Crónicas Obscuras: Dança do Corvo (2/8) – O mais poderoso – Vitor Frazão
Disparadas da segurança da copa das árvores, pelos assimétricos yumi dos tengu, com uma força impossível a qualquer arco de fabrico humano, as flechas não só são extremamente rápidas, como invisíveis ao Pulsar. Felizmente, os ouvidos de Eleanora foram treinados para detectar o menor sinal de disparo e os seus reflexos são sobrenaturais. Desvia-se do primeiro projéctil, que se vai espetar no solo remexido, e move-se ligeiramente para levar com o segundo no peito em vez do ombro. Consciente que uma flecha nas articulações lhe toldará os movimentos, tornando-a um alvo fácil, dá-se ao trabalho de fugir de projécteis que não a podem matar ou sequer provocar dor.
As vagas de ataques tornam-se mais intensas, obrigando-a a mover-se freneticamente em redor, saltando, rodando sobre si mesma e rebolando pelo chão, por entre uma cacofonia de metal a cantar de encontro a metal. Nem todos os golpes são desviados ou aparados, cortes nas vestes e pele multiplicam-se. Onde outros contemplariam uma situação cada vez mais desesperada, Eleanora vê oportunidades. Três soldados de infantaria, dois arqueiros, cinco atacantes, ou seja, muitas falhas na rede. E estavam a ficar cada vez mais descuidados…
Eleanora volta a atirar-se ao chão, rebolando para o lado e aproveitando para agarrar um punhado de terra, que lança ao tengu mais próximo, ao levantar-se, fazendo-o falhar o ataque e quase não conseguir defender o contra-ataque. O tengu da katana afasta-se, executando um voo muito mais largo do que o habitual, enquanto esfrega os olhos. Ao mesmo tempo, a vampira desvia-se de uma investida e corta a ponta da lança do adversário seguinte, que é forçado a uma manobra de emergência para evitar despenhar-se. O terceiro yokai quase lhe arranca a katana das mãos com a naginata, mas as suas forças acabam por provar-se demasiado equilibradas para uma se sobrepor à outra.
Recebendo mais duas flechas nas costas, enquanto vê os inimigos voarem para longe, de modo a ganharem balanço para as investidas seguintes, Eleanora não se sente aliviada com as tréguas, pois sabe que ainda lhe falta enfrentar o mais velho, perigoso e poderoso dos yokai voadores. Ele encontra-se perto, nas sombras, à espera da altura certa para atacar… Todos eles eram fulminantemente rápidos e furtivos, mas Hayato fazia os demais parecerem folhas a cair com indolência numa brisa outonal. Ao senti-lo aproximar-se por trás, atacando de um ângulo impossível, Eleanora apenas tem tempo de tirar a mão esquerda da katana enquanto se vira. Um golpe. Tudo ou nada, num único movimento. Sem espaço para errar.
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