As Crónicas de Decessus – O Demónio de Wharrom Percy 2/5 - Pedro Pereira
Na manhã seguinte, William
levantou-se cedo, como era habitual. O facto de ter uma identidade demoníaca aprisionada
no seu corpo, fazia com que o seu organismo recuperasse rapidamente, tanto da
fadiga das viagens, como dos golpes que sofria em combates. A sua condição
única tornava-o forte e resistente, pelo que as muitas horas de cavalgada do
dia anterior, não eram mais do que uma brincadeira de crianças.
No
final da noite anterior, o guerreiro ficara a saber que o homem que o abordara
era um dos servos do Lorde Chamberlain, um dos fidalgos da vila. O homem
comprometera-se a agendar um encontro com o Lorde nessa manhã, na qual o
fidalgo pagaria a William pelos seus serviços.
William
tentara retirar algumas informações do homem sobre o tipo de demónio que estava
prestes a enfrentar, no entanto, não tivera sucesso. Muitas das descrições que
o homem lhe dera, eram imprecisas ou contraditórias. Isto para não falar que
era difícil diferenciar o que correspondia à realidade do que era criação da
plebe. Os populares, por medo e desconhecimento das criaturas das Trevas,
tinham tendência a exagerar nos seus relatos. Um caçador de demónios
experimente, sabia que não podia confiar por completo nas histórias do povo,
caso contrário, teria de se satisfazer com descrições de criaturas que cuspiam
fogo da boca e lançavam raios pelo cú.
A manhã estava
cinzenta, e a chuva continuava a cair do céu carregado de nuvens, apesar de já
não o fazer com tanta intensidade.
Assim que saiu
da estalagem, Moonraiser foi cumprimentá-lo, como se de um cão se tratasse. O
lobo cinzento tinha o focinho coberto de sangue seco, pelo que William calculou
que alguns dos camponeses tivessem perdido uma ou duas galinhas durante a
noite. William afagou a cabeça do animal e seguiu o seu caminho, com o lobo no
seu encalço.
Ainda faltavam
algumas horas para o suposto encontro com Lorde Chamberlain, pelo que, o
caçador de demónios decidiu explorar a vila. Uma das regras básicas no que
tocava a caçar, era conhecer o local onde iria decorrer o combate. Decessus era demasiado experiente para
saber que estar familiarizado com a região, lhe podia conceder a vantagem num
momento critico, ou mesmo salvar a vida.
Acompanhado por Moonraiser, William estudou
Wharrom Percy de uma ponta à outra, enquanto a maioria dos habitantes ainda
dormia. A vila era composta praticamente por uma única rua, com casas de ambos
os lados. Pelas contas de William, devia haver umas trinta e sete. Atrás de
cada casa, existiam os campos de cultivo. Havia ainda uma igreja, e duas
mansões, uma das quais certamente pertencia à família Chamberlain. Contudo, foi
a outra mansão que chamou a atenção de William.
A enorme
residência, claramente pertencente a alguma família da nobreza, fora alvo de um
incêndio. A zona norte da mansão fora praticamente reduzida a cinzas, não
restando muito mais do que algumas paredes enegrecidas pelo fogo. A zona sul parecia
ter sido menos afectada. Apesar de apresentarem um ar instável, as ruínas ainda
permitiam reconhecer os traços arquitectónicos da mansão. Do exterior, parecia
que algumas das divisões da região sul se mantinham relativamente intactas. Porém,
o que era curioso era o facto de as casas adjacentes à zona norte, a mais
afectada, se encontrarem incólumes.
William acabou
por perder mais alguns segundos a olhar para as ruínas antes de se dirigir para
a mansão do Lorde Chamberlain. Começava a fazer-se tarde, e William não gostava
de chegar atrasado.
Enquanto
atravessava a povoação pela segunda vez, Decessus
foi vítima dos olhares curiosos dos habitantes da vila que já tinham
iniciado o seu dia de trabalho. A figura sinistra de William e o porte
ameaçador de Moonraiser, atraíam a atenção de alguns dos populares.
Ao chegar à mansão dos nobres, William bateu à
porta e ficou a aguardar que algum criado o fosse receber. Não tardou para que
um sujeito de bigode e ar empertigado lhe abrisse a porta.
– O Lorde
Chamberlain aguarda-o – declarou o criado.
– Aposto que
sim!
William
preparou-se para avançar, mas o criado barrou-lhe o caminho, apontando de
seguida para o lobo.
– Essa
criatura não pode entrar!
Como que
compreendendo as intenções do criado, Moonraiser mostrou os dentes ao humano e
começou a rosnar, fazendo o criado recuar alguns passos atabalhoadamente.
– Tens a
certeza de que queres discutir isso com ele? – questionou William apontando
para o lobo. – Eu cá não tentava a minha sorte…
Decessus
empurrou a porta e avançou pela casa sem o
consentimento do criado, sendo seguido de perto pelo imponente lobo.
Continua…
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2 comentários:
Honestamente é-me difícil olhar para este caçador de demónios e não pensar em tantos outros parecidos. Até agora está mediano, sem ser memorável. Esperarei o desenvolvimento.
O conto continua a agradar-me mas esta parte achei sossegada, podia haver uma cena com impacto como aconteceu com a primeira.
Há alguns erros, nomeadamente as vírgulas erradas. Também na primeira parte havia um pouco.
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