A Senhora dos Dragões - Inverno - Parte 4/5 - Liliana Novais
Aluminir
atravessou o portal para mundo exterior e ali estava ela, num penhasco com o
mar à sua frente, onde ela estava era impossível chegar a pé, ou mesmo montado
em algum animal por mais ágil que este fosse. Apenas voando é que se
conseguiria chegar até aquele local.
Ela
voou até ao topo do penhasco. De lá podia ver, olhando para o horizonte, uma
cidade a Sul, apenas um dragão com a sua visão extremamente apurada é que
conseguia ver a essa distância. Cheirou o ar, também estava frio deste lado,
também era Inverno. Mas o frio era menos intenso que em Ahelanae.
A
Porta Branca ligava Ahelanae a este país no exterior da cortina chamado
Indahar. Era improvável que as outras portas ligassem também a este reino, uma
vez que os habitantes de Ahelanae vinham de partes diferentes do mundo e tinham
diferentes capacidades de mobilidade. Por exemplo, nem as sereias nem os
dragões aqua-marina poderiam ter entrado pela Porta Branca.
Preparou-se
para voar, esticou as suas longas asas e elevou-se no ar. A sua visão apurada
permitia-lhe ver presas que estivessem no solo com clareza mesmo que tivesse de
voar a altitudes muito elevadas. Ela tinha de se manter bastante longe do solo
para o caso de que se alguém em terra a visse, pensasse que se tratava de um
pássaro e não de um dragão, o que era bastante difícil, já que ela tinha dez
vezes a altura de um cavalo alto. Tinha de se manter atenta quer a futuras
presas, quer aos humanos. Estes eram considerados criaturas vis, sem qualquer
respeito pela vida e pelas outras criaturas, apenas pensavam em si e serviam-se
se tudo o que existia na Natureza ao mínimo capricho.
Ela
tinha 1000 anos e nunca vivera no mundo exterior, sabia o que se passara através
dos mais antigos, dos que haviam habitado o mundo exterior. Mas, ela não se
podia perder nestes pensamentos, não agora, uma vez que toda a sua família
dependia dela para sobreviver. Voltou a concentrar-se na sua caçada. Voava em
círculos, procurando o que caçar e também mantendo o olho aberto para os
humanos.
Observava
a extensa floresta com árvores coladas umas às outras, seria difícil e
arriscado caçar ali, poderia facilmente embater contra os ramos e magoar-se
seriamente, ficando vulnerável no chão,
impossibilitada de voar para junto da sua família. Tinha de procurar uma
clareira suficientemente grande para que pudesse aterrar com segurança.
Ao
fim de mais duas ou três voltas completamente concentrada na sua busca,
encontrou o que queria. Ao longe, a Este, podia
ver uma abertura nas árvores, dirigiu-se para lá, sempre voando alto, de forma
a não ser detectada antes de estar pronta, alarmando os animais e assim perdendo
toda a esperança de caçar algo para levar de volta.
Em
Indahar notava-se que a Primavera esta a chegar, a neve já estava a derreter e
os rios estavam a engrossar os seus caudais devido à água proveniente do
degelo. As árvores que haviam perdido as suas folhas no Outono anterior já
começavam a rebentar. A floresta estava de novo a acordar para a vida. O som de
pássaros e animais enchia a floresta. Era a altura perfeita para caçar, uma vez
que os primeiros animais migratórios já haviam chegado e estavam cansados da
longa viagem que tinham feito, fazendo com que eles fossem presas fáceis para
Aluminir. Agora só os tinha de localizar e guiar para a clareira. O problema
que ela via com aquela clareira era uma estrada que a atravessava, mas ela não
tinha outra hipótese, pois não havia outra perto. Tinha de se arriscar, mas
antes de o fazer, tinha de se assegurar que o caminho estava livre.
Voou
em círculos sobre a clareira durante algum tempo para estudar a estrada e não
aparecia ninguém, não devia ser muito usada e grande parte dela estava coberta
pelas árvores. Estando satisfeita com as suas conclusões, passou a procurar
caça. Sempre voando em círculos, encontrou finalmente o que queria num riacho
ali perto, uma manada de veados estava a beber
água e descansava da longa viagem, eram mais pequenos que as presas que ela geralmente
caçava em Ahelanae, mas para aguentar mais uns tempos serviam perfeitamente.
Agora só tinha de os levar para a clareira.
Continua
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