Inspiração, procura-se! 2/4 - Pedro Pereira
João sentia-se como se lhe tivessem largado um piano de cauda em cima. Acordou com uma dor de cabeça cuja única palavra que lhe surgiu para a descrever era épica. Estava decidido, não voltaria a tocar em álcool nos próximos tempos. A luminosidade magoava-lhe os olhos, pelo que demorou a aperceber-se de onde se encontrava.
– Mas que raio?!
João deu por si deitado no chão de um extenso olival. Sentou-se e perscrutou o local. Talvez desse com alguma pista que lhe explicasse como raio é que ali tinha ido parar.
– Muita pinga ontem à noite? – questionou uma voz rude e animada.
João virou-se para ver quem falava. Para seu espanto, atrás de si estava um sujeito gorducho, careca e quase nu, não fosse pela espécie de saia branca que lhe cobria as partes privadas… O rosto rosado e a garrafa de vinho na mão não deixavam dúvidas, o tipo estava bem bêbado.
– O quê? Onde é que eu estou?
– Ena! Isso bateu mesmo forte!
Dando saltinhos anedóticos, o gorducho aproximou-se de João. O tipo tresandava a vinho…
– Onde estou? – repetiu João.
– Tu? Tu estás é com uma grande ressaca, meu! Toma, bebe isto que já passa – disse o sujeito soluçando enquanto lhe passava a garrafa.
– Não, obrigado.
Num abrir e fechar de olhos, o gorducho agarrou João pela cabeça e enfiou-lhe o gargalo da garrafa na boca, obrigando-o a beber o conteúdo.
João empurrou o sujeito e libertou-se do aperto, acabando por cuspir o vinho.
– Que desperdício de uma bela pomada! Fazes ideia de quanto tempo deixei este menino a envelhecer?!
– Mas você é louco?!
– Já vi que não sabes apreciar uma boa bebida!
Farto daquela situação e não querendo arranjar conflitos com o bêbado, João afastou-se e começou a deambular por entre as oliveiras centenárias.
– Se eu fosse a ti ficava sossegadinho, meu. O Apollo não gosta que andem por aí a bisbilhotar.
Quase que a deitar fumo pelas orelhas, João virou-se para o sujeito que insistia em segui-lo. O tipo tinha que lhe dar respostas e já!
– Apollo? Mas afinal que sítio é este, quem é você, e como raio é que aqui vim parar?! – Dionísio ao seu dispor. Bem-vindo ao Monte Parnaso – respondeu o gorducho com um sorriso matreiro enquanto fazia uma vénia desajeitada.
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2 comentários:
Interessante... Vamos ver onde queres ir com isto.
Será um sonho? Ou um pesadelo? Ou nenhum dos dois?
Continuo a gostar mas a história evoluiu de uma forma inesperada... Vamos ver.
Penso que, a nível de estrutura, um ou outro pormenor na pontuação teria que ser revisto.
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