Filho de peixe sabe nadar 1/4 - Carlos Silva
- Quero-a – disse Vento que Anda.
- Para quê, senhor? Podeis ter as mais belas de entre os
elfos, para quê esta humana?
- Não sei, agrada-me os seus traços toscos no geral. Os
olhos cor de carvalho e os lábios sanguíneos em particular. Nunca amei uma mulher
humana, dizem que gritam mais que as nossas. Diz-me tu, como era a tua mulher?
- Senhor, quando me levaram para o vosso reino era
demasiado jovem para poder sentir o calor do leito conjugal
- És um bom animal de estimação, Ruão. Lembra-me de te
arranjar uma companheira quando voltarmos. Agora vai. – Agitou a mão com
desprezo. – Prepara-me um banho, para quando voltar.
Alheia à presença dos dois elfos ocultos por artes da raça,
a rainha Guinei penteava o cabelo à janela, espreitando pelo arvoredo a fim de
verificar o marido que tardava em voltar. Já partira há dois dias para a caça e
ainda não havia novas dos seus feitos, nem sequer um avejante-correio. Ter-se-ia
metido o seu homem em alguma peleja? Seria a chuva que caía nas terras altas
que o atrasavam? Pousou a escova no parapeito e suspirou. O mais provável seria
ainda não se ter cansado da companhia dos cães, amigos, criados e cerveja. Guinei
sentiu uma presença atrás de si que tomou pela sua aia, dizendo-lhe:
- Traz-me o bardo à minha presença, preciso de me distrair.
Em vez do assentir submisso na voz jovem da sua aia, a
resposta fez-se ouvir num tom grave, mas alegre.
- O seu marido não lhe é entretém suficiente, meu amor?
A rainha rejubilou ao reconhecer a voz do rei Sigmundo, seu
marido. Voltou-se e deu com o enorme colosso que era o rei daquelas terras,
ainda envergando o capote molhado da chuva que caía nas montanhas. Antes que
lhe pudesse dar as boas-vindas, foi atirada para a cama de dossel, onde esperou
que Sigmundo se livrasse das peles encharcadas e fedorentas. Guinei levantou a
cabeça para espreitar o pénis erecto apontado na sua direcção, levantando as
saias até à barriga. Sigmundo não se fez rogado e investiu sobre a sua rainha,
cobrindo-a de beijos e carícias famintas. Num gesto, puxou pela faca e cortou o
corpete, libertando a pele láctea de Guinei que se contorcia de prazer. Quando
ele lhe chupou os mamilos rosáceos não conseguiu prender um guinchinho púdico
de prazer. Num só movimento, virou a mulher ao contrário e chocou-a ao
possuí-la como os animais. Sentiu os espasmos orgásmicos de Sigmundo e a força
com que a agarrava a aligeirar-se. Por fim, o rei deixou-se cair ao lado da
rainha, arfando e rindo. Guinei nunca tinha visto o seu marido a rir-se assim,
nem mesmo quando estava ébrio. De igual modo, nunca tinha reparado nos olhos
verdes de Sigmundo. Podia jurar que eram castanhos como os dela. Debruçou-se sobre
o peito do rei para o observar melhor e logo viu a farta cabeleira encaracolada
a desaparecer, deixando o tronco musculado como o de um rapaz. As próprias
feições abolachadas de que tanto gostava estavam a ficar gradualmente angulosas
e o cabelo a adquirir tons verdes. Quando a transformação acabou, Guinei já não
estava deitada ao lado do seu marido, mas de um elfo que ainda não se parara de
rir.
A rainha pensou em gritar por ajuda, mas deteve-se. Que
seria de si, do país e da coroa se todo o castelo soubesse que havia cometido
adultério? Mordeu um farrapo de vestido, descarregando toda a sua frustração e
lágrimas. Olhou para a faca caída no chão à beira da cama que lhe daria um fim
digno. Porém, afastou as ideias nefastas da sua alma. Que seria do seu marido,
filhos e pátria sem esposa, mãe e rainha? Tinha demasiados compromissos para
satisfazer a sua vontade de apagar o que acontecera naquela tarde.
O elfo fez-lhe uma carícia na cara e segredou-lhe:
- Não chores que ficas feia – disse o elfo, beijando Guinei na fronte. – O
filho que carregarás no ventre pertence-me e eu virei buscá-lo quando ele
nascer. Percebeste?
A rainha acenou, engolindo o orgulho ferido e o elfo
desfez-se em neblina. Resoluta, Guinei vestiu-se e gritou pelo nome do único
homem que a poderia ajudar:
- Hiram! Hiram!
O mago amanita não tardou a surgir na soleira da porta. A
túnica negra própria dos da sua vocação contrastava com a tez pálida, quase
transparente, da sua espécie. Guinei tinha insistido com Sigmundo para que este
acolhesse um mago humano, mas ele dera preferência ao amanita, ao que era mais
experiente. A rainha convidou-o a sentar-se e entre lágrimas e gemidos
informou-o do terrível engodo em que caíra, do qual sentia tanta vergonha. Os
enormes olhos dourados percorreram o corpo da princesa, como que procurando por
algo. Não aguentando a tensão, a rainha jogou-se aos pés do mago.
- Dai-me daquelas poções que secam o ventre e acabai com o
meu sofrimento ainda antes de ele começar.
A mão de cinco dedos ligados por pregas resistentes de pele
pousou sobre a cabeça de Guinei num gesto paternalista.
- Minha rainha, não posso arriscar a perder-vos. Não sei
que dose aplicar para um meio sangue, como o que irá transportar. – A sua
pronúncia era sibilada. – Terá de levar a gravidez até ao fim.
- Oh! – gemeu, deixando-se cair num pranto amargurado. –
Que faço eu com este filho?
- Não temeis, quando a altura chegar, eu próprio me
encarregarei de o matar. Até lá, esconderemos o seu ventre dilatado com manha e
artes mágicas.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
2 comentários:
Rei Artur+Elfos? Uma mistura interessante, não haja dúvida.
Gostei particularmente dos nomes de pronúncia portuguesa. "Ruão", "Sigmundo", é bom para variar dos típicos substantivos anglo-saxónicos.
O inicio, contudo, achei algo confuso, nomeadamente a mudança de perspectiva dos elfos para a rainha. Só no fim do texto é que voltei para trás e percebi finalmente o que se tinha passado.
A escrita é um encanto!
Vou querer seguir.
Tambem me aconteceu o mesmo, nao associei o elfo vigarista ao Vento que Anda
Enviar um comentário