A Senhora dos Dragões - Inverno - Parte 5/5 - Liliana Novais
Mergulhou
em direcção ao riacho fechando as asas para aumentar a sua velocidade, um dos
veados que estava de guarda deu o alerta e começaram todos a correr.
“Estão
a ir exactamente para onde eu os quero”- pensou ela com satisfação.
Eles
corriam cegamente enquanto ela planava por cima da copa das árvores guiando-os.
Mas, mesmo assim, ela era mais rápida que eles e passava-lhes à frente, sempre
que isso acontecia ela voltava para a cauda da manada, dando uma cambalhota no
ar. Era desta vez, com tantas presas, iria de certeza conseguir caçar algo para
levar para casa assim que chegassem à clareira. Estavam quase lá e ela
preparou-se para o golpe final. Assim que chegaram à clareira, ela esticou as
suas patas ergueu as asas um pouco, como que se estivesse a aterrar, e investiu
sobre uma das corsas que tinha escolhido, fazendo com que as suas garras se
cravassem nela e a matassem instantaneamente. A que ela tinha escolhido era
grande o suficiente para alimentar as suas crias e assim salvá-las. Quando
aterrou as suas patas dianteiras despedaçaram a jugular do animal e o seu
pescoço com o impacto. O resto da manada partira, o que não lhe interessava uma
vez que ela já tinha o que pretendia daquele lugar. Ela ergueu-se orgulhosa do
seu feito, já tinha como alimentar as suas adoradas crias. Agora apenas teria
de esperar que o animal sangrasse completamente antes de o levar.
Em
Ahelanae, não tinha essa preocupação, mas ali era essencial, pois se uma gota
de sangue caísse em cima de um ser humano, que por acaso passasse. Ela poderia
ser descoberta no seu caminho para a Porta Branca,
e tudo estaria perdido.
Continuava
faminta, mas não se iria alimentar daquela carcaça, esta era para as suas
crias. Então decidiu lamber o sangue do pescoço da corça morta, não era muito
mas chegava para aplacar um pouco a fome que sentia.
Enquanto
comia sentiu um odor de putrefação, este não vinha da presa que acabara de
chacinar. Era sim de uma morte antiga, com algumas horas, pelo menos. Procurou
a origem do cheiro, tinha de se apressar, uma vez que este era demasiado
apelativo para abutres e os outros animais necrófagos,
e ela não gostava particularmente de se encontrar com eles. Avançou em direção
ao cheiro proveniente da floresta, segui-o até encontrar o corpo de uma mulher
estendida, esta havia sido trespassada por uma flecha, estava abraçada a um
embrulho como se o estivesse a proteger. Gentil e respeitosamente, afastou o
corpo da mulher com o nariz. Soprou de modo a conseguir abrir o cobertor e para
seu espanto encontrava-se um bebé no seu interior. Estaria vivo ou morto?
Com
o auxílio dos seus poderes mágicos, conseguiu sentir o coração deste. Foi muito
difícil encontrar qualquer batimento, pois este era muito fraco, estava quase a
morrer. Ao olhar para aquele bebé pensou em quão indefesas as crias podem ser.
O seu coração encheu-se de carinho e pena por aquele bebé moribundo, e uma
lágrima correu dos seus olhos.
«Tenho
de salvar esta cria de humano.» Pensou ela, deixando que a lágrima escorresse
para a cabeça de modo a sarar o seu corpo frágil.
O
seu espírito estava muito fraco e abandonava o seu corpo. Portanto, Aluminir
deitou-se ao seu lado e tentou voltar a encontrar o batimento cardíaco do bebé.
Demorou mais tempo do que anteriormente a encontrá-lo. Quando finalmente o
sentiu, elevou o seu espirito, fragmentando-o. O pedaço mais pequeno pairava
sobre o bebé, acabando por se juntar à alma deste. Um clarão de luz envolveu-os
aquando da junção, e assim tudo terminara. Sentia-se satisfeita com a sua ação, mas essa sensação não durou muito tempo, ela não
podia abandonar a bebé naquele lugar. Nunca antes um dragão prateado havia
partilhado a sua força de vida com um ser humano, e o resultado era
imprevisível. Ela teria de levar o bebé consigo, uma menina de meses de idade,
era sua responsabilidade tomar conta dela e a guiar para usar os poderes, que
eventualmente desenvolvesse, para o bem. Partiu de regresso à floresta mágica,
levando a bebé e a sua presa.
FIM
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1 comentários:
Não há muito tempo, dei uma opinião sobre um outro conto de Liliana Novais (http://fantasy-and-co.blogspot.pt/2013/02/o-primeiro-voo-liliana-novais.html), intitulado 'O Primeiro Voo'. Na altura considerei que, embora os personagens tivessem sido bem apresentados, a história estava incompleta. Parvamente, admito, comecei por ler essa história mais recente em vez de esta que a antecede, senão cronologicamente, pelo menos em termos de data de publicação.
Esta história ajudou-me a mudar um pouco a minha opinião em relação à outra, embora mantenha alguns dos reparos feitos como a ausência de um enredo.
Sobre 'A Senhora dos Dragões' em particular gostei da história e da forma como esta é desenvolvida (Aluminir cresce de capítulo para capítulo, mas tem potencial para crescer mais). O que gostei menos foi de uma melhor revisão de texto. Frases longas demais, com orações mal separadas por vírgulas, noutras vírgulas a mais, vírgulas menos. Há melhorias no que toca ao conteúdo, mas a forma não pode ficar para trás.
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