A Senhora dos Dragões - Inverno - Parte 2/5 - Liliana Novais
Enquanto voava, Aluminir relembrava
as palavras bruscas que o seu companheiro trocara com ela.
«Aluminir, não sei o que mais eu
posso fazer para te alegrar. – Começou ele irado.
«Não entendo, Seneth. Eu não te
estou a pedir nada. – Disse ela confusa, não percebendo o sentido que aquela
conversa tomaria.
«Eu sei que não estás, mas eu como
pai tenho de prover para a minha família. Eu tenho de trazer o sustento e tenho
falhado. – Ele encontrava-se desolado por não conseguir encontrar alimento.
«A culpa não é tua, mas sim deste
maldito Inverno que não acaba. Temos de ter paciência, tudo vai melhorar. – Ela
tentou acalmá-lo, desejando no fundo do seu ser ter razão, e que em breve tudo
melhoraria.
«Dizes isso para me alegrares, mas
nada me prova que tens razão. Os animais já deveriam ter voltado nesta época do
ano. E eu não consigo ir mais longe para os procurar e regressar a tempo de
alimentar as nossas crias. – Exaltou-se ele, Aluminir aproximou-se delas que se
haviam assustado com o seu pai.
«Tem calma, Seneth. Estamos aqui os
dois, havemos de conseguir superar tudo, como é hábito.
Ela voava por cima dos picos altos
da cordilheira, brancos pela neve que caíra, sendo que nos mais altos esta
nunca derreteria. Nos vales que se estendiam por toda a cordilheira, os rios
estavam gelados, muitas árvores da floresta estavam envolvidas pela neve. Esta
parecia um lugar desolado e sem vida. Voou durante muito tempo, sempre pensando
como poderia convencer os dragões que guardavam o portal a deixá-la
atravessá-lo. Sabia que assim que o transpusesse estaria por sua conta e risco,
caso algo corresse mal, ninguém poderia ajudar, nem mesmo Seneth sabia para
onde ela iria. E quando descobrisse, talvez já fosse tarde demais, pois não
poderia abandonar assim as crias.
A Porta Branca era um portal que
unia o mundo mágico ao mundo exterior, esta era guardada por dois dragões,
conhecidos entre os dragões como Galtinares. Existiam várias portas, as quais
eram guardadas por diferentes espécies de criaturas que viviam naquele mundo.
Avistou, ao longe, a montanha mais
alta da cordilheira. Finalmente chegara, ela sabia que o portal estava nesta
montanha que apenas podia ser alcançada por ar. Dirigiu-se para esta sem mais
demoras pois o tempo escasseava, aterrou perto da entrada e dirigiu-se para o
seu interior.
A entrada da caverna era colossal,
pois tinha de permitir a entrada a todas as espécies de dragões, desde as
espécies mais pequenas até as maiores. Avançou na escuridão que estava no
interior, mas tal não era um problema porque os dragões vêm muito bem na
escuridão. Logo, mesmo estando escuro, ela podia ver bem por onde andava. A
entrada era em tudo semelhante às entradas das grutas onde nidificavam. Era
desprovida de qualquer adorno ou escrita, tornando-a assim numa vulgar entrada
de uma gruta. Avançou por um longo corredor, ligeiramente inclinado para a
frente, que penetrava cada vez mais no interior da montanha e cada vez mais
fundo. Após andar bastante, finalmente chegou à câmara massiva. Parecia que o
interior da enorme montanha era oca pois facilmente se podia voar no seu
interior. As paredes eram lisas, e estalactites e estalagmites cresciam umas
contra as outras até formares colunas enormes que sustentavam toda a caverna.
Algumas estavam partidas, talvez por algum dragão que fosse mais desastrado e
tivesse colidido com elas, ou mesmo por algum cataclismo natural. Uma enorme
cascata de um rio subterrâneo erguia-se à direita, enchendo o ar de nevoeiro e
formando uma grande piscina no centro. Do outro lado desta câmara, uma porta
maciça erguia-se em torno destas, onde se encontravam desenhadas as 14 espécies
de dragões existentes, estando estes representados a prestarem vassalagem aos
três dragões titânio que, segundo a lenda tinham criado aquele mundo. Uma
inscrição escrita na antiga linguagem dos dragões, a qual apenas por eles era
conhecida, encontrava-se em torno deles e estava escrito o seguinte:
Ilanir,
Elazir e Xadrantil criaram Ahelanae para proteger todos os necessitados. Se és
amigo avança, se és inimigo treme.
Ela avança em direção à porta e
fala na língua secreta dos dragões.
- Em nome de Iludir, Elazir e
Xandratil criadores de Ahelanae, declaro que sou
amiga e peço cedência de passagem. – Assim que acabou de proferir estas palavras,
os grandes portões abriram-se para ela passar. À sua frente estendia-se um
longo corredor.
Quando chegou ao fim deste estava
noutra sala tão, ou mais, colossal como anterior, onde o rio começava num largo
lago. Era por este rio que os dragões aquáticos entravam
na caverna. Ao fundo desta, estava um dragão rubi deitado, e por trás dele,
estava a porta para o mundo exterior, idêntica à porta anterior mas sem o texto
escrito. As paredes estavam incrustadas de pedras preciosas que brilhavam com a
luz do Sol que entrava por uma pequena abertura no topo da caverna.
Continua
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