Paixão 2/4 - Liliana Novais

- Tobi, rapaz acorda! – Gritou Orak, o seu melhor amigo, dando-lhe um cachaço. 


- O que foi? – Perguntou ainda distraído. 



- Em que raios tanto pensas? Isto de teres um trabalho na casa do grande senhor dá cabo de ti. 

Tobi era um privilegiado em relação aos outros, a maioria dos Eraks tinha trabalhos pesados, ou nas minas ou nos campos. Quem diga que os magos são frágeis e de corpos delicados está enganado. Para conseguirem suportar os mais complicados feitiços eles têm de estar em excelente forma física. O que os torna também úteis para os Eluar. Os quais os exploram ao máximo. Orak era um desses casos. Trabalhava nas minas de ouro de Luduan, a norte. 

- Não penso em nada. – Respondeu Tobi defensivamente. 

- Pois, eu conheço-te desde o berço e sei que se passa algo. Mas se não quiseres falar não te obrigo. Quando te sentires capaz falas. Agora voltando ao assunto principal. O que é que achas? 

- Acerca do quê? 

- Estou aqui a falar há duas horas para as paredes por acaso? – Resmungou batendo com os punhos na mesa, fazendo com que a sala toda se silenciasse e as pessoas ficassem a olhar espantadas. 

- Desculpa. 

- Eu vou resumir então. O Alber faleceu esta tarde numa desabamento na minha, não o conseguimos salvar sem pudermos usar magia… 

- Eu já sei onde queres chegar Orak, mas não há nada que eu possa fazer. O Lord é tal como todos os outros Eluar, acham-nos úteis mas não aceitam a magia. Já não te chega termos de aprender às escondidas. Se fosse pela sua vontade nenhum de nós aprendia a controlar os seus poderes. E sabes como isso é perigoso. 

- Eu sei. Mas temos de fazer alguma coisa. Ficar de braços abertos é que não. Já se passaram demasiados anos desde o final da guerra sem que nada mudasse. Continuamos a pagar pelos pecados dos nossos antepassados. 

Passara um século desde o final da Grande Guerra e que o Rei Olam, o grande mágico fora deposto. Este fora assassinado no seu próprio leito por um traidor, o seu amigo Toram, um Eluar. A Guerra que durara dez anos chegava assim ao seu fim. Desgostosos com a morte do seu soberano e cansados de tanta luta os Erak, que estavam em minoria, renderam-se temendo pelos seus filhos que não se podiam defender. Uma vez que nessa mesma noite massacres ocorreram em todo o país. E têm sido tratados como escravos. Mas a esperança de um dia saírem dessa condição não morrera, e continuavam a ensinar a arte aos seus filhos à rebeldia. 

Tobi despediu-se do seu amigo e regressou a casa. Estava na hora de levar a sua irmã Oriana às aulas na casa do oráculo, que ficava no meio da floresta, longe dos olhares dos Eluar que o temiam, dizia-se que ele tinha mais de cento e cinquenta anos. Ela era a aluna mais promissora. Tobi ficava encantado a vê-la com apenas dez anos e a dominar com facilidade as bolas de fogo e as poções. Brevemente conseguiria curar feridas e outras coisas mais complicadas, que apenas jovens de catorze ou quinze anos conseguiam. As aulas eram bastante activas. 

Na pequena clareira, os jovens eram preparados para controlar os seus poderes, e secretamente treinarem para uma revolução que ainda ninguém sabia que se aproximava a passos largos. A magia de uma criança Erak era descontrolada, dependente das suas emoções. Facilmente pegaria fogo a uma casa ou mesmo causaria uma enorme tempestade. O oráculo colocava as crianças numa clareira e fazia com que se irritassem ou se chateassem para desencadear os seus poderes. Cada uma delas possuía uma especial ligação a um elemento da natureza. Tobi relembrava o seu tempo de estudante e sorria, nada mudara e a magia continuava forte no interior de todos os Erak, isso nunca lhes conseguiriam tirar. 

Numa árvore oca junto ao lago Erdar, Athena aguardava ansiosamente por ele. Tinha tanto para lhe contar. O seu coração batia descompassado e questionava-se se Tobi sentia o mesmo que ela, ou se apenas a veria como a amiga que fora em criança. Ela viu-o a surgir no horizonte e correu no seu encontro, abraçaram-se com intensidade. Choravam por não terem conseguido fazê-lo anteriormente. Apenas com aquele toque, ambos sabiam que a amizade tinha crescido para algo mais e que aquele vazio que haviam sentido todos aqueles anos estava preenchido. Tobi deixou-se levar pelas suas emoções e em volta dos dois todo o prado floriu. E um manto de cor os rodeava. 

- E agora o que fazemos? – Perguntou Athena quebrando o silêncio que os rodeava. 

- Não sei. – Respondeu. – O que sentimos é proibido. Não podemos estar juntos. 

- Aqui não, podemos partir deixar tudo para sermos felizes. Podemos abandonar este país. – Athena sugeriu. 

- Mas eu não posso partir. Toda a minha família depende de mim para sobreviver. Que seria deles se partisse? 

- Tens razão mas o que vai ser de nós se ficarmos cá? – Ela perguntou desesperada. 

- Temos de lutar pelo nosso amor. Fazê-los ver que o que estamos a fazer não é nada de errado. 

Eles voltaram a beijar-se, nesse preciso momento o Lord Huntington surge por entre a folhagem e olha escandalizado para a sua filha. 

- Mas o que se passa aqui! – Gritou, vermelho de raiva. – Tire essas mãos nojentas da minha filha. Uma pessoa trata-o bem e é assim que me retribui Tobi? Vai pagar pelo que fez. 

- Mas pai, eu amo-o. Sempre o amei. 

- Tu não sabes o que é o amor! O que ele fez foi enfeitiçar-te. Vais pagar meu malandro! – Gritou avançando em direcção a Tobi com a intenção de lhe bater.~ 

- Foge. – Disse-lhe Athena. – Salva-te. 

- E tu? – Perguntou preocupado. 

- Ninguém me vai fazer mal. 

- Eu amo-te. – Disse-lhe, beijando-a. Tobi correu o mais depressa que conseguiu, deixando a sua amada para trás. Chorava de raiva pelo que tinha feito e como tinha perdido o controlo. Agora era um fugitivo.

Parte 4:

Parte 3:
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