Se queremos algo bem feito… - Vitor Frazão
- Idiota! Isto não é o Arcana! –
queixou-se Desdémona, arremessando o livro para cima da mesa como se a quisesse
partir ao meio. – Mandei-te roubar o Arcana Ansoliano do pardieiro infestado de
wyverns que a megera da Kitia tem a
ousadia de chamar “casa” e tu, meu palhaço, conseguiste trazer-me aquele que
deve ser o único outro livro que a badocha da boo hag tinha no meio das quinquilharias. Como é que podes ser
assim tão incompetente?!
O toyol, um espírito com o aspecto de uma bolachuda criança de três
anos, com olhos enevoados e pele cinzenta vincada com veias azuis, limitou-se a
encolher os ombros, rasgando um sorriso aparvalhado, com o indicador direito
pendurado no canto do lábio. A necromante teve de morder a língua para se
coibir de lhe atirar à cabeça o jarro de barro onde se encontrava encerrado o
feto humano utilizado para o invocar.
- De todas as almas penadas ao meu
serviço é suposto seres o mais inteligente! Como é que confundiste o Arcana Ansoliano
com este… este… O que é que diz ali? “Vollüspa – Antologia de Contos de
Literatura Fantástica”? O que raio é uma Vollüspa, não me sabes dizer? Aposto
que não tem um único sortilégio! Eu devia… devia… dev… – as palavras da
necromante perderam propósito à medida que esta abriu o livro, aleatoriamente, em
busca de mais “munições” para vilipendiar o servo e se deixou atrair pelo texto.
Aguçada a curiosidade pelo primeiro parágrafo lido, folheou até encontrar o
início do conto, deixando-se arrastar pela estória.
- Onailosna anacra? – perguntou o toyol, minutos depois.
- O quê? Pois, o Arcana… –
lembrou-se, confusa e irritada pela interrupção da leitura, dentro da qual se
perdera. – Esquece lá, prefiro este.
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1 comentários:
está muito engraçado. na minha opinião merecia ter sido publicado naquela rubrica das vinhetas publicitárias.
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