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Os Kravyads
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Vitor Frazão
Os Kravyads 3/7 – Rakshasas – Vitor Frazão
- Quê?... Que raio de brincadeira é esta? – atirou Luís cada vez mais nervoso, tentando afastar as mãos da mulher. – Largue-me.
- Parece um palonço, mas é vivaço. Isso é bom… – afirmou Kunti, animada, mantendo um aperto firme no pulso direito e na parte detrás do pescoço do rapaz.
O olhar faminto da indiana aumentou o medo de Luís, levando-o a entrar em pânico. Assustado, o jovem estudante estrebuchou com todas a energia que tinha e acabou por conseguir libertar-se, sentindo cortes no pulso e pescoço ao fazê-lo, aparentemente provocados pelas unhas da mãe de Ana. Demasiado alarmado para reflectir na desproporcionalidade das dores perante golpes tão pequeno, limitou-se a girar sobre os calcanhares, para fugir daquela casa de doidos, só que, ao tentar rodar a maçaneta perdeu a sensibilidade na mão e começou a ver tudo desfocado. Num piscar de olhos, o corpo deixou de obedecer-lhe e as pernas cederam, levando-o a cair para trás, sendo apanhado e aparado pela indiana, antes que pudesse tombar no chão.
“Drogaram-me!” pensou, em pânico, concebendo, numa fracção de segundo, dezenas de cenários, cada um pior que o anterior. Aterrorizado tentou gritar, todavia, por mais que se esforçasse, o som não saiu.
- Não te preocupes, rapaz, não te poderás mexer, mas sentirás tudo – garantiu Kunti, rasgando um sorriso sádico. Considerando que, uma vez paralisada a vítima, já não havia necessidade de manter a ilusão que ocultava o cheiro a carne podre que todos os rakshasas emitiam, a mãe de Anath removeu o sortilégio, com um simples pensamento.
Desejando assegurar que o jovem se mantinha vivo, mas imobilizado, a velha rakshasi decidiu aumentar a dosagem, para tal, enfiou uma das unhas, com cerca de dois centímetros, debaixo do olho direito de Luís, injectando-lhe as toxinas directamente na corrente sanguínea.
- Importas-te de mudar para algo mais próprio? – criticou Kunti, em hindu, pegando no jovem ao colo sem esforço aparente. – O Cegueta deve estar a chegar e tu nesses preparos.
- Mãe… – queixou-se Anath, na mesma língua, farta de ter sempre a progenitora a implicar com ela.
- O que foi, custa-te alguma coisa? Porque é que tens tanta vergonha da tua herança? Já te esqueceste que?…
- Pronto está bem – interrompeu a filha, sem paciência e considerando que mais valia ceder do que aturar outro sermão. Sem mexer um músculo, Anath mudou de apresentação. Os seus olhos tornaram-se castanhos, os longos cabelos louros passaram a negros e o tom de pele escureceu, para se assemelhar ao da mãe. – Satisfeita?
- Muito melhor – sentenciou a progenitora, que odiava quando a filha saía à rua com uma aparência tão diferente da dos pais. Apesar de, como rakshasi, nome dado a uma rakshasa fêmea, puder assumir diversas formas e criar todo o tipo de ilusões, Kunti fazia questão que a sua aparência humana coincidisse com o aspecto dos nativos da região onde nascera, como sinal de respeito para com a sua linhagem, e exigia o mesmo da filha.
- “Melhor” não, apenas mais vulgar – retaliou Anath, contemplando o rosto por uns segundos, no pequeno espelho que tirara da mala, antes de o fechar repentinamente, irritada e insatisfeita como o que via. – Já não basta vivermos nesta pasmaceira, também temos de parecer tão… banais?
Na verdade, nenhum humano seria capaz de olhar para ela e considerá-la banal, muito pelo contrário, a mudança acrescentara à anterior beleza e perfeição sobrenatural um toque de exotismo. Contudo, após usar aquela aparência durante duzentos e trinta anos, estava farta dela e mal podia esperar para utilizar outras. Contrariamente aos pais, que pareciam satisfeitos com a rotina, a jovem queria o caos de novas emoções e experiências.
- Deixa-te de coisas – cuspiu Kunti, virando-lhe as costas, com o humano nos braços, tão desejosa de ouvir as queixas da filha, quanto ela as suas. – Quando o Cegueta chegar, trá-lo à cozinha. - Sim, mãe – anuiu a rakshasi mais nova, por entre um suspiro de tédio, começando a experimentar outras etnias e feições assim que a mãe entrou na cozinha.
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