Indivíduo 103 (3/3) - Pedro Pereira
Recupero a consciência à medida que as drogas vão abandonado o meu organismo. Curiosamente, apesar de a dosagem ter sido maior, não parecem fazer tanto efeito como da primeira vez…
As criaturas ainda estão no laboratório. Discutem umas com as outras. Não se apercebem de que acordei.
– Ele é claramente perigoso e instável! Não o podemos manter nesta situação!
– E o que sugeres que eu faça, Lorek? Que mate a nosso maior feito em vinte anos de investigação?!
– Não vejo outra alternativa. Ele é demasiado instável. O doutor viu a amplitude daquelas ondas psíquicas. Não há registo de nada assim!
As criaturas conspiravam para me matar. É este o meu propósito? Ser apenas uma cobaia de laboratório? Este não pode ser o meu destino!
– Doutor! Os níveis psíquicos!
– O quê?! Não é possível! Ele devia estar a dormir! Os sedativos, rápido!
O líquido verde é novamente injetado no tanque. Sinto o meu corpo a ficar entorpecido, mas logo de seguida recupero o vigor. Estou mais forte.
– Não é possível! Não está a funcionar!
Liberto a minha energia psíquica contra o tanque que me aprisiona. Os tubos e a parede de vidro explodem em milhares de fragmentos. Estou livre.
– Matem-no! Depressa!
Uma das criaturas corre na direção com uma arma de fogo. Ele dispara. Ergo uma barreira psíquica em meu redor e bloqueio os projéteis.
– Fujam!
Lanço uma onda de energia contra o meu atacante. O ser é atirado pelo ar contra a parede. Ouve-se o inconfundível som de ossos a partir com o embate. O corpo cai inerte no chão com o pescoço dobrado num ângulo estranho.
Os restantes correm em pânico para as saídas do laboratório. Bloqueio todas as saídas com a minha mente. Agora eram eles os prisioneiros.
Uma a uma, ataco aquelas mentes rudimentares. As criaturas caiem ao chão sem vida com a massa encefálica a escorrer-lhes pelas fossas nasais.
Deixo uma das criaturas para o fim. O meu criador.
Ao contrário dos restantes, este ser parece não ter medo de mim. Não foge, não grita. Limita-se a olhar para mim com um estranho ar de orgulho e de loucura nos olhos.
Aproximo-me.
– Quem sou eu?
– Quem és tu?!
– Qual é o meu propósito?
A criatura parece espantada por me ver falar na sua língua.
– Tu és o resultado do meu trabalho, de uma experiência para trazer os Inai de volta ao nosso mundo. Uma raça há muito extinta e que desapareceu misteriosamente. Criámos-te a partir do ADN de um Inai. Foste o primeiro espécime a sobreviver…
– Então sou uma cópia… Uma mera sombra do Inai que usaram.
– Oh, não! Tu és muito mais do que isso! Nós melhorámos o teu ADN. És mais forte e mais poderoso do que qualquer Inai que alguma vez tenha existido.
– E o que vai acontecer agora que a vossa experiência terminou?
– Mas a experiência ainda não terminou! Os verdadeiros testes ainda nem sequer começaram!
Estas criaturas… Eu não significo para elas. Não passo de uma cobaia de laboratório.
Aumento a pressão intracraniana do meu criador. O ser cai de joelhos ao chão no momento em que o seu crânio explode. Pela parede escorrem os restos do que sobrou do cérebro.
Percorro as instalações agora desertas e destruo o que resta do laboratório. Abandono o pequeno edifício envolto em chamas e penetro na densa floresta que o rodeia. Eu não nasci. Fui criado. Quem sou eu? Quem me mandou criar? Qual é o meu destino? Eu vou descobrir o meu propósito. Vou descobrir quem me mandou criar, ele irá responder às minhas perguntas. E depois? Depois vou vingar-me. Vou eliminar todos os responsáveis pelo meu cativeiro e quem se atrever a atravessar no meu caminho. Este mundo vai aprender a temer-me…
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1 comentários:
Oh, estava à espera de mais "resposta". Fiquei um bocadinho desiludido.
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