita em direção e lançou um raio de energia contra o veículo.
A explosão do tanque matou três dos soldados humanos e projetou outros dois pelo ar. Apesar da queda violenta contra o asfalto, estes ainda se encontravam com vida. Movimentando-se com uma rapidez sobrenatural por entre os escombros, arrancou a cabeça de um dos sobreviventes com as próprias mãos quando este se tentava levantar.
Uma expressão de terror apoderou-se do rosto do segundo sobrevivente. Não querendo tornar-se na próxima vítima, levantou-se atabalhoadamente e começou a correr.
Leviatã apanhou uma barra de metal de entre os escombros e lançou-a em direção ao humano em fuga. O soldado caiu. A barra de metal trespassara-lhe o peito perfurando um dos pulmões. Aproximou-se do homem que jazia em convulsões. Com um sorriso no resto, colocou a bota em cima da cabeça da vítima e esmagou-lhe o crânio.
Ficou parada por alguns instantes enquanto comtemplava com orgulho a matança.
O som de dois aviões de combate a sobrevoar a cidade interrompeu a linha de pensamentos de Leviatã. Os humanos estavam a ficar cada vez mais atrevidos…
Fechou os olhos e deixou que a transformação tivesse lugar. O seu corpo começou a contorcer-se e a mudar de forma. Também o seu volume aumentava a um ritmo frenético. Não foi capaz de conter os gritos de dor que aquela transformação lhe provocava. Seus ossos partiam-se em milhares de locais para assumirem uma nova forma. O corpo contorcia-se com as transformações e o crânio tomava uma forma achatada.
A figura feminina assemelhava-se agora a uma gigantesca serpente alada, com um par de asas membranosas nas costas e quatro minúsculas patas que lhe saiam do ventre. A pele fora substituída por uma camada de escamas de um azul eletrizante, contrastando com os olhos de um violeta vivo. Com o seu tamanho atual, mal cabia na apertada rua. Na sua verdadeira forma ninguém ousava fazer frente a Leviatã. Chegara a hora de tomar Berlim e vergar as forças dos humanos…
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2 comentários:
Este é um conto sem oposição entre heróis e vilões. É um facto que os humanos lutam até ao fim, mas dado o poderio dos Leviatãs esse esforço é menos que inglório. Não digo que gostaria de ver os humanos a vencer - dada a disparidade de forças, seria um final forçado - mas gostaria de vê-los aguentar um pouco mais.
Talvez se o foco da história estivesse no outro lado da facção eu conseguisse sentir mais empatia. Como está, está interessante, mas falta a componente humana.
Outra hipótese seria alternar entre uma perspectiva e outra, criando no leitor a dúvida de quem iria vencer e porquê. Poderia terminar exactamente da mesma forma, mas seria uma outra história por completo.
Não senti que o conto tivesse princípio, meio e fim. Na verdade, pareceu-me o "meio" de uma história, o que deixa demasiadas pontas soltas.
Para além disso, senti falta de empatia com as personagens.
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