Inspiração, procura-se! 1/4 - Pedro Pereira
João amachucou mais uma folha de papel e atirou-a em direção ao caixote do lixo do outro lado do escritório. Esta fez ricochete na borda e caiu ao chão, juntando-se ao amontoado de folhas que povoavam a área.
Na manhã daquele dia recebera a notícia de que o seu último romance fora rejeitado por mais uma editora. Algo que João tinha dificuldade em entender. Afinal, quem é que não gostaria de ler um romance sobre homens das cavernas armados com mocas que montavam mamutes e que gostavam de lutas de boxe com dinossauros? Ou mesmo o seu trabalho anterior, uma história sangrenta sobre um grupo de suínos que se exaltou durante um concerto de rock, acabando por espalhar o pânico por entre a multidão, culminando no cancelamento do espetáculo? Não, João não compreendia o porquê de tantas rejeições. Tanto quanto era capaz de ver, as suas ideias eram brilhantes e arrojadas.
Inclinou-se sobre a pequena secretária e recomeçou a escrevinhar. A editora dissera-lhe que estava à procura de algo épico e era isso que João lhe iria dar. Porém, a única coisa realmente épica naquele momento era a sua bebedeira. Era a quarta cerveja que bebia para afogar as mágoas, passando bem o seu limite de duas. A falta de sorte de João com as editoras só era equiparável à sua fraca resistência ao álcool, que desde sempre fora motivo de chacota entre amigos. Contudo tinha uma vantagem, em noites de bebedeira, João saía muito barato…
Após alguns gatafunhos indecifráveis escritos à pressa no caderno, João arrancou a folha e atirou-a em direção ao caixote, acertando em cheio na abertura. Pelo menos a sua pontaria estava a melhorar.
Sonolento e frustrado, deixou cair a cabeça sobre o tampo da secretária e entregou-se ao sono. Estava completamente esgotado e a inspiração não estava definitivamente do seu lado…
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2 comentários:
Lá ideias são elas, "brilhantes e arrojadas" é que já não sei. lol
Esperar para ver a evolução...
Chama a atenção pela temática: os pedregulhos no caminho de alguém que ambiciona ser autor.
Gostei porque me identifiquei. Um pouquinho só mas o suficiente para não passar à frente desta história, como já aconteceu com outros contos aqui publicados.
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