Bicho Cidrão – Elusivo Parte 3/5 - Vitor Frazão



- Quim?! Quim?! – chamou o jovem Obliterador, quando uma nota de alta frequência indicou que algo acontecera ao comunicador do camarada.
- Puto, ele vai para ti! Já estás em posição? – quis saber Costa, completamente indiferente ao destino do subordinado.
- Quase – disse, distraído, incapaz de ignorar a possibilidade de Joaquim ter acabado de tornar-se a primeira vítima confirmada do bicho Cidrão. – De onde vem ele?
A resposta, se a houve, foi abafada por um urro tão intenso que o jovem guerreiro sentiu vertigens, vendo o mundo alongar-se, precisando de todas as forças para evitar largar a espingarda e deixar-se cair de joelhos, com as mãos nos ouvidos. Os berros eram mais que os protestos furiosos e atormentados de um animal ferido, pareciam capazes de baralhar a realidade, atacando os sentidos.
Incapaz de entender de onde vinha o grito, pois parecia nascer de todas as direcções, incluindo de dentro de si, Figueiredo olhou freneticamente em redor à medida que subia. Acabou por ter sorte, conseguindo ver de soslaio, por uma fracção de segundo, algo grande e vagamente humanóide a correr sobre as quatro patas, por entre os arbustos, antes de se apoiar no tronco de um pinheiros para saltar, mergulhando numas silvas. Apesar da desorientação provocada pelo urro, quando disparou, a sua mão foi firme e a pontaria certeira. Ou tê-lo-ia sido, caso o bicho não se movesse no exacto momento do disparo. Joaquim tinha razão. Ele era muito rápido. Tanto que chegava a ser assustador. Não fosse pelo tamanho, acreditaria estar a caçar um maruxinho. O que seria aquela coisa?
Outra bala foi colocada na câmara de imediato, com um eficaz e rápido movimento da patilha, apenas para permanecer dormente, pois o alvo desaparecera sem deixar rasto, de um momento para o outro. Sem berro, sem passos, sem sequer o estalar discreto dos ramos, o montado cai num silêncio tumula que deixou o jovem caçador nervoso e mais atento do que nunca. Estaria o bicho escondido à espera que baixasse a guarda para lhe saltar à garganta? Preocupado, disparou um tiro para o último local onde localizara o Oculto, na esperança de provocar alguma reação, conseguindo apenas alvejar um arbusto.
Vendo a ridículo a que se estava sujeitar, agindo como um maçarico assustado na primeira missão, respirou fundo, procurando acalmar-se. Afinal, não existia motivo para alarme. Estava no topo da elevação, o bicho só podia passar por ele para fugir e caso descesse os outros apanhá-lo-iam. Já estivera em situações piores. A única coisa a fazer era manter-se calmo e atento.
Apesar da racionalização, assim que ouviu um movimento brusco disparou, mal fazendo pontaria. Novo urro ecoou, praticamente rebentando-lhe os tímpanos. Em sofrimento e desorientado, nem sequer pensou duas vezes ao sentir algo a passar perto de si, girando sobre os calcanhares de arma em punho. Esse primeiro passo precipitado foi suficiente para se aperceber que debaixo da sola já não havia rocha, apenas escuridão e vazio, enquanto a outra perna escorregava para o desfiladeiro.







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