Paixão 3/4 - Liliana Novais

A cada passo que dava, Tobi sentia-se cada vez pior, não era a sua intensão deixar Athena para trás, mas não havia nada que pudesse fazer. Tinha de arranjar onde se esconder para organizar as ideias. Não podia regressar a casa, aí seria o primeiro lugar onde o procurariam. 

O que é que eu fiz? Pensou Tobi. A minha pobre mãe… O que é que ela vai pensar de mim? Deixei-a desamparada. 

Percorreu a floresta cegamente. Exausto, caiu de joelhos e verificou que se encontrava em frente da cabana do oráculo. Este aguardava-o em frente desta, sorrindo. 

- Anda jovem Tobi. – Disse-lhe. 

- Não me devia proteger. Só lhe vai trazer problemas. – Explicou-lhe Tobi ofegante. 

- Não tenhas medo. Ninguém me vai fazer mal. – Acalmou-o colocando-lhe a mão no ombro. – Entra e descansa. 

Tobi receava trazer problemas para o Oráculo mas não tinha outro lugar para onde ir. Sentou-se à mesa e rapidamente uma malga de caldo estava à sua frente. 

- Come alguma coisa. Vai-te fazer bem. Tiveste uma noite agitada, não foi? 

- Sim, foi um pouco. Não sei o que fazer. 

- Tem calma. Uma boa noite de descanso sempre foi boa conselheira. Eu também o sou. Sei o que te aflige. Tens medo pela tua mãe e pelo teu amor. Pensas que lhe podem fazer mal. 

- Mas como é que?… 

- Eu sou capaz de muitas coisas, vivi muitas vidas. É a minha maldição. Domino artes que poucos conseguem. 

- O que é que é que eu posso fazer? Sou um fugitivo. 

- Meu jovem, és um dos eraks mais poderosos que conheço. Sempre tiveste medo de usar o teu poder, de o explorar… Agora é a altura certa para o fazeres. 

- Mas o senhor sabe tão bem quanto eu que não podemos utilizar a nossa magia contra nenhum ser vivo, nem mesmo se for para nos salvarmos. 

- Nós sabemos, mas eles não. Esse é o nosso segredo melhor guardado. Podes bem simular tudo, só tens de assustar quem tem de ser assustado. 

- Eu sou apenas um homem contra o mundo. 

- Um homem pode mudar o mundo. Pensa nisso enquanto descansas. 

*** 

Tobi foi acordado por alguém que batia insistentemente à porta. O seu coração acelerou. Já o tinham descoberto. Preparava-se para se defender com um pau quando o oráculo surgiu para atender. Ele reconheceu imediatamente a voz da sua mãe. Esta estava preocupada com ele. 

- Mãe, como é que me descobriu aqui? 

- Eu sempre soube que virias para aqui. Parece que te esqueces do meu poder. 

- Sim, eu sei mãe. Não consigo ver o que fazer de seguida. – desabafou, tentando saber mais acerca do que a visão da sua mãe mostava do seu futuro. 

- Tu sabes que as coisas que vejo não surgem quando eu quero nem sobre o que eu quero. O teu futuro é-me vedado a partir deste momento. Não te posso ajudar nesse sentido. Apenas o posso fazer enquanto mãe. 

- Sabes alguma coisa acerca da Athena? 

- Apenas sei que o pai a tem fechada no quarto e a vai mandar novamente para longe. 

Tobi sentiu-se desesperado. Tinha de fazer algo, se ele a deixasse partir nunca mais a veria. A sua mãe garantiu-lhe que arranjaria quem o auxiliasse a recuperar a sua amada. A notícia dos acontecimentos espalhou-se rapidamente, Tobi era agora procurado pela guarda. Dizia-se que havia desonrado a jovem Athena. A população insurgia-se contra todos os eraks. Grupos de encapuçados entravam pelo gueto batendo em todos os que viam, como se todos eles fossem os culpados pelo erro de um. Ao final daquele dia, o sangue voltava a correr pelas ruas como havia sucedido há muito tempo atrás.


Parte 4:
Parte 2: 


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